Em algumas situações é angustiante, para mães e pais, tomar decisões imediatas a respeito da saúde de um filho e determinar o que é uma urgência e o que é uma ocorrência médica comum. Recomendamos, entretanto, que a família ligue para o pediatra que acompanha a criança antes de se dirigir ao Pronto Socorro (PS). Muitas dúvidas podem ser esclarecidas nessa conversa e, então, certamente surgirá uma decisão conjunta sobre o que fazer. Outras possibilidades à disposição: ligue para a Central de Emergências, no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU): 192; ou no Corpo de Bombeiros Militar: 193.
De qualquer forma, vale lembrar que o PS não é o lugar adequado para o acompanhamento do desenvolvimento da criança quanto ao peso e estatura, nem para o seguimento de doenças crônicas, tampouco para orientações sobre cuidados com recém-nascidos. São eventos para serem acompanhados em Ambulatório, com consulta agendada. Casos leves e comuns também não necessitam de atendimento num PS.
A falta ou o excesso de informações, insegurança e certos medos levam os pais e cuidadores a procurarem, muitas vezes, desnecessariamente, serviços de urgência e emergência. Sofrem mais os pais “marinheiros de primeira viagem”. Com o tempo, desenvolve-se instinto e experiência, fazendo com que a necessidade das idas ao PS seja menos frequente ou impulsiva.
Claro que existem situações em que a ida ao PS se impõe; alguns problemas, sinais e sintomas podem acontecer em crianças e acabam merecendo avaliações e orientações mais detalhadas:
Dificuldade respiratória
- Crianças com coriza e nariz entupido, respirando de boca aberta, podem ser controladas em casa sob a supervisão e orientação médica.
- A criança com dificuldade para respirar mostra o esforço que necessita fazer para “buscar o ar” através de alguns sinais: respiração mais rápida, o pescoço ou a barriga afundam, a pele se retrai entre as costelas, pode ficar de cor “roxa”, parece sufocar, fica prostrada. Essa é uma situação clara de PS.
Febre
- A febre é um sinal muito inespecífico. Isoladamente pode não indicar se tem algum problema e de que tipo, portanto vale esperar aparecer algum outro sintoma além da febre. Na grande maioria dos casos, a febre desaparece dentro das primeiras 72 horas, sem que seja necessária qualquer medida. Vá ao PS em caso de febre quando esta vier acompanhada de sinais de gravidade, como: manchas vermelhas no corpo, dores intensas, sonolência, falta de resposta aos chamados, desmaios, tremores, choro inconsolável, vômitos, convulsões, recusa alimentar severa, prostração/adinamia intensa, alucinações ou alteração do estado mental da criança, ou, ainda, no caso de a febre perdurar mais do que 3 ou 4 dias, especialmente se a temperatura estiver maior ou igual a 39°C.
- , ela deve ser avaliada pelo pediatra ou ser levada ao PS. Em razão da imaturidade do sistema imunológico do lactente pode haver a possibilidade de uma infecção mais preocupante. As crianças com situações especiais, como aquelas portadoras de algum tipo de imunodeficiência, também se enquadram nessa perspectiva.
- Criança apresentando temperatura baixa (menor que 35,0°C) deve ser avaliada pelo pediatra que a acompanha ou em atendimento no PS.
Sangramento
- Quedas, tropeços ou cortes podem acontecer a qualquer momento, mas se o sangramento é acompanhado por lesões profundas da pele, deve-se enfaixar a área, fazer pressão para parar o sangramento e a criança deve ser levada ao PS.
Vômitos e diarreia
- Várias causas podem levar a vômitos e diarreia em crianças. Geralmente, não duram muito. A preocupação é a desidratação. Os principais sinais de alerta para levá-la ao PS: fraldas secas, não urinar por seis horas; não conseguir manter qualquer coisa no estômago, vômitos frequentes, boca e mucosa secas, moleira rebaixada, olhos encovados (fundos), choro sem lágrimas, apatia, sonolência, aparentar não estar bem, vômitos e diarreia com sangue.
- A gastroenterite viral aguda é muito frequente, especialmente nos períodos mais quentes do ano. Ofereça líquidos de maneira fracionada à criança – pouca quantidade por diversas vezes. Não se preocupe com que ela coma – provavelmente ela não vai querer comer. Ofereça alimentos leves e não laxativos, mas apenas na quantidade que a criança aceitar, sem forçar, também de maneira fracionada, em pequenas porções. Normalmente estes quadros são autolimitados e se resolvem em 4 a 7 dias.
Reação alérgica
- Se a criança apresentar manchas vermelhas no corpo, lábios e língua inchados e estiver com dificuldade para respirar, deve ir ao PS imediatamente.
Intoxicações
- Estar atento a possíveis ingestões acidentais de medicamentos, produtos de limpeza, inseticidas ou drogas ilícitas. O tempo entre a ingestão e a possível intervenção é importante. Leve ao PS a caixa do produto ou o recipiente para verificação do médico.
Traumatismo craniano
Crianças batem a cabeça, várias vezes durante a infância. Na imensa maioria das vezes, esses traumas não precisam de avaliação. São motivos para ida ao PS quando ocorrer: perda de consciência, amnésia (perda de memória), convulsão pós-trauma, alteração comportamental, vômitos incoercíveis (que não param), sonolência excessiva e anormal. O período crítico de observação são as primeiras 12 – 24 horas
Convulsões
Exceto naquelas crises de pacientes com epilepsia, em que as famílias já estão orientadas, a ocorrência de uma crise convulsiva é motivo para ir ao PS.
Resumo das orientações anteriores
> Choro forte, constante e inconsolável > Se a criança tem menos de 3 meses e sua temperatura é 37,8°C ou mais > Criança com mais de 3 meses com febre e temperatura de 37,8°C ou mais, acompanhada de sintomas como desmaios, falta de resposta aos chamados, dificuldade para respirar, vômitos ou convulsões > Sangramentos, traumas, fraturas, contusões com cortes profundos, queimaduras > Nível de consciência alterado > Vômitos e diarreia frequentes > Dores que não cessam com analgésicos de rotina > Frequência respiratória elevada; cansaço e falta de ar > Convulsões pela primeira vez ou que durem mais de 2 minutos; > Ingestão ou aspiração de substâncias como produtos de limpeza em geral > Ingestão acidental de medicamentos de uso de adultos |
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Relator
José Gabel
Departamento Científico de Cuidados Domiciliares da SPSP