Texto divulgado em 10/05/24
O Relatório sobre a Situação da População Mundial de 2023 do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas*), intitulado “8 bilhões de pessoas”, mostrou que na maioria dos países da África subsaariana, as mulheres afirmam ter, em média, dois ou três filhos a mais do que gostariam, enquanto a maioria das mulheres japonesas sem filhos afirma, no entanto, que os quer e, nos países de baixa e média renda, apenas uma em cada quatro mulheres tem o número de filhos que deseja.
Para muitas mães em todo o mundo, o Dia das Mães a cada ano é um momento para serem homenageadas, receber agradecimentos e apreço por tudo o que fazem. Contudo, para centenas de milhares de mulheres no planeta, esta gratidão não é suficiente, sendo que o estudo do UNFPA revelou que uma mulher morre a cada dois minutos por causas relacionadas à gravidez ou ao parto, sendo que a grande maioria destas mortes se deve a causas evitáveis, como hemorragias ou infecções.
Sabe-se que, muitas vezes, a mulher não tem direito à escolha de ser mãe e nem a opção de engravidar – em 68 países, quatro em cada dez mulheres e adolescentes que estão em relacionamentos afirmam não conseguir fazer as suas próprias escolhas em matéria de saúde, sexualidade ou contracepção. Ao mesmo tempo, os dados mostram que as gestações resultantes de violação são pelo menos tão comuns como as resultantes de relações sexuais consensuais.
O Dia das Mães festeja a maternidade e a fertilidade. Atravessou séculos como uma homenagem às funções biológicas e social da mulher. Mesmo que a data pareça ultrapassada e desatualizada para algumas pessoas, esse dia continua a ser especial, apesar da revolução no papel das mulheres, nas modificações do modelo familiar, do consumo excessivo, do “ter” em vez de “ser”.
As mães devem ser celebradas todos os dias e devemos lembrar daquelas que tanto se esforçam para manter os filhos saudáveis e felizes. Podem até ser consideradas “parceiras médicas”, mesmo não tendo diploma, por algumas razões: alimentam e medicam os filhos desde o útero, não usam drogas lícitas ou ilícitas, amamentam com dedicação, fornecem alimentos saudáveis, ensinam e praticam higiene, decifram seus filhos, são intuitivas e sabem quando algo não está bem.
Quantos médicos, especialmente pediatras, deveriam praticar estas habilidades: saber ouvir, prestar atenção no que está sendo trazido na consulta, ler nas entrelinhas, tentar decifrar o verdadeiro problema, preocupar-se com sintomas e sinais aparentemente sutis ou frustros, ter a intuição de que está acontecendo alguma coisa com a criança, observá-la e sua relação com a família, mantê-la em observação ou avaliá-la em curto período de tempo, aconselhar sobre higiene para prevenir e controlar a propagação de doenças.
E não podemos nos esquecer das mães médicas, especialmente as pediatras: segundo a Demografia Médica no Brasil (2023), a Pediatria é a segunda especialidade com maior número de inscritos nos CRMs – somos 48.654 (9,8% do total de especialistas). Mulheres pediatras são 75,6% do total, enquanto os homens correspondem a 24,4%.
As pediatras equilibram uma variedade de tarefas: trabalhar 60 horas por semana, ser esposa, cuidar de pacientes, trabalhar à noite, manter uma rotina de exercícios físicos, defender as necessidades dos outros, criar e mudar políticas, ser empresária – e muitas fazem tudo isso sendo mães também.
As pediatras que são mães devem ter certeza de que devem se sentir dignas e valorizadas, compartilhar momentos felizes e desafiadores, não devem sentir vergonha de exercer tantos papéis ao mesmo tempo e saber que podem ser substituíveis no trabalho, mas nunca em casa!
Neste Dia das Mães, vamos presenteá-las ao defender seus direitos e valorizar as suas contribuições para a saúde das famílias. Como todos os seres humanos, têm sentimentos, cometem erros, têm pontos fortes e fracos e, quanto mais saudáveis física e emocionalmente forem, mais fortes e saudáveis serão as famílias e comunidades.
Saiba mais:
– O UNFPA é a agência das Nações Unidas para a saúde sexual e reprodutiva, cuja missão é proporcionar um mundo onde cada gravidez seja desejada, cada parto seja seguro e o potencial de cada jovem seja realizado.
– Scheffer M et al. Demografia Médica no Brasil, 2023. Disponível em: https://amb.org.br/wp-content/uploads/2023/02/DemografiaMedica2023_8fev-1.pdf.
– Olazagasti C, Florez N. Work-life balance vs. work-life integration: a young physician mother’s journey. Oncologist. 2022 Sep 6;27(11):991–2. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9632305/
– Dia das Mães: 4 motivos para defender as mães. Disponível em: https://www.unfpa.org/fr/news/fete-des-meres-4-raisons-de-defendre-les-meres
– Jacquemond L-P. La véritable histoire de la fête des mères. Hors-série Les Grands Dossiers n° 11 – Décembre 2022 – Janvier 2023. Disponível em: https://www.scienceshumaines.com/la-veritable-histoire-de-la-fete-des-meres_fr_45286.html
Renata Waksman
Presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo