Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 01/04/2022
O termo “autismo” foi cunhado em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, buscando descrever a “fuga da realidade” em pacientes esquizofrênicos. Em 1943, o psiquiatra Leo Kanner fez o primeiro relato de caso usando o termo “autismo infantil”, no qual descreve crianças que apresentavam isolamento, um desejo obsessivo pela preservação de “mesmices” e movimentos motores característicos. Em 1980, o autismo passou a ser reconhecido como uma condição específica do neurodesenvolvimento e passou a ser classificado entre os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) na 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM – criado pela Associação Americana de Psiquiatria e referência mundial para o diagnóstico das condições psiquiátricas). Atualmente, na 5ª edição do DSM (DSM-5), publicada em 2013, há uma categoria específica para o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Assim como o diagnóstico de TEA evoluiu muito ao longo dos anos, a percepção e os processos de inclusão a aceitação de pessoas com TEA estão avançando na sociedade, com melhoria da inserção social e da qualidade de vida dessas pessoas e de suas famílias.
Há 30 anos, quando se pensava em autismo, era difícil fugir de um estereótipo como o retratado no personagem Raymond, interpretado por Dustin Hoffman no filme Rain Man.
Hoje, sabemos que, como o próprio nome diz, o autismo é um espectro e as apresentações clínicas podem variar muito, desde aqueles casos mais graves, até casos bastante leves, de difícil diagnóstico. O que une esses casos dentro do mesmo diagnóstico são as dificuldades de comunicação social e a presença dos chamados comportamentos atípicos. E o que significa isso? Os seres humanos usam a linguagem – gestos e palavras – para se comunicar uns com os outros e conseguirem o que querem. As pessoas com TEA têm dificuldade em fazer isso, além de, também terem dificuldade em olhar nos olhos dos outros. Ainda podem estar presentes alguns comportamentos atípicos como a presença de interesses restritos (a pessoa com TEA pode ficar em uma mesma atividade ou exploração por muito tempo, rodar as rodas de um brinquedo, abrir e fechar uma porta, deitar e brincar de empurrar um carrinho e tantas outras “mesmices”), comportamentos mais rígidos ou necessidade de seguir sempre as mesmas rotinas, dificuldades relacionadas com questões sensoriais (como não gostar de determinadas texturas, ficar desconfortável em lugares com muito barulho ou com muita luminosidade ou apresentar seletividade alimentar importante), além de movimentos motores como balançar os braços quando está muito feliz ou andar nas pontas dos pés, as chamadas estereotipias.
O diagnóstico do TEA é baseado nesses sintomas clínicos (não existe nenhum exame laboratorial ou de imagem que seja confirmatório) e deve ser feito por um médico com experiência em desenvolvimento infantil. Com a difusão dos conhecimentos sobre autismo, o diagnóstico tem sido cada vez mais precoce, o que beneficia o início das terapias e o melhor prognóstico de evolução. Crianças que iniciam as intervenções antes dos 3 anos de idade em geral se desenvolvem muito bem e têm condições de frequentar escolas convencionais, ter uma vida independente e se integrar socialmente. As terapias visam melhorar as dificuldades centrais apresentadas por cada pessoa e buscam desenvolver as habilidades comunicativas e sociais necessárias para sua inserção no contexto sociocultural em que vivem. Em geral, envolvem a participação de uma equipe interdisciplinar, composta por médicos(as), psicólogos(as), fonoaudiólogos(as), terapeutas ocupacionais, nutricionistas, entre outros.
Crianças e adultos com TEA têm as suas particularidades, mas têm vontades, desejos e direitos como todos os outros e merecem ser tratados com respeito e carinho como qualquer outra pessoa!
Relatores:
Mariana Granato
Luiz Guilherme A. Florence
Membros do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento e Aprendizagem da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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