Thomas Hobbes cunhou uma frase que permanece verdadeira e viva até os dias de hoje: conhecimento é poder. O Dia Internacional do Estudante surgiu dentro de um cenário de luta dos que tinham poder e queriam abafar as poderosas vozes de estudantes e professores, detentores de um conhecimento que incomodava – liberdade e justiça.
Essa data homenageia a memória de um grupo de estudantes da antiga Tchecoslováquia, que lutou contra as tropas nazistas que invadiram o país na Segunda Guerra Mundial. No dia 28 de outubro de 1939, durante a ocupação nazista, estudantes da Universidade Carolina em Praga fizeram uma manifestação para comemorar o 21º aniversário da independência da República da Tchecoslováquia. O movimento foi brutalmente reprimido pelos alemães: 15 estudantes ficaram feridos e um morreu no hospital. As forças invasoras permitiram que a família e amigos realizassem o funeral do estudante morto, com uma procissão no centro de Praga, que se transformou numa demonstração contra a ocupação nazista. Em represália, as universidades foram fechadas, mais de 1.200 estudantes foram deportados para o campo de concentração de Sachsenhausen. No dia 17 de novembro de 1939, oito estudantes e um professor foram executados sem julgamento. As universidades permaneceram fechadas até o final da guerra. Em 1941, foi realizado em Londres, no Reino Unido, o Conselho de Estudantes Internacionais. Nesse evento instituiu-se o Dia Internacional do Estudante, lembrando a data das execuções dos estudantes tchecos.
Estudantes e escolas são a cara e a coroa de uma única moeda. Desempenham papéis diferentes e complementares. O papel do estudante é se tornar uma pessoa completa, aprender a conhecer o mundo, conhecer a si mesmo, conhecer pessoas e contribuir para se compreender e modificar a realidade, exercitar sua cidadania. Serão eles os novos profissionais, os novos educadores, os novos filósofos, os inventores de novas tecnologias, os novos líderes, enfim, os que transformarão a realidade recebida e construirão o futuro para a geração seguinte.
As escolas, mais do que ensinar a ler, a escrever e a projetar uma carreira profissional, contribuem para que as pessoas desenvolvam valores éticos, morais e políticos, bem como o senso crítico, tão necessário para a vivência em sociedade. É papel da escola educar (e da família também), que para Rubem Alves é “mostrar a vida a quem ainda não a viu”.
As nossas crianças, entretanto, estão vendo uma realidade que precisa ser decodificada por pais e educadores.
Pensar que uma escola possa ser insegura para os nossos filhos parece bizarro e assustador, uma vez que queremos que a frequentem por ser fundamental para o seu desenvolvimento. Entregamos à escola a tarefa de ser participante e copromotora desse desenvolvimento. A violência social que se infiltra intramuros da escola tem um fator de agravo real e preocupante – a falta do Pão.
A singeleza da palavra pão não traduz a grandeza do símbolo. Pão é alimento. Pão é vital para a sobrevivência.
A insegurança alimentar paira, hoje, sobre um enorme contingente de pessoas espalhadas pelo mundo. Aliás, estão à nossa porta, diante de nossos olhos. Na rua em que circulamos. A desnutrição aguda é triste, a crônica é cruel. Ambas acarretam consequências ao indivíduo. Quando acomete crianças, o cenário se torna ainda mais dramático. Quanto mais precocemente se instala e duradoura é, piores são as sequelas que pode acarretar, pois pode comprometer de forma consistente o futuro do indivíduo.
“Quem tem fome, tem pressa” – esta frase famosa do sociólogo Herbert de Souza (Betinho) – 1935-1997, dita tempos atrás, já nos alertava para esse grave problema social – a Fome.
Em tempos “bicudos” de escassez, de insegurança alimentar, dentro de um mundo ansiogênico e ameaçador, a Escola passa a ser um bom lugar para alimentar a alma, o espírito e o corpo de nossos estudantes.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP