Dia 1º de dezembro é a data escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que internacionalmente possamos unir esforços no combate ao HIV/Aids, não apenas lembrando e comemorando os avanços alcançados com o manejo da doença, mas também na luta contra o preconceito, o estigma e a discriminação das pessoas que vivem com HIV, melhorando dessa forma a compreensão da população sobre o vírus e suas repercussões, reconhecendo-o como um problema de saúde pública global.
Em todos esses anos de história, e já se vão quatro décadas, a doença assumiu novo perfil, tornando-se uma doença crônica controlável, graças à melhoria significativa da terapia antirretroviral que, desde o fim da década de 1990, consegue controlar de forma muito eficaz o vírus HIV, além do manejo e monitoramento mais precisos, com melhores exames laboratoriais e do investimento em medidas de proteção a esses pacientes, com uso de tratamento precoce e universal a todas as pessoas que vivem com HIV (independentemente de terem ou não manifestações da doença), prevenção de infecções oportunistas, além de vacinação ampla para diversas doenças. Tanto adultos quanto crianças que vivem com HIV se beneficiaram muito dessas mudanças, tornando os tratamentos mais simples de serem seguidos.
O último levantamento da OMS/UNAIDS contabiliza 39 milhões de pessoas em todo o mundo vivendo com HIV no ano de 2022, com cerca de 35 mil novas infecções/ano em pessoas entre 15 e 24 anos. No Brasil, temos nas quatro décadas, 1.523.339 casos de HIV/Aids notificados, abrangendo todas as faixas etárias.
O relatório global divulgado este ano pela OMS/UNAIDS trouxe a proposta de eliminação da Aids como ameaça à saúde pública global até 2030, relatando que esse caminho ajudará o mundo a estar mais bem preparado para enfrentar futuras pandemias e a avançar no progresso em direção à conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O Brasil participa da proposta e tem se esforçado para que ela seja alcançada. Uma das grandes conquistas foi a certificação da eliminação da transmissão vertical do HIV, ou seja, aquela transmitida da mãe para o filho, através da gestação, parto ou aleitamento materno, em 28 municípios, ressaltando aqui que a eliminação não é a erradicação da situação, mas sim atingir patamares muito baixos de transmissão, próximos de zero, que permitem essa certificação.
Todos os investimentos em conscientização e prevenção, além dos avanços no manejo da doença, devem ser amplamente divulgados à população, com o objetivo de redução de novas infecções.
Evidências científicas recentes corroboram a afirmação de que pessoas vivendo com HIV em terapia antirretroviral e com carga viral indetectável há pelo menos seis meses não transmitem o vírus HIV por via sexual. Hoje utiliza-se o termo Indetectável = Intransmissível, consenso entre os cientistas que vem sendo amplamente utilizado mundialmente por instituições de referência sobre o HIV.
Outro grande avanço é a possibilidade de que mulheres vivendo com HIV em terapia antirretroviral regular e carga viral indetectável engravidem normalmente, sem risco de transmissão do vírus para seus filhos. Essa grande notícia tem possibilitado a realização de sonhos das mulheres que vivem com HIV, tranquilizando-as a constituir suas famílias com crianças sem o vírus.
Como última e importante mensagem gostaríamos de lembrar que é recomendada também a testagem regular de mulheres negativas para o HIV que estejam em aleitamento materno. Temos de recordar que essas também são sexualmente ativas e apresentam risco de infecção, assim como a população geral. Havendo infecção nessa fase, o aleitamento deve ser imediatamente suspenso e a criança submetida ao tratamento profilático.
Devemos divulgar e veicular de forma ampla o assunto HIV/Aids não apenas neste 1º de dezembro, mas sempre e em todas as oportunidades. Isso facilita tanto a reflexão sobre as medidas de proteção para novas infecções, quanto o acolhimento e menor discriminação de quem vive com HIV.
Saiba mais:
Relatoras:
Daniela Vinhas Bertolini
Flavia Jacqueline Almeida
Departamento Científico de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo