Campanha Setembro Laranja: combate à obesidade infantil.
A obesidade é considerada hoje um problema de saúde pública, pois sua prevalência tem aumentado em diversos países e em todas as faixas etárias. Crianças têm maior risco de se tornarem adultos obesos e de desenvolverem todas as condições mórbidas associadas à obesidade, incluindo menor expectativa e pior qualidade de vida.
Há muito se procura uma forma de prevenir a obesidade. Hoje, por meio de estudos que envolvem complexos conhecimentos da epigenética, sabemos que a prevenção deve ser iniciada já no pré-natal e inclui a alimentação saudável da mãe.
Após o nascimento o efeito protetor de maior impacto contra obesidade é o aleitamento materno.
Até poucos anos atrás, a boa nutrição era relacionada ao ganho de peso acelerado logo após o nascimento. Era uma meta desejada para crianças prematuras, de baixo peso ao nascimento, e até mesmo para crianças nascidas no período de 37 semanas. Muitas vezes o aleitamento materno era suspenso em prol dessa pretensão, porém, hoje em dia, com o conhecimento do perfil proteico do leite humano, sabemos que proteína adaptada a nossa espécie nos protege da obesidade. O rápido ganho de peso no primeiro ano de vida está associado à obesidade na primeira infância e na vida adulta.
O aleitamento materno protege por toda a vida
O que somos como indivíduos está relacionado com o ambiente que interage com nossa genética. Durante o período intrauterino e na primeira infância, nossos órgãos e sistemas estão se desenvolvendo e se adaptam facilmente a estímulos bons e ruins. Efeitos benéficos de comportamentos saudáveis, como o aleitamento materno, podem nos proteger de efeitos danosos do ambiente por toda a vida. Os conhecimentos atuais comprovam essa proteção.
O leite humano interfere na expressão gênica da criança (através de um mecanismo chamado “metilação”), “silenciando” os genes ruins. Outra forma de proteção é melhorar a maneira que os genes serão lidos e, conforme comprovado recentemente, os micro RNAs existentes no leite influenciam na formação dos órgãos, melhorando o desenvolvimento neuropsicomotor e promovendo redução da obesidade. Esses micro RNAs funcionam como uma comunicação celular entre a mãe e a criança e são encontrados tanto no colostro como no leite maduro, mas em concentrações diferentes. Vale lembrar que o leite de vaca tem o micro RNA da vaca enquanto as fórmulas não possuem micro RNAs.
Outros mecanismos ajudam na ação de prevenção da obesidade, como, por exemplo, pela presença de uma substância chamada leptina, que controla a saciedade, isto é, a criança aprende a parar de comer quando já está satisfeita.
Estamos falando de um “alimento vivo”, que promove crescimento e desenvolvimento saudáveis. Para cada mês de aleitamento materno, associa-se uma redução de 4% no risco de desenvolvimento de excesso de peso.
Há muitos anos temos falado dessas qualidades do leite humano: promoção da saúde, prevenção de doenças ao longo da vida, mas, só com essas novas descobertas, essas qualidades foram formalmente esclarecidas. Esses conhecimentos fortalecem e justificam a premissa que o leite materno é inigualável e que é impossível reproduzir sua composição e o efeito protetor da amamentação em qualquer outro alimento.
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Relatores:
Dra. Marisa Aprile
Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Dr. Rubens Feferbaum
Presidente do Departamento Científico de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo.