A bola da vez é o Zika vírus e não sem razão. Já que:
1) Ele é transmitido pelo Aedes aegypti, que é o mesmo mosquito que transmite a dengue e a chikungunya.
2) Já são contabilizados quase 6 mil casos de microcefalia desde 2015, que estão em avaliação para saber se são ou não provenientes do Zika vírus. Desses, até 27 de fevereiro de 2016, 1.046 casos já foram descartados e 641 foram confirmados.
3) Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) já apontam um risco de uma grande epidemia mundial e foco muito marcante no Brasil (com previsão de 1,5 milhões de casos).
A prevenção continua sendo a melhor conduta. Mas essa é uma situação nova no mundo e estamos conhecendo, a cada dia, novas facetas do vírus. Assim, a cada nova informação as autoridades de saúde responsáveis elaboram uma nova ação. E muitas dessas informações são veiculadas mundialmente. Afinal, não é só o Brasil que está vivendo essa situação.
Nos Estados Unidos, O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) está constantemente produzindo material a respeito dos dados mais recentes do Zika vírus. Foi criado um microsite com informações sobre a doença, sua transmissão, prevenção, sintomas, tratamentos e dados importantes para profissionais de saúde e gestantes.
Orientações a respeito do momento adequado para engravidar, viagens para locais com alta prevalência do Zika vírus e transmissão sexual da doença estão constantemente atualizadas no site do CDC. E nessa semana, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também abriu um espaço com informações e atualizações sobre o Zika vírus.
Então, esclarecemos alguns principais tópicos:
ZIKA VÍRUS E AMAMENTAÇÃO
Em 25 de fevereiro a OMS emitiu uma recomendação a respeito de aleitamento materno em pacientes com Zika vírus. Todas as orientações apontam para a importância do apoio alimentar por profissionais de saúde e consultores de aleitamento experimentados e, se for solicitado, para o início e a manutenção do aleitamento materno:
a) tanto em mães com infecção por Zika vírus suspeita, provável ou confirmada, durante a gestação ou após o parto;
b) assim como em mães e famílias de crianças nascidas com malformações congênitas (por exemplo, microcefalia).
Os estudos mostram que, apesar de o vírus ser encontrado no leite materno, não há relato atual documentado de transmissão do Zika vírus através do leite materno.
DIAGNÓSTICO DE MICROCEFALIA
Pela alta incidência atual de quadros de suspeita de microcefalia, um dado fundamental que se faz necessário é a medida padronizada do perímetro cefálico (PC – circunferência da cabeça do bebê). Em 1º de março, o Ministério da Saúde informou que vai modificar, a partir do dia 3 de março, o protocolo de notificação da microcefalia, seguindo novos critérios adotados pela OMS. A medida anterior do PC, que era menor do que 32 cm independente do sexo, passa agora para menor que 31,5 cm em meninas e menor que 31,9 cm em meninos. Mas, para a confirmação do diagnóstico, são necessários exames que mostrem se o cérebro está comprometido.
ZIKA VÍRUS NÃO É SÓ MICROCEFALIA
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) publicou em 2 de março de 2016 uma orientação referente ao atendimento de pacientes pediátricos portadores de microcefalia e de bebês com suspeita de infecção congênita por Zika vírus. O oftalmologista deverá avaliar e, se possível, documentar os achados e encaminhar os casos com alterações (lesões oculares, maculares ou periféricas) para controle epidemiológico (na Secretaria de Saúde Ocular de sua cidade) e os pacientes com lesões maculares ou com perda de capacidade visual por alterações neurológicas aos centros de reabilitação visual. Nesses casos, o exame de fundo de olho deverá ser repetido a cada 3 meses no primeiro ano de vida e a cada 6 meses após o primeiro ano. Também devem ser examinados os bebês cujas mães tenham suspeita de contaminação pelo Zika vírus durante a gestação (rash cutâneo, febre, artralgia). Os bebês com microcefalia sem lesões oculares deverão ser acompanhados a cada 6 meses, com realização do exame de fundo de olho, por um ano.
SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ
Esse é um quadro neurológico em que o sistema imunológico do corpo começa a combater um microrganismo (vírus ou bactéria, por exemplo) e acaba atacando as suas próprias células nervosas, provocando diferentes graus de manifestação, apresentando desde leve fraqueza muscular em alguns pacientes até o quadro raro de paralisia total dos quatro membros. Muitas patologias são relacionadas a esse quadro e, segundo a OMS, há fortes indícios de que o número desses casos esteja aumentando em locais onde o vírus Zika está presente.
Inicialmente podem ocorrer alterações na sensibilidade e formigamento que podem evoluir para um quadro de fraqueza (paralisia flácida ascendente), começando pelas pernas e subindo. Na maioria dos casos, a síndrome aparece de três a quatro semanas após uma infecção com sintomas gastrintestinais (diarreia) ou respiratórios (resfriados).
Estudos mostram que perto de 50% dos pacientes se recuperam totalmente até seis meses depois do aparecimento do quadro. Aproximadamente 30% podem apresentar sequelas leves (menor sensibilidade nos membros ou pequenas dificuldades motoras). Quase 20% dos pacientes costumam evoluir de forma um pouco mais grave (maiores dificuldades motoras e fraqueza nas pernas). Cerca de 5% pode apresentar paralisia dos músculos respiratórios e morte.
Não há como prevenir a Síndrome de Guillain-Barré. Aos primeiros sinais de suspeita do quadro, os pacientes devem buscar orientação e avaliação médica.
ELIMINAR O MOSQUITO
Apesar de investimentos na produção da vacina contra o Zika vírus e contra a dengue, e dos cuidados precoces e amplos para o diagnóstico e tratamento dos casos de microcefalia e problemas visuais, todos os esforços devem ser feitos para se evitar a proliferação do Aedes aegypti. Com relação à dengue, em 2015, tivemos a maior epidemia de todos os tempos e esses números só aumentam. Em Ribeirão Preto já são quase 6 mil casos suspeitos, taxa superior ao ano de 2015, que registrou 5 mil casos de dengue. Eliminar o mosquito é a única forma de conter essa grave epidemia, o Zika, que se apresenta agora para o mundo.
Sites confiáveis e recomendados:
http://combateaedes.saude.gov.br/
http://www.sbp.com.br/zika-virus-informacoes-atualizadas/
http://www.cbo.net.br/novo/publicacoes/Recomendacoes_SBOP_zika_virus.pdf
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Relator:
Dr. Moises Chencinski
Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP
Publicado em 9/03/2016.
photo credit: Oksix | Dreamstime.com
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