A gravidez na adolescência ou gravidez precoce, é aquela que ocorre antes dos 20 anos. Independentemente de ser planejada, desejada ou não, causará sempre repercussões negativas para a saúde física e psíquica da adolescente, repercutindo também no recém-nascido. O ônus de uma gravidez na adolescência, embora recaia tanto para o adolescente quanto para a adolescente, será sempre maior para a gestante e sua família.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, por dia, 1.043 adolescentes se tornam mães no Brasil; por hora, são 44 bebês que nascem de mães adolescentes, sendo que dessas, duas têm idade entre 10 e 14 anos. A taxa está caindo, mas ainda é muito alta.
E por que engravidar antes dos 20 anos causa tantos problemas?
Nessa fase da vida, nosso corpo cresce e se desenvolve, preparando-se para a vida adulta. Usando o cálcio como exemplo: na puberdade ocorre seu acúmulo nos ossos. Caso ocorra uma gravidez, o desenvolvimento do feto ao recrutar o cálcio materno, impedirá que se deposite no osso da adolescente, aumentando o risco de osteoporose quando ela estiver na menopausa. Além disso, as demandas psicológicas, sociais e acadêmicas da adolescência, que não são poucas nesses dias atuais, serão sobrecarregadas pelo estresse de estar grávida. Dessas demandas, a primeira a ser impactada será a acadêmica, expressa pelo abandono escolar. Para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), a gravidez precoce continua sendo um dos principais fatores que contribuem para a mortalidade materna e infantil e para o ciclo de doenças e pobreza.
Para a mulher, ter um filho antes dos 20 anos se relaciona com uma diminuição na escolaridade em 1,3 anos de estudos. Aumenta a chance de ela entrar para o mercado de trabalho mais precocemente, mas esse ingresso, na grande maioria das vezes, ocorrerá por meio do trabalho informal, que exige menos habilidades e é mais flexível no tempo. No entanto, empregos informais não têm a proteção e os benefícios que os formais têm. Comparando os rendimentos de mães adolescentes com mães que tiveram o primeiro filho após os 20 anos, observa-se uma redução de 28% no salário médio por hora. Ainda, se forem pretas ou pardas, bem como aquelas que vivem nas regiões mais pobres do Brasil, as probabilidades de trabalharem e terem salários significativamente mais baixos serão maiores ainda.
Gestação precoce está associada a riscos obstétricos maiores, principalmente em gestantes com menos de 15 anos. Existem maiores chances de anemia, hipertensão na gestação, incluindo pré-eclâmpsia e eclâmpsia, partos prematuros, recém-nascidos pequenos para a idade gestacional e retardo de crescimento fetal. Para quem engravida antes dos 20 anos e tem um bebê prematuro, a chance de na próxima gravidez isso voltar a acontecer é de 37%, enquanto se isso ocorrer em uma gestante com mais de 20 anos, essa chance é de 8%.
Quanto aos recém-nascidos de mães adolescentes, em decorrência dos problemas acima, eles podem ter nota de nascimento (Apgar) menor que 5, com maior chance de precisarem ficar na UTI neonatal e apresentarem problemas crônicos de saúde, pela prematuridade, baixo peso ou pela necessidade de ventilação mecânica nos primeiros dias de vida. Ainda podem apresentar anomalias ou síndromes congênitas (síndrome de Down, defeitos do tubo neural, gastrosquise entre outras).
Como os pais, professores e a sociedade podem atuar para prevenir a gestação precoce?
Em casa: mantenha diálogo com os filhos sobre sexualidade e meios de prevenção. O ideal é iniciar o tema por volta dos 10 anos, adequando o diálogo à compreensão de seu filho. Os ensinamentos sobre prevenção, para serem mais efetivos, deverão ser feitos antes que o(a) adolescente inicie suas atividades sexuais. Dessa forma, saberão o que e como devem fazer quando chegar a hora de tornar a vida sexual ativa, diferentemente daqueles que não tiveram contato ou conversa nenhuma sobre o assunto. É importante que saibam sobre o risco de infecções sexualmente transmissíveis e como se prevenir. Se os pais não se sentirem seguros para falar sobre o tema com sua filha, deverão conversar com seu pediatra e pedir orientações.
Nas escolas: a educação em sexualidade deve fazer parte do currículo de todas as escolas. Ela possibilita que adolescentes cuidem de sua saúde e façam escolhas saudáveis, que repercutirão para a vida deles e para a sociedade. As escolas podem fazer parcerias com profissionais de saúde, que esclarecerão os riscos da gravidez precoce e poderão falar sobre métodos contraceptivos e prevenção das infecções sexualmente transmissíveis.
Caso uma adolescente engravide, é importante ajudá-la a não abandonar os estudos e protegê-la de bullying, o que é relatado por muitas estudantes que engravidam.
Direitos da gestante que estuda
No Brasil, a Lei nº 6.202/1975 garante à estudante grávida o direito à licença maternidade sem prejuízo do período escolar. A partir do oitavo mês de gestação, a gestante estudante poderá cumprir os compromissos escolares em casa, de acordo com o Decreto-Lei nº 1.044/1969. Além disso, o início e o fim do período de afastamento serão determinados por atestado médico a ser apresentado à direção da escola. E, finalmente, é assegurado às estudantes grávidas o direito à prestação dos exames finais.
Sociedade: O que previne a gravidez precoce de forma mais eficaz é a perspectiva de um futuro feliz. À sociedade, cabe propiciar aos adolescentes a possibilidade de completar os estudos e realizar seus projetos de vida.
Saiba mais:
https://www.paho.org/pt/topicos/saude-do-adolescente
Relatores:
Elizete Prescinotti Andrade
Carlos Alberto Landi
Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo