Dia Mundial do Meio Ambiente e Ecologia

Dia Mundial do Meio Ambiente e Ecologia

A ferida ainda está aberta.
Imagens da tragédia “apocalíptica” que acometeu o Rio Grande do Sul estão impressas em nossas retinas. A realidade parece inacreditável. Tudo virou de cabeça para baixo ou, simplesmente, o que era já não é mais. Em junho de 2024, nada que se escreva sobre o tema Meio Ambiente e Ecologia deixará de estar afetado por esse acontecimento climático. Os números são superlativos, tanto em termos de destruição, de vidas ceifadas, de prejuízos sociais e econômicos.
Mais uma tragédia ambiental.
Ainda nos lembramos de outras anteriores e recentes: Brumadinho (2019), Petrópolis (2022), incêndio florestal no Pantanal (2022), Caraguatatuba (2023), seca no Amazonas (2023).

Parece que não é mais necessário gastar o verbo alertando sobre a necessidade de rever modelos de ocupação do solo, cuidados com nascentes e florestas, exploração do subsolo, poluição ambiental, utilização de energia fóssil, impermeabilização do solo nas ruas das cidades, destruição da camada de ozônio, aquecimento global, etc., etc., etc….

Muitos cientistas de conhecimento inquestionável, no mundo todo, há muito tempo vinham expondo os cenários climáticos possíveis que nos aguardavam caso não mudássemos nossos hábitos de vida. Estabeleceram “profecias” com um calendário previsível para a sua realização.

A frase “Protect me from what I want” (Proteja-me do que eu quero) é uma obra da artista contemporânea britânica Jenny Holzer. Essa expressão pode ser interpretada de várias maneiras, mas geralmente sugere uma reflexão sobre o desejo humano e como, muitas vezes, aquilo que desejamos ou escolhemos, pode não ser o melhor para nós a longo prazo.

“Profecias” não ouvidas, transformam-se em tragédias anunciadas.

Infelizmente, esta é mais uma oportunidade de aprendizado e conscientização. A concretude dessa ferida aberta é suficiente para reforçar o ensino, já antes ministrado pelos diversos “profetas”.

Vai passar! Assim a frase estampada nos viadutos estimulava o ânimo, a resiliência do povo gaúcho, de todo bagual. Sim, vai passar, apesar das lágrimas que continuarão a rolar, apesar das memórias que asfixiam, apesar das muitas perdas.

A cada nascimento de uma criança se renova a esperança. Uma criança traz em si a possibilidade de transformação, crescimento e aperfeiçoamento. As crianças de agora estão lendo o mundo que as acolhe, com suas alegrias e suas tragédias e, também, com as diversas expressões de solidariedade.

Qual o impacto desses acontecimentos trágicos na vida das crianças? Como elas entendem o que está ocorrendo? O que podemos fazer para que essa tragédia não acarrete mais dor, destrua sonhos, interrompa projetos, frustre potenciais da vida de nossas crianças?

Podemos ouvi-las com atenção. Deixar que a seu tempo falem, e expressem suas emoções a seu modo. Podemos ajudá-las em suas perguntas. Podemos cultivar a esperança através do abraço, da brincadeira em família, da leitura de livros.

Algum dia, os piás e as gurias poderão ver a margem do lado direito do rio, a margem esquerda do rio…

Algum dia, os patos da lagoa voltarão a deslizar pelas águas calmas…

Algum dia, a chuva cairá formando apenas poças de água nas quais poderemos pular e espalhar gotas alegres de água…

Algum dia, o matungo e o pingo, todos os cavalos e os animais de estimação estarão cada um em seu espaço…

Algum dia, comeremos um belo churrasco no quintal de casa e tomaremos chimarrão, tchê!!! Nesse dia, será trilegal!!!

“Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.”

 

Esta poesia de Fernando Pessoa está na primeira “orelha” da capa do livro Um Dia, Um Rio, de Leo Cunha e André Neves (2016), que fala sobre o Rio Doce e a tragédia de Brumadinho. Recomendo esta leitura, em família.
Glossário gaúcho:

  • Bagual: homem valente e corajoso.
  • Guria: menina
  • Piá: menino
  • Matungo: cavalo velho
  • Pingo: cavalo jovem

 

Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP