Estima-se que 1% da população brasileira tenha algo em comum com estas pessoas muito famosas: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Winston Churchill, Nicole Kidman, Julia Roberts, Anthony Quinn, Isaac Newton, Anthony Hopkins, Marilyn Monroe, Elvis Presley. O problema desse grupo de pessoas é tão antigo que a Bíblia dá conta de que Moisés “era tardo em falar”; a história retrata o grande orador grego Demóstenes tendo que colocar pedrinhas na boca para superar o seu problema. De que estamos falando? Da gagueira.
A gagueira na infância é um distúrbio da fala caracterizado pela repetição ou prolongamento/demora na hora de emitir alguns sons; ocorre uma alteração no tempo de execução das sílabas, das palavras e das frases, interferindo assim na fluência da fala (interrupções involuntárias) e na comunicação da pessoa.
A origem do quadro é multifatorial, incluindo aspectos genéticos, o que explicaria o aparecimento, em maior número, de casos de gagueira em uma mesma família. Outra teoria imputa como causa o funcionamento incorreto dos núcleos da base. Essa região do cérebro é a responsável por realizar a intercomunicação das áreas cerebrais que tornam possível a realização de atos motores complexos. É importante enfatizar que os fatores emocionais podem ser agravantes, mas não os causadores da gagueira. Há uma maior incidência no sexo masculino.
Pessoas com este distúrbio sabem o que querem dizer, mas não conseguem realizar o ajuste de tempo e a duração dos sons. Esse descompasso ocasiona os prolongamentos, as repetições de emissões ou as pausas na fala a partir de sons de risco – explicar melhor o que são sons de risco. Além disso, pessoas com gagueira podem ser fluentes no canto, declamações de poemas e outras atividades correlatas. Isso se justifica pelo fato de que a região cerebral estimulada na fala não espontânea é diferente daquela a cargo da fala de sincronia. Exemplos de brasileiros conhecidos: o cantor Nelson Gonçalves e os artistas Murilo Benício e Malvino Salvador.
Os principais sintomas que podem ser percebidos são: utilização de interjeições, sons prolongados, nervosismo e ansiedade na construção de palavras e sons, ansiedade no começo de discursos, movimentos involuntários, como tremores faciais ou piscar de olhos, diminuição da capacidade de se comunicar (tendência a economizar as palavras em uma frase, falar devagar ou pausadamente).
O diagnóstico precoce e o começo do tratamento com a ajuda de um profissional de Fonoaudiologia são estratégias essenciais para evitar um quadro crônico. A gagueira infantil pode ser percebida entre os dois e três anos, que corresponde ao período de desenvolvimento da fala, através do aparecimento de alguns sinais frequentes, como dificuldade para concluir uma palavra e prolongamento de sílabas, por exemplo.
A participação dos pais e demais adultos que interagem com a criança representa papel importante para o tratamento da criança:
– É necessário ser um bom ouvinte, ou seja, escutar o que a criança tem a falar sem deixá-la ansiosa ou tentar adivinhar o que ela tem a dizer;
– Estimulá-la a conversar sobre assuntos fáceis e que sejam do agrado dela;
– Criar ambientes descontraídos, tranquilos e relaxados;
– Não reagir negativamente quando a criança gaguejar – trata-se de uma ação involuntária.
A música, em geral, é um fator de conforto, enlevo, alegria. É, também, instrumento de acolhimento e respeito. Por essa razão, convoco Noel Rosa para terminar este texto através da composição “Gago apaixonado”:
“Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago”.
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Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP