Dia Nacional do Surdo: compreensão profunda e caminhos para uma intervenção pedagógica inclusiva na infância

Dia Nacional do Surdo: compreensão profunda e caminhos para uma intervenção pedagógica inclusiva na infância

A celebração do Dia Nacional do Surdo, em 26 de setembro, evoca a importância de uma profunda compreensão sobre as experiências, direitos e desafios da comunidade surda. Dentro da pediatria, a abordagem precoce e sensível da surdez se mostra crucial para as trajetórias de vida desses indivíduos.

Surdez infantil: uma realidade complexa

Não existe uma única causa para a surdez. Desde questões genéticas até complicações no parto, passando por infecções maternas durante a gravidez ou exposição a medicamentos específicos. Em cenários como o Brasil, a incidência de perda auditiva congênita flutua entre 1 a 3 por 1.000 nascidos vivos. A compreensão dessa diversidade é vital para orientar as abordagens de intervenção.

 A detecção precoce: porta de entrada para ações eficazes

A Triagem Auditiva Neonatal, frequentemente denominada Teste da Orelhinha, é mais do que um procedimento padrão: é uma janela crucial para a identificação de alterações auditivas. Esse rastreio, ao ser realizado nas primeiras 48 horas de vida, pode desencadear uma série de intervenções que impactarão o desenvolvimento global da criança.

Intervenção diversificada: oportunidades e escolhas

No universo de opções terapêuticas, os aparelhos auditivos tradicionais têm sido aliados de longa data. No entanto, a evolução médica trouxe o implante coclear, que se tornou uma ferramenta revolucionária para muitas crianças e suas famílias. Independentemente das escolhas tecnológicas, é essencial considerar as abordagens pedagógicas: a oralização e a alfabetização em Libras, juntamente com o Português, são caminhos que devem ser discutidos e personalizados para cada criança.

Educação e Surdez: um mosaico de desafios e triunfos

Educar crianças surdas em escolas regulares é um desafio enriquecedor e as necessidades vão além da presença de intérpretes de Libras. Materiais didáticos adaptados, formação continuada de educadores e uma cultura escolar inclusiva são essenciais. Além disso, é crucial que as escolas reconheçam e valorizem a cultura e identidade surdas, promovendo ambientes em que a criança surda se sinta acolhida e respeitada.

Educação e língua brasileira de sinais

Segundo a Federação Mundial de Surdos, estima-se que existam mais de 70 milhões de pessoas surdas ao redor do mundo. Mais de 80% destes vivem em países subdesenvolvidos e em conjunto, utilizam mais de 300 línguas de sinais diferentes. A Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência reconhece e promove o uso da língua brasileira de sinais, enfatizando sua importância de igual maneira à linguagem falada. Portanto, é dever do Estado assegurar e facilitar seu ensino como ponto-chave na promoção da identidade da comunidade surda. A língua brasileira de sinais engloba uma diversidade linguística e cultural rica e preservá-la é essencial.

Sociedade e Surdez: ressignificando visões e quebrando paradigmas

A realidade da surdez não se limita a escolhas terapêuticas ou educacionais: é fundamental confrontar e desconstruir preconceitos sociais. A comunidade surda não é homogênea e a surdez não define a totalidade de sua experiência de vida. Celebrar a diversidade, promover a conscientização e garantir direitos são etapas indispensáveis para uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Conclusão

O Dia Nacional do Surdo é mais do que uma data no calendário. É um convite à reflexão, ao comprometimento e à ação. A Sociedade de Pediatria de São Paulo reitera seu compromisso com uma abordagem sensível, informada e inclusiva para todas as crianças surdas, garantindo que elas tenham a oportunidade de viver plenamente em uma sociedade que as reconheça e valorize.

Saiba mais:

  1. World Health Organization. (2021). Deafness and hearing loss.
  1. Olusanya BO, Davis AC & Wertlieb D. (2007). Developmental Disabilities in Our World. Karger Publishers.
  2. Ministério da Saúde. (2012). Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva.
  3. Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. (2020). Implante Coclear.
  4. Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). (2020). A Educação do Surdo no Brasil.
  5. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015.

 

Relatora:
Carolina Videira
Neurocientista, Educadora e Membro do Núcleo de Estudos sobre a Criança e o Adolescente com Deficiência da Sociedade de Pediatria de São Paulo