Em abril de 2021, a resolução 75/76 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) consagrou o dia 25 de julho como o Dia Mundial da Prevenção do Afogamento, com o intuito de aumentar a conscientização sobre o impacto profundo e trágico dos afogamentos para famílias e comunidades no mundo e oferecer soluções de prevenção.
Dados de afogamento:
- Os afogamentos são a terceira causa de morte acidental e representam quase 8% do total de mortes globais. Mais de 90% destas mortes ocorrem em países de baixo e médio rendimento.
- Houve 236 mil mortes em 2019, sem contabilizar as mortes por afogamento intencional (homicídio e suicídio), por afogamento em catástrofes com inundações (eventos cada vez mais comuns com as mudanças climáticas) ou os que ocorrem em acidentes no transporte aquático (exemplo: transporte irregular de refugiados, além da subnotificação em vários países).
- É uma das principais causas de mortalidade infantil em vários países, estando entre as 10 principais causas de morte em todo o mundo para crianças de 5 a 14 anos.
- Mais da metade das vítimas tem menos de 25 anos, com predomínio do sexo masculino. São considerados fatores de risco: falta de barreiras de acesso em reservatórios de água, falta de supervisão adequada, uso de álcool ou drogas ou outros comportamentos de risco na água, algumas condições médicas como epilepsias, algumas arritmias, autismo, entre outras.
- No Brasil, em 2018, o número de óbitos por afogamento foi de 5.597 casos, sendo a segunda causa de óbito entre crianças de 1 a 4 anos e a terceira causa na idade de 10 a 19 anos. Além das mortes, o afogamento constitui importante causa de morbidade: sequelas neurológicas, como estado vegetativo persistente ou tetraplegia espástica, ocorrem em 5-10% dos casos de afogamento na infância.
A ONU, ao reafirmar que o afogamento é evitável, incentiva todos os Estados Membros, agências, organizações da sociedade civil, do setor privado e indivíduos a desenvolverem programas de prevenção em linha com as intervenções recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, tais como:
- Instalação de barreiras para limitar o acesso à água: cercas em piscinas, coberturas em poços e cisternas.
- Instalação de locais seguros para crianças em idade pré-escolar onde possam ser vigiadas adequadamente.
- Ensino às crianças com idade escolar das competências básicas da natação, de segurança aquática e de salvamento seguro.
- Ensino às potenciais testemunhas das manobras de salvamento e de reanimação seguras.
- Conscientização e sensibilização do público sobre o problema com destaque na vulnerabilidade das crianças.
- Elaboração e cumprimento de regulamentos de segurança a bordo das embarcações de recreio, navios comerciais e ferries.
- Gestão de riscos de inundação e outros perigos em nível local e nacional.
- Coordenação dos esforços de prevenção de afogamento com os outros setores e programas.
- Desenvolvimento de um plano nacional de segurança aquática.
- Abordar questões de investigação prioritárias com estudos bem concebidos.
As intervenções de prevenção de afogamento variam desde soluções baseadas na comunidade, como creches adequadas para crianças e barreiras que controlam o acesso à água, até políticas e legislação nacionais eficazes sobre segurança da água, incluindo o estabelecimento e aplicação de regulamentos de navegação a obras de controle (gerenciamento) de inundações. Em ano de eleição, exija a atenção de governantes para esse problema de saúde pública tão negligenciado. Está na hora de desenvolver um plano nacional de segurança na água, coordenado com vários setores da sociedade.
O tema desse ano para o dia 25 de julho é: faça algo que previna o afogamento. Esse chamado encoraja e desafia as pessoas a considerarem o que podem fazer, seja como indivíduo, grupo ou governo, para enfrentar a ameaça real de afogamento em suas comunidades. “Qualquer que seja nossa área de influência, cada um de nós pode assumir a responsabilidade pela mudança ao assumir esse compromisso. Para alguém em risco de afogamento, essa “coisa” pode significar o mundo.”
Relatora:
Tania Zamataro
Presidente do Departamento de Segurança da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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