No ano de 2007, a Organização das Nações Unidas declarou o dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Nesta data, alguns monumentos públicos são iluminados com a cor azul, que foi a escolhida para representar o autismo. Em muitos países acontecem eventos para marcar a data e se discutir o assunto. Há alguns anos, a Sociedade Brasileira de Psicanálise, bem como o Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP) vêm fazendo jornadas para a discussão e debate dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), última nomenclatura adotada pelo Manual diagnóstico e estatístico de transtorno (DSM V).
Mas, afinal, quais características encontramos nas crianças que podem ser pensadas como fazendo parte do espectro do autismo?
Essas crianças, em geral, não falam. Se o fazem, é muitas vezes uma fala repetitiva, bizarra e aparentemente sem sentido e nem sempre com intenção comunicativa. Apresentam rituais obsessivos, como empilhar ou enfileirar objetos e/ou brinquedos e estes não são usados de forma simbólica, isto é, em brincadeiras que pressupõem um faz de conta. Há um uso excessivo de experiências sensoriais, por exemplo: rodar objetos e fixar o olhar no movimento deles, rodopiar em torno de si, fazer movimentos com a língua dentro da boca, segurar objetos duros nas mãos, andar nas pontas dos pés, entre outras. Também se observa que essas crianças não mantêm contato ou trocas visuais com as pessoas ou parecem ter um olhar “perdido no nada”. Evitam o contato com outras crianças ou mesmo adultos do seu convívio e muitas vezes se isolam.
A etiologia dos transtornos do espectro do autismo permanece desconhecida. Porém, é provável que seja multifatorial, na qual coexistem aspectos orgânicos, psíquicos e ambientais. No entanto, o importante é que a busca por ajuda se dê o mais cedo possível, melhorando assim as chances de um bom prognóstico.
Quanto às abordagens terapêuticas, temos aquelas que buscam o alívio dos sintomas, por meio de um trabalho que visa fortalecer comportamentos desejáveis e/ou enfraquecer os não esperados, buscando assim a autonomia e adaptação social da criança ao meio – as chamadas terapias comportamentais.
Outro tipo de atendimento, que tem sido cada vez mais procurado, são as terapias baseadas nos princípios da técnica psicanalítica, que faz uso de recursos que buscam ajudar essas crianças a saírem deste universo onde se encontram fechadas, em que o contato afetivo não existe ou é precário. As aquisições de comportamentos, que acontecem ao longo do trabalho psicanalítico, são conquistadas a partir dos ganhos que surgem quando a criança é resgatada de sua condição de “não ser”. O atendimento psicanalítico não está unicamente interessado em condutas e competências adaptativas, mas sim em possibilitar a essas crianças fazer parte ativa de um mundo povoado por sentimentos, emoções e todo o colorido da natureza humana. Em alguns casos, faz-se necessário o uso de terapia medicamentosa como complemento ao trabalho psicoterapêutico.
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Relatora:
Fatima M. Vieira Batistelli
Departamento Científico de Saúde Mental da SPSP.
Publicado em 11/03/2017.
photo credit: Kevinfruet | Commons.wikimedia.org
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