O primeiro Dia Mundial de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) ocorreu em 9 de setembro de 1999, pelo empenho do casal canadense Bonnie Buxton e Brian Philcox, que haviam adotado uma criança com essa síndrome.
A criação desse dia objetivou aumentar a conscientização de toda a população sobre os danos que o consumo de qualquer bebida que contenha álcool, pela mulher grávida, pode causar no feto durante o seu crescimento e desenvolvimento.
O nono dia do nono mês de cada ano foi escolhido de forma intencional, pelo referido casal, como um lembrete para as mulheres sobre a importância de não consumirem álcool durante os nove meses da gestação.
Desde a sua criação, em diversos países, nesse dia comemorativo realizam-se vários eventos que objetivam a educação de toda a população e a prevenção da SAF.
De todas as substâncias de abuso, como maconha, cocaína e heroína, o álcool é o que produz efeitos comportamentais mais graves no feto. Isso é preocupante, não só em nível mundial, como no Brasil, onde se estima que cerca de 15%-25% das gestantes consumam bebidas alcoólicas.
Todo o álcool consumido pela gestante passa para o feto pela placenta e, em uma hora, a quantidade dessa droga no sangue do feto é igual à da mãe. Como o feto não tem as enzimas necessárias para metabolizá-lo, o álcool fica muito tempo no corpo, até retornar ao organismo materno e ser eliminado.
O álcool pode causar alterações no funcionamento, divisão e no crescimento das células. Todas as células do feto podem sofrer os seus danos, mas os que mais sofrem são os neurônios.
A SAF representa o quadro mais grave e completo dos chamados Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF). Este espectro abrange todas as manifestações físicas (inclusive malformações de diversos órgãos), cognitivas, comportamentais e de desenvolvimento, de leves a severas, que os indivíduos podem apresentar se expostos ao álcool na vida intrauterina.
Os pacientes com SAF apresentam características faciais distintas, problemas de crescimento e graves disfunções neurocomportamentais, que, embora possam ter manifestações variáveis de acordo com a idade, não têm cura e os obrigará a conviver com elas por toda a vida.
Os indivíduos com TEAF, inclusive os com SAF, podem apresentar graves deficiências intelectuais, problemas de aprendizagem e de convívio. Podem ser agitados, hiperativos, irritar-se com facilidade, terem baixo limiar de frustração, voltarem-se para a criminalidade e terem grande propensão ao uso de álcool e de outras drogas.
A gravidade e o tipo das lesões causadas no embrião e no feto pelo álcool dependem da dose e da frequência do consumo desta droga lícita pela grávida, do estágio do desenvolvimento do concepto no momento da exposição, da genética materna e fetal, do estado nutricional e da qualidade de alimentação materna. Não depende do tipo de bebida alcoólica, pois todas elas contêm álcool.
Temos que lembrar que o álcool pode estar presente em outras apresentações além das bebidas alcoólicas. Ele pode estar presente nos sacolés alcoólicos, nos chás Kombucha e Jun, em algumas cervejas rotuladas como “sem álcool’, bombons e, como mais recentemente divulgado, em pães. Pode ser usado como solvente do narguilé e, neste caso, ser absorvido para o organismo pelos pulmões.
O diagnóstico da SAF, e de todas as variações do TEAF, não é fácil e exige a participação de profissionais de várias áreas da saúde para que seja feito.
Não existe nenhum tratamento específico para a SAF e TEAF, ou seja, não existe a cura. As terapias existentes apenas abrandam as suas manifestações e são voltadas para o que cada paciente apresenta. Estas devem ser precoces, com a finalidade de melhorar o desenvolvimento da criança e proporcionar uma vida mais saudável e independente no seu futuro.
Não se conhece se existe alguma dose segura de consumo de álcool pela gestante, incapaz de levar a algum dano ao feto. Porém, sabe-se que não só a SAF, como também qualquer sinal e sintoma dentro do TEAF, são totalmente evitáveis, se a grávida não consumir nenhuma quantidade de álcool ao longo de toda a gestação. Essa simples atitude prevenirá o desenvolvimento não só da SAF como também do TEAF, garantindo a possibilidade da criança ter uma vida mais saudável.
Assim, importantes órgãos nacionais e internacionais recomendam a abstinência de álcool a todas as mulheres grávidas, que desejam ou que tenham risco de engravidar.
Frente à gravidade do TEAF, não só as grávidas, como toda a população, precisam estar informadas sobre os perigos que o álcool consumido durante a gravidez pode causar ao feto. Alertar, educar, informar e orientar são os objetivos do Dia Mundial de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal.
Relatora:
Maria dos Anjos Mesquita
Membro do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido (SAF) da Sociedade de Pediatria de São Paulo