No dia 22 de setembro comemora-se o Dia Nacional da Saúde de Adolescentes e Jovens. A Organização Mundial da Saúde define a adolescência como a fase da vida entre os 10 e os 19 anos, e a juventude, entre os 15 e os 24 anos de idade. São etapas muito peculiares, nas quais ocorrem grandes mudanças físicas, cognitivas, sociais e emocionais, que requerem cuidados de saúde específicos.
Apesar de ser considerado um período de vida saudável, do ponto de vista biológico, com grande ganho de aptidões físicas, paradoxalmente é uma fase de grande vulnerabilidade, determinada por escolhas e comportamentos sociais que têm potencial para afetar o padrão de saúde imediato, e podem, também, repercutir para a vida toda, o que justifica a importância da atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens.
O médico precisa entender das transformações biológicas e psicológicas, mas também saber que os ambientes sociais e virtuais desempenham papel fundamental nesses agravos. Na consulta do adolescente, o médico tem vários desafios a enfrentar: saber os direitos que adolescentes e jovens têm, tais como privacidade e confidencialidade; criar vínculo com seu paciente; apresentar-se como um modelo de adulto diferente do que o adolescente tem de seus pais; apoiar seu paciente adolescente nas mudanças físicas e também na busca de uma nova identidade para esse corpo em transformação; avaliar comportamentos de risco psicossociais de seus pacientes e quando identificados os riscos, realizar intervenção breve.
A saúde de adolescentes e jovens é do âmbito da Pediatria, pois geralmente é o pediatra que acompanha esse adolescente desde sua infância, tem o respeito e confiança da família e do paciente, tem a capacitação em desenvolvimento humano. Para atendimento de adolescentes, o médico deve mudar o paradigma da consulta, trazer nova abordagem, centrado mais no paciente do que no(a) cuidador(a) e estar apto para abordar o desenvolvimento sexual, emocional e cognitivo dessa fase da vida.
Entre os principais tópicos a serem avaliados em uma consulta de adolescente estão:
Acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento físico e psicossocial; Educação em saúde;
Saúde sexual e reprodutiva
Saúde mental
Prevenção ao uso de álcool, tabaco e outras drogas
Prevenção e controle de agravos
Promoção da cultura de paz e prevenção de violências
A educação em saúde é importante para ajudar os adolescentes e os jovens a fazerem as melhores escolhas. O fornecimento de informações ao paciente fundamentadas e isentas de julgamentos, têm papel relevante para essa finalidade. Os dados apresentados nos quadros abaixo salientam a importância da educação em saúde.
Nas faixas de 15 a 29 anos, que abrange adultos jovens, as mortes são devidas a causas externas e à saúde mental e não a doenças orgânicas. No Brasil, o homicídio ocorre em adolescentes e jovens em sua maioria fora do ensino médio e em ações relacionadas ao crime e confrontos policiais.
Quadro 1: Principais causas de óbito segundo a faixa etária. Brasil, 2021 * |
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5 a 14 |
15 a 19 |
20 a 29 |
1 |
Acidentes de transporte (9,69%) |
Agressões (35,37%) |
Agressões (29,86%) |
2 |
Rest. das doenças do sistema nervoso (8,77%) |
Acidentes de transporte (13,63%) |
Acidentes de transporte (13,86%) |
3 |
Leucemia (5,61% |
Lesões autoprovocadas voluntariamente (6,90%) |
Rest. algumas doenças infecciosas e parasitárias (9,89%) |
4 |
Agressões (5,54%) |
Rest. sint, sin e ach anom. Clin. e Laborat. (3,96%) |
Lesões autoprovocadas voluntariamente (5,56%) |
5 |
Afogamento e submersões acidentais (5,01%) |
Rest. algumas doenças infecciosas e parasitárias (3,63%) |
Rest. sint, sin e ach anorm. Clin. e Laborat. (4,23%) |
6 |
Rest. algumas doenças infecciosas e parasitárias (4,81%%) |
Intervenções legais e operações de guerra (3,14%) |
Eventos cuja intenção é indeterminada (3,07%) |
7 |
Rest. sint, sin e ach anom. Clin. e Laborat. (4,78%) |
Eventos cuja intenção é indeterminada (3,04%) |
Doenças virais (2,44%) |
8 |
Neoplasias malignas, meningites, encef. E outras partes do sistema nervoso central (4,58%) |
Rest. das doenças do sistema Nervoso (2,95%) |
Intervenções legais e operações de guerra (2,19%) |
9 |
Rest. de neoplasias malignas (4,46%) |
Afogamento e submersões acidentais (2,79%) |
Outras causas externas (1,77%) |
10 |
Outras causas externas (4,27%) |
Outras causas externas (1,96%) |
Outras doenças cardíacas (1,59%) |
11 |
Lesões autoprovocadas voluntariamente (3,41%) |
Rest. de neoplasias malignas (1,86%) |
Rest. de neoplasias malignas (1,49%) |
Quadro 2: Percentual de adolescentes de 13 a 17 anos que, alguma vez na vida, experimentaram álcool, cigarro e outras substâncias psicoativas (SPA) ** |
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2015 |
2019 |
Álcool |
61,4% |
63,3% |
Cigarro |
22,9% |
22,6% |
Ouras SPA |
12,0% |
13,0% |
Celebrando esse Dia, gostaríamos de alertar pais, professores e gestores da saúde sobre a importância do atendimento especializado de adolescentes e jovens, tanto no consultório privado como no Sistema Único de Saúde (SUS).
Os médicos que atendem adolescentes devem ser capacitados para o atendimento integral, voltado para as especificidades dessas faixas etárias, com comunicação adequada e assertiva.
Infelizmente os adolescentes e jovens são invisíveis no sistema de saúde e suas necessidades são negligenciadas. Os gestores de saúde têm a responsabilidade de estabelecer programas de atendimento à saúde de adolescentes e jovens. Este é um direito estabelecido pela Constituição brasileira e corroborado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Enquanto as três principais causas de morte do adolescente e do jovem brasileiro forem causas preveníveis, estamos fracassando como sociedade.
Saiba mais:
* Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em 5 de fevereiro de 2024.
** Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar (PeNSE), publicado em 2019.
Relatoras:
Elizete Prescinotti Andrade
Lilia D’ Souza Li
Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo