Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 24/11/2021
O controle esfincteriano é um marco importante do desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo e social da criança e, portanto, deve acontecer de forma adequada. Muitas vezes a expectativa, a ansiedade e pressões externas de parentes ou escola interferem de forma negativa neste aprendizado.
Para adquiri-lo a criança precisa estar física e emocionalmente preparada e, como qualquer estágio do desenvolvimento infantil, não deve ser forçado ou acelerado. A criança deve aprender a reconhecer a sensação de que precisa esvaziar a bexiga ou o intestino e também como e onde fazê-lo. Tudo isso é fortemente influenciado por fatores educacionais, ambientais, sociais, familiares e psicológicos.
Tanto o início precoce quanto o atraso neste processo podem trazer consequências negativas para a criança – a retirada inadequada da fralda pode trazer dificuldades e consequências, como: constipação intestinal, disfunção miccional, infecção urinária recorrente, conflitos familiares e repercussões sociais. Os pais devem ser orientados para que a aquisição dessa habilidade transcorra de forma tranquila, sem traumas para a criança.
A criança, na idade entre 18 meses e 3 anos, passa a ter consciência que sua bexiga está cheia, mas ainda não consegue o seu controle. Nesta fase, quando a criança passa a avisar que a fralda está molhada ou suja de fezes, é a idade de iniciar o treinamento.
Idealmente, o processo de retirada da fralda deve começar quando a criança já anda, fala, senta-se por 5 a 10 minutos, tira suas roupas, entende o que significam “xixi e cocô” e sabe que existem locais apropriados, socialmente aceitos, para suas eliminações.
Para muitas crianças é mais fácil iniciar o treinamento usando o penico do que o vaso sanitário, que deve estar equipado com um redutor de assento e uma escadinha ou banco de apoio para os pés.
Em sequência, a criança adquire o controle noturno das fezes, seguido pelo diurno, posteriormente o urinário diurno e finalmente o urinário noturno. O controle noturno da diurese ocorre, em média, um ano após o diurno, mas pode acontecer até os 5 ou 6 anos de idade. O melhor sinal para o desfralde noturno é o fato de a criança acordar com as fralda seca.
Dicas que auxiliam no desfralde bem-sucedido:
– Compre um penico e comece a colocar a criança aos poucos, em qualquer horário, para que acostume. Faça isso por períodos curtos;
– Não force a retirada antes que a criança esteja pronta;
– Converse com a criança, dê exemplos;
– A alimentação deve ser rica em fibras e água, para evitar a constipação e retenção das fezes. Se ocorrer constipação, esta deve ser tratada antes;
– Nunca force ou ameace a criança. Punição e castigo só atrapalham;
– Tenha paciência. Acidentes fazem parte do processo de aprendizado e são normais nos primeiros meses;
– Se o treinamento e o controle não ocorrerem, devido à fatores familiares, como mudança de residência, nascimento de irmão ou recusa da criança, adie temporariamente.
Após a aquisição do controle esfincteriano, deve-se valorizar a rotina de utilização do penico ou vaso sanitário, com calma e sem adiar ou atrasar. Escolher horários após as refeições, para a criança ficar sentada sem pressa é uma medida importante na formação do hábito intestinal e prevenção da constipação.
Relator
Regis Ricardo Assad
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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