Esclarecendo a Síndrome da Morte no Berço

A morte repentina e inesperada de lactentes é um evento raro, mas quando acontece, é sempre trágico. Por tratar-se de crianças previamente hígidas, muita indignação e culpa em relação às circunstâncias do óbito cercam os pais ou cuidadores destas crianças.

O que é a síndrome da morte no berço?
Cientificamente chamada de Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL), a seguinte definição foi elaborada após vários encontros de especialistas da área e amplas e fervorosas discussões: a morte súbita de uma criança menor de 1 ano de idade que permanece inexplicada após minuciosa investigação, incluindo-se revisão da história clínica e circunstâncias da morte, além de autópsia completa e testes auxiliares.

Nos países desenvolvidos a Síndrome da Morte Súbita do Lactente é a primeira causa de mortalidade infantil pós-neonatal, sendo que nos Estados Unidos ocorrem 56/100.000 óbitos ao ano. No Brasil os casos relatados são em menor freqüência se comparados aos relatados nos EUA e Europa, provavelmente devido às dificuldades de se estabelecer um diagnóstico de certeza.

A Síndrome da Morte Súbita do Lactente predomina no sexo masculino entre descendentes de afro-americanos e indígenas e ocorre principalmente no inverno. A idade mais acometida é entre 2 e 4 meses de idade. Crianças pequenas para idade gestacional ou com baixo peso ao nascimento ou ganho pondero-estatural não adequado estão entre as de risco para Síndrome da Morte Súbita do Lactente.

Existe algum tipo de prevenção para esta síndrome?
Não se trata exatamente de prevenção, mas a Academia Americana de Pediatria estabeleceu em 2005 algumas recomendações para a diminuição do risco da Síndrome da Morte Súbita do Lactente, baseado em avaliações de campanhas preventivas veiculadas nos Estados Unidos. São elas:

  1. Lactentes devem dormir na posição supina (barriga para cima), em superfícies firmes.
  2. Cobertores, mantas, travesseiros e pelúcias não devem fazer parte do ambiente de sono da criança.
  3. Não fumar durante a gestação.
  4. A criança deve ter um berço próprio e individual para dormir. Recomenda-se também que este fique no mesmo quarto dos pais nos primeiros meses.
  5. O uso de chupetas está recomendado nos períodos de sono da criança. Para crianças em aleitamento materno, o uso de chupetas pode ser iniciado só a partir de 1 mês de vida, garantindo-se assim que a amamentação esteja assegurada.
  6. Evitar aquecer muito o lactente. A criança não deve estar quente ao toque e o quarto deve estar em temperatura ambiente.
  7. Continuar as campanhas de esclarecimento sobre a Síndrome da Morte Súbita do Lactente.

O aleitamento materno, além de proporcionar inúmeras vantagens para o binômio mãe-filho, é uma prática saudável que deve ser encorajada, pois protege contra várias infecções além de parecer ser fator protetor contra a Síndrome da Morte Súbita do Lactente.

Apesar dos esforços concentrados nessa área de pesquisa, a Síndrome da Morte Súbita do Lactente ainda permanece como diagnóstico de exclusão, sendo muitas vezes impossível diferenciar se o mecanismo de morte foi natural, acidental ou provocado mesmo através do exame pós-morten. Nesses casos, a reavaliação das circunstâncias do óbito é fundamental.

As medidas de saúde pública, tais como estimular as gestantes a freqüentar as consultas de pré-natal e posteriormente de puericultura, controle do fumo durante a gestação e após o parto, orientação de hábitos saudáveis de sono para as crianças, incentivo ao aleitamento materno, são extremamente importantes não apenas para prevenir a morte súbita de crianças como para promover a saúde de nossa população.

Leia mais em:
Krous HF, Beckwith JB, Byard RW, et al. Sudden infant death syndrome and unclassified sudden infant deaths: a definitional and diagnostic approach. Pediatrics. 2004;114:234-8

American Academy of Pediatrics Task Force on Sudden Infant Death Syndrome.
The changing concept of sudden infant death syndrome: diagnostic coding shifts, controversies regarding the sleeping environment, and new variables to consider in reducing risk. Pediatrics. 2005;116:1245-55

San Diego Guild for Infant Survival

Relatora: Dra. Andréa de Melo Alexandre Fraga
Médica pediatra assistente da Unidade de Emergência Referenciada do Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Campinas, SP. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Fellow em pesquisa clínica na Universidade da Califórnia, San Diego. Membro do Departamento Científico de Emergências da SPSP – gestão 2007-2009

Texto recebido em 23/03/2008.
Texto divulgado em 26/03/2008.