Uma das muitas frases que as vovós diziam é esta:
Episódio 1: “Bota esse menino no chuveiro pra tomar um banho de água fria. Esse febrão não pode continuar!”
Vamos conversar sobre ela:
Em primeiro lugar, o que é febre?
É um sinal de que algo está acontecendo no organismo e que ele está tentando lidar com a situação. Esse mecanismo de defesa é controlado, necessariamente, pelo centro termorregulador – um verdadeiro termostato que controla a temperatura do corpo e que fica localizado numa região do cérebro chamada hipotálamo.
Isso acontece em resposta a fatores, tanto internos, quanto externos ao organismo, levando à produção de uma série de mediadores bioquímicos. A elevação da temperatura pode ser medida por diversos tipos de termômetro. Para cada método utilizado, há um patamar de referência acima do qual se diz que alguém está com febre. Para simplificar nossa conversa, digamos que acima de 37,8ºC alguém está febril.
Por que tentar baixar a febre se ela é um mecanismo natural de defesa?
A pergunta tem lógica. Há pensamentos diferentes dentre as várias “artes de curar” sobre esse tema. Nós recomendamos baixar a temperatura por uma razão simples: porque a criança vai ficar mais confortável e os pais não ficarão tão ansiosos.
Por que a febre assusta tanto?
Esse medo está muito associado à crise convulsiva relacionada a um episódio febril. Quem vê uma criança convulsionando se impressiona. Calma! Temos boas notícias:
1. Nem toda criança com febre tem convulsão.
2. Ocorre, em geral, em crianças entre 6 meses de vida e 5 anos de idade.
3. A subida muito rápida (e bem menos frequente o contrário – a queda da temperatura em tempo muito curto) pode estar relacionada à convulsão febril e, ao colocar a criança no banho com água fria, a temperatura pode baixar muito rápido.
4. Um banho rápido em água morna pode ajudar a baixar a temperatura. Entretanto, se a criança tiver muitos tremores durante o banho, interrompa essa ação. Não adicionar, também, álcool na água do banho, pois além de ser ineficiente, a criança pode inalar e beber a substância.
5. Em até 40% dos casos de convulsão febril, há um componente familiar (genético), por isso é importante saber se na família alguém já passou por essa experiência.
6. A grande maioria das crises tem curta duração e resolvem-se sozinhas.
7. Pode haver recidivas (outros episódios) em apenas 30% das crianças.
8. A grande maioria não necessita de tratamento algum.
9. Para as crianças com recaídas, vale a pena dar antitérmico logo no início do aparecimento da febre.
10. O antitérmico deve ser indicado com critério pelo pediatra que segue a criança, pois, às vezes, esse tratamento traz mais malefícios que benefícios.
Lembrete: a temperatura corporal pode subir por excesso de agasalho, exposição prolongada ao sol, ficar por muito tempo em ambiente aquecido. Nestes casos (de hipertermia), um banho morno pode ser um alívio.
Se você deseja saber mais sobre esse tema, leia o texto: Febre não é doença, é um sinal
O que fazer quando a criança tem convulsão?
É mais importante que você saiba o que NÃO deve fazer!
1. Não tente abrir à força a boca da criança, ou tentar colocar algo para que ela não morda a língua (você poderá se machucar e ferir a criança).
2. Não deixe a criança em nenhum lugar de onde possa cair ou na posição de barriga para cima (vire-a de lado).
3. Não pegue a criança e saia correndo. Espere um pouco – geralmente as crises duram menos de 5 minutos.
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Relator:
Fernando Manuel Freitas de Oliveira
Membro da Comissão de Ensino e Pesquisa da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo