27 de junho é o Dia Internacional do Diabético. O diabetes é uma das doenças mais prevalentes no mundo e com potencial para aumentar ainda mais. Segundo a Federação Internacional do Diabetes (IDF), atualmente são cerca de 537 milhões de pessoas adultas de 20-79 anos vivendo com diabetes, ou seja, em cada 10 pessoas uma tem a doença. A estimativa é que até 2030 serão 643 milhões e até 2045, 783 milhões. A grande preocupação é que as nossas crianças de hoje serão os adultos de amanhã. E como prevenir para que elas não estejam nesta estimativa?
Primeiro é importante entender que existem diferentes tipos de diabetes; na infância, o diabetes tipo 1 (DM1) é o mais comum. Esse tipo de diabetes responde por cerca de 8,75 milhões de pessoas em todo o mundo e apenas 1,52 milhão tinham menos de 20 anos em 2022. Nesse tipo há uma predisposição genética e algum gatilho ambiental ativo e inicia-se um processo autoimune em que as células produtoras de insulina são destruídas e o portador da doença necessita repor este hormônio para sobreviver. Embora o DM1 ainda não tenha cura, novos tratamentos com insulinas modernas e tecnologia assessorando o controle da doença permitem que os portadores tenham uma excelente qualidade de vida e seu melhor controle glicêmico diminui a chance de evoluir para complicações crônicas.
Outros tipos de diabetes também podem ocorrer entre os mais jovens, inclusive o diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Isto desenvolve-se pelo aumento da obesidade infantil, que acelera a cada dia nas estatísticas. Nesse tipo de diabetes, a produção de insulina não acabou, mas a insulina produzida não consegue exercer a sua função adequadamente devido a uma resistência em sua atuação, levando ao aumento da glicemia. Essa elevação, por sua vez, gera outras alterações em órgãos importantes, como olhos, rins, coração e nervos, predispondo a graves doenças e aumento e antecipação na mortalidade.
Assim, é muito importante estar atento ao seu filho, pois o diagnóstico precoce e o tratamento corretos podem mudar a evolução desse quadro.
E o que pode ser feito para que nossas crianças de hoje não sejam os portadores de diabetes de amanhã?
Primeiro devemos pensar no diabetes como uma condição e que se não cuidada poderá levar a doenças e complicações, mas o seu cuidado permitirá uma boa evolução. Não é verdade que toda pessoa com diabetes terá algum tipo de complicação, sendo que aqueles que conseguem manter um controle adequado dos valores de glicemia possuirão uma boa qualidade de vida a curto e longo prazo, através de cuidados adequados e acompanhamento com a equipe de saúde. Segundo, devemos olhar na prevenção para que as crianças saudáveis se mantenham sem a doença. O que falamos é que em ambos os casos, portadores ou não portadores de diabetes, há a necessidade de um estilo de vida saudável para se manter são.
Muitas pessoas não sabem que jovens também podem ter DM2 e que nesse grupo etário a doença pode ter uma progressão mais agressiva e com complicações mais precoces do que na idade adulta.
Vamos então conversar sobre como proceder em relação à prevenção do DM2 e como suspeitar nos casos em que a criança já esteja com a doença.
A prevenção se faz com manutenção do peso dentro do ideal, para cada idade e sexo. A obesidade e o sobrepeso são fatores de risco para DM2. A prática de exercícios físicos auxilia a manter a saúde física e mental da criança, colaborando na prevenção da doença. Manter uma dieta saudável, evitando o excesso de doces, refrigerantes, fast food, embutidos e alimentos ultraprocessados é fundamental para manutenção da saúde de seu pequeno.
Na infância, o que mais ocorre é o DM1, que é de origem autoimune e seu aparecimento não está relacionado com a dieta que a criança tem; mas uma vez adquirido, será importante manter uma dieta equilibrada.
Os sintomas são perda de peso, cansaço, desânimo, falta de ar, muita sede, urinar muito e muita fome. Às vezes algumas crianças têm sintomas mais inespecíficos, como coceira, dores de barriga, acelerar o coração ou até desmaiar.
Falar sobre diabetes é importante por muitos motivos.
Procure assistência médica o mais rápido possível, se reconhecer estes sintomas clássicos da descompensação do diabetes: perda de peso (apesar de uma alimentação adequada ou até com mais fome do que o habitual); aumento da sede e aumento da quantidade da urina e da frequência das micções. Estes sintomas podem acontecer em qualquer idade. Quanto mais cedo se faz o diagnóstico, quanto antes se inicia o tratamento, menor o risco de uma descompensação grave.
Ao longo dos últimos 100 anos, a partir da descoberta da insulina, a vida das pessoas com diabetes mudou muito. A insulina permitiu que esse diagnóstico preocupante passasse a ser compatível com uma vida com menos limitações e complicações.
Os últimos 20 anos foram marcados por avanços tecnológicos impressionantes. Os medicamentos mais modernos, que agem por mais tempo e têm menos risco de hipoglicemia, ou que agem mais rápido e permitem um melhor controle da glicemia após as refeições, foram se tornando acessíveis para as pessoas que dependem de insulina para viver. As canetas que utilizam agulhas menores permitiram mais conforto na aplicação da insulina. O acesso a sensores de glicose permite um controle glicêmico muito mais preciso e confortável para quem precisa olhar sua glicemia muitas vezes ao dia. Os sistemas de infusão contínua de insulina (as conhecidas “bombas de insulina”) passaram a ser automatizados e acoplados aos sensores. Quem imaginou que tantos avanços aconteceriam em 100 anos!
O uso da tecnologia para promover educação e conscientização permite que em lugares mais distantes seja possível oferecer atendimento de melhor qualidade. Sabemos que o caminho ainda é longo; muitas pessoas com diabetes ainda não têm acesso às tecnologias mais modernas ou enfrentam dificuldades para encontrar profissionais de saúde especializados, mas vivemos em um país onde o acesso a medicamentos e insumos para o cuidado do diabetes é garantido pelo SUS. As sociedades científicas e as organizações de pessoas com diabetes trabalham diariamente para que os diagnósticos sejam mais precoces, os tratamentos mais acessíveis e a sociedade mais estruturada.
No Dia Internacional do Diabético precisamos pensar em promover educação, celebrar os avanços no tratamento e lembrar que ainda hoje muitas pessoas demoram para receber o diagnóstico e ter acesso aos cuidados de saúde adequados para terem uma vida saudável com diabetes. Falar sobre diabetes, em um mês dedicado a esse assunto, permite que os profissionais de saúde estejam mais atentos e atualizados, que as redes de apoio das pessoas com diabetes estejam mais capacitadas, que as políticas públicas sejam ajustadas às realidades regionais e que todas as pessoas com diabetes possam viver com mais saúde.
Relatores:
Jesselina Haber
Laura Cudizio
Thiago Santos Hirose
Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo