Você sabia que em 19 de setembro é celebrado o Dia Internacional de Atenção aos Acidentes Ofídicos? Esta data foi criada por uma coalizão de organizações, entre elas a OMS, visando aumentar a conscientização e a visibilidade sobre o impacto mundial das picadas de cobra, com ênfase na promoção de estratégias de prevenção, tratamento e educação na abordagem desses acidentes. O entendimento da dimensão deste agravo em nossa população e a distribuição geográfica das ocorrências em cenário nacional reforçam a necessidade de investimentos em pesquisa, com a descoberta de novos antivenenos e tratamentos mais rápidos e eficazes.
Recentemente, após a ocorrência das grandes enchentes no Rio Grande do Sul, houve aumento importante das picadas de jararacas, que foram trazidas pelas águas para o ambiente outrora habitado pelo ser humano.
De importância epidemiológica no Brasil, as mais frequentemente envolvidas com acidentes são as jararacas – serpentes agressivas e habitantes de áreas mais úmidas, paióis, locais com grande quantidade de roedores e de hábito prioritariamente vespertino. As cascavéis são as segundas em termos de número de ocorrências, habitam locais mais secos e arenosos, “podendo avisar” quando vão atacar a presa, com o ruido do chocalho. De menor importância em termos de número, temos os acidentes causados pela surucucu e a coral. A surucucu prevalece nos Estados do Norte e a cobra coral pode causar acidentes muito graves, sendo, porém, menos frequentes no Brasil. O reconhecimento dela se dá pela presença dos anéis coloridos, que podem ser de diversas formas e coloração, não havendo padrão único.
Como estratégias de prevenção, devemos citar:
- Educação continuada da população:Informar as comunidades sobre os riscos das serpentes e como se comportar em áreas onde elas são comuns, mapeando a ocorrência das mesmas;
- Orientar o uso de calçados adequados:Incentivar o uso de botas e calças longas ao caminhar em áreas de risco, particularmente em áreas úmidas ou que sofreram enchentes.
- Remover potenciais abrigos para serpentes:Manter os ambientes limpos e livres de entulhos, que possam servir de abrigo para serpentes;
- Evitar contato:Ensinar as pessoas a não tentar capturar ou matar serpentes, pois isso aumenta o risco de picadas. Além disso, orientar que não se deve mexer em buracos no chão ou ocos de árvores, sem a devida proteção;
- Outra informação interessante: nem todas as serpentes possuem veneno (por exemplo, no Brasil, temos as jiboias e sucuris, que não são venenosas) e nem toda picada, ainda que de serpentes venenosas, levará a envenenamento. Isso dependerá do gênero da cobra e da quantidade de veneno aplicada. Mas o leigo não tem como saber isso; portanto, todo paciente picado por serpentes deve ser encaminhado ao hospital o mais rapidamente possível, para tratamento oportuno.
Tratamento e manejo dos acidentes ofídicos
Caso ocorra acidente com cobras deve-se tomar essa sequência de atitudes:
- Buscar ajuda médica:A primeira ação após uma picada deve ser procurar atendimento médico o mais rápido possível. Deve-se acalmar a vítima e afastá-la da serpente. Preferencialmente o atendimento deve ser em locais onde haja soro;
- Imobilização do membro afetado:Manter a área da picada imóvel e abaixo do nível do coração pode ajudar a retardar a propagação do veneno. Deve-se também tirar todos os adereços que podem aumentar a constrição do membro: anéis, pulseiras, cintos, fitas, cordas, ou quaisquer outros adereços que podem comprimir o local picado, piorando a necrose;
- Não aplicar torniquetes:O uso de torniquetes pode causar mais danos do que benefícios e deve ser evitado. O torniquete, além de dificultar a circulação local, pode permitir que o veneno fique muito concentrado na região da picada, acentuando o efeito necrosante, que é frequente, principalmente na picada da jararaca, aumentando a chance de amputação e sequelas locais;
- Administração de antiveneno:O tratamento com antiveneno é a forma mais eficaz de neutralizar os efeitos do veneno, e deve ser administrado por profissionais de saúde. Os tratamentos caseiros, como ervas medicinais, borra de café, garrafadas ou querosene não são eficazes e não devem ser feitos.
- Tratamento com antiveneno: estes são encontrados apenas nos hospitais do SUS. O antiveneno deve ficar armazenado em temperatura de 2 a 8 graus e deve ser administrado em ambiente hospitalar. A descrição da cobra ou uma foto dela pode ajudar na prescrição de soro específico. Os soros antiofídicos de uso veterinário não devem ser usados em humanos. Não se deve criar serpentes venenosas de outros países, pois o antiveneno provavelmente não estará disponível em nosso país e caso ocorram acidentes, a evolução pode ser dramática.
Apesar de ser terapêutica aplicada em hospitais do SUS, nem todos eles possuem o antiveneno. Assim, as Secretarias de Saúde dos Estados são responsáveis por avaliar e indicar os hospitais mais adequados para administrar os soros antiofídicos. É importante que as pessoas conheçam o hospital mais próximo das suas casas onde eles se encontram.
Caso encontre uma serpente, você deve afastar-se dela. Se ela tiver aparecido dentro ou próximo da residência, contate a autoridade competente para que seja providenciada a remoção da serpente para um local que não ofereça risco à população.
Relatores:
Joelma Gonçalves Martin
Graziela de Almeida Sukys
André Pacca Luna Mattar
Departamento Científico de Emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo