Dor do crescimento

A chamada “dor do crescimento” foi descrita há quase duzentos anos pelo médico francês Marcel Duchamp, sendo hoje considerada a causa mais comum de dor musculoesquelética na infância.

Também conhecida como “dor noturna benigna da infância” ou “dores recorrentes dos membros inferiores”, trata-se de uma afecção de caráter benigno e transitório, acometendo mais frequentemente crianças entre os 3 e 10 anos de idade.

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Sua causa é ainda desconhecida: algumas tentativas de correlacioná-la com variações anatômicas, fadiga ou fatores psicoemocionais não se mostraram conclusivas. Teorias mais recentes tentam relaciona-la à alteração do limiar da dor ou a uma hipermobilidade articular, porém esses conceitos não são universalmente aceitos.

Sabemos que, apesar da denominação “dor do crescimento”, esta afecção não tem relação com o período de maior velocidade de crescimento.

O quadro clínico é bem típico. A dor surge no final do dia ou à noite, algumas vezes despertando a criança do sono. Tem uma característica intermitente, de intensidade variável sendo pouco precisa, isto é, a criança não localiza um ponto específico de dor. Ela aponta para uma região toda dos membros inferiores, principalmente nas pernas e região posterior dos joelhos; menos frequentemente, a dor aparece nas coxas e raramente é referida nos membros superiores. Sua duração é relativamente curta, não ultrapassando 30 minutos. No dia seguinte, a criança está totalmente normal, sem restrições físicas.

O exame clínico local é normal: não se observa aumento de temperatura local, espasmos musculares ou inchaço.

Como forma de tratamento no momento das crises álgicas, é indicado massagear o membro doloroso, aquecer o local com bolsas térmicas ou toalhas aquecidas, utilizar pomadas ou cremes analgésicos ou ainda usar analgésicos orais.

Em alguns casos, é possível diminuir a frequência ou minimizar a intensidade das crises com uso de palmilhas compensatórias e/ou exercícios musculares. Para isso, deve-se procurar uma avaliação médica especializada.

Um sinal de alerta aos pais: quando a dor é persistente ou referida sempre em um local específico; ou ainda, quando ao examinar nota-se vermelhidão local, inchaço ou aumento de temperatura, nesta situação, a avaliação médica não deve ser postergada. 

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Relator:
Miguel Akkari
Presidente do Departamento Científico de Ortopedia da Sociedade de Pediatria de São Paulo