Dia Nacional de Combate ao Tabagismo – Um problema de grande magnitude

Dia Nacional de Combate ao Tabagismo – Um problema de grande magnitude

O Dia Nacional de Combate ao Tabagismo é comemorado no dia 29 de agosto e sabemos que temos muito a combater, uma vez que o tabagismo ativo é a primeira e o passivo é a terceira causa de mortes evitáveis no mundo.

Em trabalho publicado em 2005, baseado em levantamento no Pronto-Socorro de Pediatria do Hospital Universitário da USP, realizado antes da Lei Ambiente Fechado Livre do Tabaco (2009), foi encontrado que: 51% das crianças eram fumantes passivas (segundo informações maternas); a cotinina urinária foi identificada em 23,8% das crianças de 0 a 5 anos de idade; filhos de mães fumantes apresentaram maiores níveis de cotinina urinária, sendo ainda mais elevados nos filhos de casais em que ambos os pais eram fumantes.

Estes dados evidenciam que o contato das crianças com a nicotina se inicia precocemente, o que é muito relevante, aliás, o contato com a nicotina, que é a droga que vicia, pode se iniciar antes do nascimento, pois se a grávida ou seu parceiro fumam, a primeira exposição ocorre intraútero.

O tabagismo é considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde desde 1992. Encará-lo desta maneira permitiu a implementação de programas de tratamento da dependência da nicotina no mundo. Dentro deste enfoque, a prevenção do tabaco é de extrema importância para a saúde das crianças. Estatísticas globais demonstram que 80 a 100 mil crianças no mundo iniciam todos os dias neste vício.

Um dos pilares da luta antitabágica no nosso meio foi a retirada da propaganda do cigarro da mídia. Anais de 1975 da indústria do tabaco dos Estados Unidos, recentemente tornados públicos, confirmam a intenção da indústria tabaqueira de atingir diretamente a criança e o adolescente, sendo encontradas frases como:

■ “Os jovens representam o negócio de cigarros amanhã”;

■ “À medida que o grupo etário de 14 a 24 anos amadurece, ele se tornará parte do volume total de cigarros nos próximos 25 anos”;

■ “Atingir os jovens pode ser mais eficiente, ainda que os custos sejam maiores, pois eles desejam experimentar, têm mais influência entre os pares de sua idade e são muito mais leais a sua primeira marca escolhida”.

O tabagismo já era considerado uma doença pediátrica, já citada pelo Prof. Dr. José Rosemberg, um dos pioneiros na luta antitabágica no Brasil. Hoje se considera que o vício em outras drogas, como o álcool e a maconha, também são doenças pediátricas, pois o seu consumo começa muito cedo, quando os adolescentes ainda estão sob os cuidados dos pais e dos pediatras.

A família com limites, a espiritualidade, as atividades culturais e esportivas e as amizades são os pilares da prevenção de sucesso realizada na Irlanda (Reino Unido), projeto já utilizado por vários países. Também aconselhamos incluir atividades sociais, pois a família deve dar o exemplo e envolver seus filhos desde a infância em projetos sociais.

Em relação ao narguilé, há muita desinformação. A maioria dos usuários acredita estar utilizando apenas a essência, desconhecendo o fato de que ela é colocada junto ao tabaco para facilitar o vício e a dependência, mascarando o gosto ruim das primeiras tragadas. Sobre a maconha, o processo de descriminalização no Uruguai, em alguns estados dos Estados Unidos e que está começando na Argentina, diminui o medo da droga e aumenta o seu uso.

Pesquisa em escolas que indagou sobre qual droga dentre quatro faria menos mal à saúde, as respostas em todas as escolas foram idênticas: maconha e álcool. Isso denota que a maioria das crianças e adolescentes enxerga essas duas drogas como “pouco perigosas” ou até “inofensivas”. Observa-se inclusive que muitos jovens têm iniciado a experimentação de drogas diretamente pela maconha, sem nunca terem fumado qualquer cigarro, que consideram mais prejudicial à saúde. Obviamente, essa visão “saudável” da maconha é equivocada, pois apesar de ser utilizada em menor quantidade do que as unidades de tabaco fumadas por dia, apresenta 50% mais substâncias cancerígenas e quatro vezes mais alcatrão do que o tabaco, não utiliza filtro e provoca prejuízos ao pulmão tanto quanto o tabaco, já lesando o pulmão de crianças e adolescentes. Como já dito, isso não é notado porque a quantidade de cigarros fumados costuma ser proporcionalmente muito superior à quantidade de maconha consumida.

O uso das drogas, inclusive o tabaco, pode começar dentro de casa de acordo com a postura dos pais. A presença de cigarros em casa é um fator facilitador da experimentação. A iniciação também costuma ter influência direta dos amigos mais próximos, auxiliada pela ideia irreal de poucos danos à saúde, associada ao marketing ainda existente de maneira indireta. Algumas pessoas ainda alimentam a ideia de que o “rito” de passagem da adolescência para a vida adulta teria que passar pela experimentação do tabaco e pela ingestão de álcool. Hoje muitos já incluem o uso da maconha.

Com o objetivo deliberado de confundir potenciais consumidores, a indústria tabaqueira promoveu o lançamento do cigarro eletrônico (CE). A ideia inicial era que fossem utilizados por adultos que não conseguissem parar de fumar o cigarro normal, dando a ideia de que faria menos mal à saúde. Só que a propaganda do CE foi direta para jovens em todo o mundo, acarretando forte dependência nicotínica e morte entre os jovens americanos por lesões pulmonares graves.

Pais fumantes aumentam 50 vezes a chance de os filhos fumarem. Vocês pais, são os primeiros professores de seus filhos. Repensem e incluam em suas famílias os 12 passos para diminuir o risco de problemas na vida de seus filhos. São eles:

  1. Família unida e com limites;
  2. Fazer as refeições com os filhos, dentro do possível;
  3. Saber o que seus filhos fazem nas horas vagas;
  4. Acompanhar os deveres dos filhos;
  5. Investir no relacionamento familiar: qualidade no relacionamento;
  6. Elogiar boas atitudes dos filhos e não os criticar ou corrigi-los em excesso;
  7. Não fumar e não beber antes ou em excesso depois dos 18 anos;
  8. Aumento de atividades culturais e esportivas;
  9. Envolvimento em atividades sociais;
  10. Espiritualidade;
  11. Bons amigos;
  12. Dar o exemplo.

Tudo começa desde pequeno. Se não for feito desde a primeira infância, dificilmente será feito na adolescência. A presença de discussão, aliada a trocas de ideias (diálogo) com a família, foi o único fator positivo na diminuição da experimentação de drogas pelos jovens. Comecem a dialogar já.

 

Relator:
J
oão Paulo Becker Lotufo
Presidente do Núcleo de Estudos de Combate ao Uso de Drogas por Crianças e Adolescentes da SPSP

 

Foto: @andreycherkasov / br.freepik.com