Dia Nacional da Vacinação

Dia Nacional da Vacinação

No dia 17 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Vacinação.

A data acende um alerta e chama a atenção da sociedade para a importância da prevenção por meio da vacinação. Não se trata apenas de uma ação individual e sim coletiva.

No caso da poliomielite, por exemplo, enquanto houver uma única criança infectada, crianças de todos os países correm o risco de contrair a poliomielite. Se a doença não for erradicada, podem ocorrer até 200 mil novos casos no mundo, a cada ano, dentro do período de uma década.

As pessoas precisam entender que vacinar traz consigo amor-próprio e amor ao próximo. Sim, porque ao nos protegermos também estamos protegendo o próximo, para não transmitirmos nenhuma doença que possa levar pessoas mais frágeis a complicações e até à morte.

Muitos pais não sabem, mas a vacinação é apontada como o segundo maior avanço da humanidade em termos de saúde pública, atrás apenas da ampliação da oferta de água potável.

Hoje, vivemos num mundo onde a mortalidade infantil por doenças imunopreveníveis diminuiu de forma significativa, gerando uma falsa sensação de segurança, porém um levantamento produzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado em maio de 2022 indica que o Brasil está retrocedendo quando o assunto é o controle da mortalidade infantil: a cada três mortes de bebês com menos de um ano de idade no país, duas poderiam ser evitadas com medidas básicas de saúde, entre elas, pré-natal adequado, incentivo à amamentação e vacinação adequada.

O processo de combate às mortes infantis é ainda mais preocupante frente à queda na cobertura vacinal que vem sendo registrada no país e no mundo.

Nos últimos quatro anos, nenhum Estado brasileiro atingiu a cobertura mínima de muitas vacinas importantes, que evitam doenças graves e fatais, como poliomielite, sarampo, febre amarela, meningites, diarreia, pneumonias, entre outras, cujas vacinas são oferecidas gratuitamente em todos os postos de saúde do país.

Anualmente nosso país registra mais de 20 mil casos de mortes que seriam evitáveis através da vacinação, em bebês menores de um ano.

Além de todas as dificuldades que já vinhamos enfrentando, a chegada da pandemia de Covid-19 em 2020 trouxe impactos sociais, econômicos e de saúde pública sem precedentes. As medidas de isolamento social impactaram a oferta de serviços de saúde em todo o mundo, incluindo os serviços de vacinação.

O Brasil tem vacinas para suprir toda a população, mas para que elas cheguem até as crianças, dependemos principalmente que os pais levem seus filhos para vacinar.

A queda nessas coberturas coloca o país sob o risco de ocorrência de surtos de doenças previamente controladas.

Vejamos alguns exemplos:

  1. Em 2016 o Brasil recebeu a Certificação de Eliminação do Sarampo. No entanto, em 2018, o intenso movimento migratório, turístico e comercial, aliado às baixas coberturas vacinais, contribuíram para a reintrodução e disseminação do vírus do sarampo no país e, em 2019, o Brasil perdeu esta certificação, por continuar a apresentar casos endêmicos de sarampo por mais de 12 meses.

Com isso, muitas crianças voltaram a adoecer, ser internadas e algumas morreram por uma doença passível de ser evitada pela vacinação.

 

  1. Em 1994, o continente americano recebeu o Certificado da Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem (vírus que causa poliomielite ou paralisia infantil).

No Brasil, o último caso detectado de poliomielite foi em 1989 e nas Américas, em 1991.

De 1988 até 2016, a incidência mundial da doença diminuiu 99% e o número de países que apresentavam casos da doença passou de 125 para apenas 2 (Paquistão e Afeganistão).

Com a cobertura vacinal extensa, a poliomielite foi eliminada mundialmente por várias décadas, porém novos casos surgiram a partir de 2021, inicialmente no Malawi e recentemente em países desenvolvidos como Israel e Estados Unidos, que não conviviam com a doença há mais de 30 anos.

A poliomielite afeta principalmente crianças com menos de cinco anos de idade e uma em cada 200 infecções causa uma paralisia irreversível, que exigirá inúmeras cirurgias, fisioterapias, próteses, pelo resto da vida, para amenizar as graves sequelas da doença.

Entre os casos mais graves, 5% a 10% ainda poderão morrer por paralisia dos músculos respiratórios.

No Brasil, a vacina é gratuita em todos os postos de saúde para crianças entre 2 meses e 5 anos de idade e, infelizmente, as taxas de vacinação contra a poliomielite não alcançam nem 70% dessa população.

 

  1. Doença meningocócica: na década de 1970, o Brasil enfrentou um surto sem precedentes causado pelo meningococo, que leva a uma doença gravíssima e que pode evoluir para a morte em menos de 24 horas.

O que muitos pais e avós não sabem é que, apesar de o surto ter sido controlado pela vacinação em massa naquela época, essa bactéria tem se mantido de forma constante na população, especialmente em crianças pequenas e adolescentes, causando pequenos surtos de tempos em tempos.

As vacinas meningocócicas C e ACWY estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças e adolescentes, respectivamente. Além disso, pessoas com condições que conferem maior risco de doença invasiva também podem ter acesso a essas vacinas gratuitamente nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), porém as coberturas vacinais, especialmente nos adolescentes, estão inferiores a 60%, o que só pode ser justificado pelo desconhecimento da população em relação à disponibilidade da vacina para essa faixa etária ou da gravidade da doença.

Nos últimos dias tem sido noticiado um novo surto de meningite meningocócica em algumas regiões de São Paulo e, apesar de estarmos em plena campanha de resgate dos atrasos vacinais pelo SUS, percebemos que inúmeras crianças e adolescentes não foram levados por seus pais para receberem essa e outras vacinas que previnem morte e sequelas irreversíveis.

 

  1. Síndrome da rubéola congênita: outra condição que há 8-10 anos causava muita angústia e preocupação nas famílias, onde esta doença, que parece simples na infância, quando presente na gestante causa graves sequelas nos bebês, semelhante à zika.

Graças à vacinação, desde 2015 na Região das Américas houve a eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, e, a partir de então, ao contrário do esperado, temos visto baixa das coberturas vacinais para essas vacinas, pois, pelo desconhecimento da doença e da gravidade da mesma, muitos pais não vacinam mais seus filhos.

 

  1. Outra conquista importante: desde 2017 ocorreu a eliminação do tétano neonatal e tétano materno, que levavam à morte mais de 10.000 recém-nascidos por ano nas Américas. A vacinação das gestantes com a dT (difteria e tétano) e, a partir da 20ª semana, com a dTpa – difteria, tétano e coqueluche – (disponível no SUS desde 2014), além de evitar o tétano, evita também a coqueluche, uma doença extremamente grave em bebês abaixo de um ano de idade.

 

Na avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS), se seguirmos dessa maneira, deixando de vacinar nossas crianças, dificilmente será possível cumprir a meta de eliminação de doenças no planeta, pois as coberturas vacinais estão seriamente comprometidas em todo o mundo, especialmente no período pós-pandemia. 

O SUS oferece gratuitamente mais de 19 vacinas para diferentes faixas etárias, com campanhas periódicas de atualização das carteiras de vacinas, resgate dos que ficaram atrasados, disponibilização de novas vacinas para idades mais velhas, que não tiveram oportunidade de receber esses imunobiológicos na infância, vacinas diferenciadas para grupos em condições especiais de saúde através dos CRIEs, etc.

Sabemos que há diversos fatores que agravaram a baixa das coberturas vacinais, entre eles o isolamento social, a falsa sensação de segurança contra doenças comuns, o desconhecimento de muitos pais sobre a existência de algumas doenças que foram comuns no passado, baixa procura por postos de vacinação, horário restrito das salas de vacinação e dos postos de saúde, “fake news”, movimentos antivacinas, entre outros.

A sociedade precisa de informações de qualidade, oferecidas por profissionais de saúde que trabalham em salas de vacinação, enfermeiros, agentes de saúde, médicos de família, pediatras, sociedades médicas e do SUS, através de campanhas objetivas, simples e claras, que não sejam influenciadas por discursos equivocados e dados falsos, divulgados por pessoas e grupos que apresentam, sem nenhum embasamento científico, publicações para combater uma das medidas mais importantes na redução da mortalidade infantil.

Alguns fatores são primordiais na vacinação das crianças:

  1. Indicação e incentivo dos profissionais de saúde à vacinação, com aproveitamento máximo das oportunidades vacinais, resgatando atrasos e orientando os responsáveis sobre a importância da vacinação;
  2. Conscientização dos pais sobre a gravidade das doenças preveníveis pela vacinação e a colaboração dos mesmos, levando seus filhos para vacinar;
  3. Reverter urgentemente a queda das coberturas vacinais, e para isso contamos com todos os pais e profissionais de saúde, no sentido de garantir às crianças e adolescentes, que serão o futuro do nosso país, uma saúde integral, sem sequelas, sem medos e sem máscaras;
  4. Desenvolver mecanismos de combate às “fake news” e oferecer sempre informações de qualidade e embasadas em dados científicos.

 

Celebremos o Dia Mundial da Vacinação, vacinando!

 

Saiba mais:

https://www.spsp.org.br/

https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/calendario-de-vacinacao-da-sbp-atualizacao-2022/

https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim-epidemiologico-vol-53-no28#:

http://conselho.saude.gov.br/

https://pebmed.com.br/meningite-meningococica-surtos-em-sao-paulo-acendem-alerta-sobre-prevencao

https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/informe-tecnico-recuperacao-esquema-vacinacao-atrasado.pdf

https://www.paho.org/pt/topicos/poliomielite

https://saudeamanha.fiocruz.br/regiao-das-americas-elimina-o-tetano-materno-e-neonatal/#.Y0ASZXbMK3A

 

Relatora:
Silvia Bardella Marano
Departamentos de Imunizações e Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo