A doença de Kawasaki (DK) é uma doença rara que se parece com muitas outras doenças comuns da infância, como a escarlatina, o sarampo, a rubéola e outros tantos quadros causados por vírus, o que faz com que o diagnóstico de certeza seja bastante difícil. É uma doença muito mais frequente em crianças pequenas, embora também possa acontecer nos maiores e nos adolescentes. Não existe nenhum exame que seja específico para confirmar a doença, mas as provas de inflamação estão sempre muito elevadas.
Vou tentar aqui explicar o que é essa doença rara e responder as perguntas mais comuns que já ouvi dos pais ao fazer o diagnóstico. Vejam esse quadro contado por uma mãe:
“No sábado, Juninho, com 2 anos, acordou com febre alta (39). Dei o antitérmico, a febre baixou, mas, em seguida, voltou e assim ficou, persistente, sempre alta. No outro dia, vi que os olhos dele ficaram muito vermelhos, parecia conjuntivite, mas não tinha secreção. No mesmo dia, mais tarde, a boca ficou tão vermelha que parecia um morango e apareceu um vermelhão no corpo; pensei que fosse alergia, mas não coçava. As mãos e os pezinhos incharam. O tempo todo ele ficou com febre e muito irritado. Hoje já é o quinto dia e já fui ao pronto-socorro três vezes. Agora me disseram que ele está com Doença de Kawasaki”
Que doença é essa?
A DK é uma vasculite, isto é, a inflamação dos vasos sanguíneos, mais especificamente das artérias de médio calibre, afetando com maior frequência as coronárias, que são as que irrigam o coração.
De onde vem isso? Eu poderia ter evitado?
Não, você não poderia ter evitado. A DK ocorre em crianças geneticamente predispostas e acredita-se que seja desencadeada por uma infecção qualquer, mais provavelmente um vírus. A infecção ativa uma reação no organismo que leva à inflamação dos vasos e, por conseguinte, todos os sintomas clínicos.
É grave?
Sim, mas pode ter uma boa evolução. A nossa principal preocupação é o acometimento das artérias coronárias, o que pode levar a formação de aneurismas (pequenas dilatações na parede do vaso) e, a partir daí, causar problemas no coração. Por isso, sempre que há essa suspeita diagnóstica, é realizado um ecocardiograma.
Tem tratamento?
Sim. A DK tem tratamento, que é mais eficaz quando aplicado nos primeiros 10 dias de doença. O tratamento é feito no hospital, com imunoglobulina endovenosa. Quando o paciente não melhora em 48 horas, outras medicações podem ser propostas.
Tem cura? Meu filho vai ficar com algum problema?
A DK é autolimitada, isto é, se não for tratada, os sintomas desaparecem espontaneamente, o que pode demorar até 20 dias. O problema é que, se não tratada, aumenta muito o risco de a doença afetar as coronárias e, quando isso acontece, a criança pode ter sérios problemas cardíacos. Ao contrário, quando as coronárias não são atingidas, a vida segue normalmente.
Tem que tomar remédio para sempre?
Depende. No início, a criança terá que tomar ácido acetilsalicílico. A duração do tratamento deverá ser orientada pelo médico, levando-se em conta a presença ou não de comprometimento cardíaco. O acompanhamento da criança com DK deve ser feito pelo pediatra especializado em Reumatologia, que é o profissional habilitado para cuidar desses casos, e pelo pediatra especializado em Cardiologia, caso haja comprometimento das coronárias.
Doença de Kawasaki – critérios clínicos
Como a criança com DK pode apresentar sinais e sintomas semelhantes a outras doenças, utilizamos critérios para fazer o diagnóstico. A febre é o critério obrigatório. Além da febre, é necessária a presença de quatro dos outros critérios abaixo.
Febre persistente por cinco dias (no mínimo), mais quatro sintomas entre:
1. Inchaço de mãos e pés
2. Exantema (vermelhidão no corpo)
3. Alterações em lábios e cavidade oral: língua vermelha (parecendo um morango), lábios rachados
4. Olhos vermelhos, sem secreção
5. Linfonodo aumentado no pescoço (íngua)
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Relatora:
Dra. Adriana Sallum
Departamento Científico de Reumatologia da SPSP.
Publicado em 01/09/2016.
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