Relatora: Regina Donnamaria Morais
Fonoaudióloga Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento – Mackenzie/SP, Fonoaudióloga da Reabilitação Especializada – SP, Professora do curso de Especialização em motricidade oral da Santa Casa de Misericórdia de Campinas-SP e membro do Grupo de Trabalho “Saúde Oral” da SPSP.
Todas as formas de comunicação são manifestadas por meio de um instrumento de expressão significativa, que é a Linguagem. Para o uso deste instrumento são necessários vários componentes, entre os quais a capacidade do Sistema Nervoso Central (SNC), a utilização do aparelho sensóriomotor e o processo intelectual, que assimila, associa e organiza as experiências adquiridas com o meio. Nas atividades motoras desencadeadas pelo SNC, o aparelho motor oral desempenha a função de nutrição, respiração e articulação de sons, enquanto a motricidade global participa da comunicação por meio da expressão corporal. A diversidade de funções executada pelo aparelho motor oral exige de seus músculos, com diferentes tamanhos, atividades específicas de forma dissociada e sincronizada. A fala, como parte do processo de desenvolvimento da comunicação é a manifestação de som articulado e resultado de mobilidade dissociada dos elementos do complexo oral.A variabilidade de movimentos orais para a produção da fala se desenvolve com as diferentes fases de alimentação, em associação com a crescente capacidade respiratória e o desenvolvimento motor global. A respiração, a fonação e o desenvolvimento motor global são ações coordenadas desde o Choro.
Com o crescimento, o bebê muda sua qualidade vocal iniciado por um som exclusivamente nasal ao nascimento, devido a sua anatomia oral para uma respiração mista, por volta do segundo e terceiro mês de vida o bebê devido ao crescimento mandibular, aumentando o espaço vertical intra oral e maior mobilidade de língua e palato mole. Nesta fase, os sons do bebê podem ser observados tanto nasal como oral. Além do choro, podemos observar alguns sons articulados e os primeiros são os guturais: g;k;r gutural, agu;ka. A razão pela qual estes sons surgem em primeiro lugar se deve ao fato do bebê, adotar uma postura, preferencialmente, em prono e brincar com a respiração e a saliva dentro da boca. Em seguida, surgem produções sonoras envolvendo sons de p;m, devido a aproximação de mandíbula com maxila, a função bilabial e a respiração oral. Ainda por influencia dos movimentos de lábio e língua em associação com a respiração, aparecem os sons sibilantes, linguo palatais e fricativos, s;x;f; e n. Os sons de: b;d;v;z;j; sonoros, são produzidos pela ação das cordas vocais e se mostram mais sistemáticos quando o bebê desenvolve bom equilíbrio de cabeça e reação de retificação à mudança da cabeça no espaço. Os demais sons como l; lh; r; rr; arquifonemas ,r; s, requerem maior dissociação de movimento da língua e por esta razão, podem aparecer mais tardiamente.
Hoje, muitas crianças chegam a produzir grande variabilidade de sons, chamada de balbucio, durante os dois primeiro anos de vida e, até quatro anos ou menos, todos os sons que exigem maior dissociação de movimento.
Ter adquirido um sistema fonêmico não significa ter habilidade fonológica, sendo esta uma função bem posterior ao período de balbucio. Pouco antes de completar um ano surge o estágio de uma palavra, produzida de maneira diferente e com uma representação também diferente, podendo significar até mesmo um pensamento.
É possível identificar dois componentes do distúrbio da fala, o Fonético: Uma inabilidade para articular os sons da fala, envolvendo o componente motor, ou seja o fonema é apresentado de forma distorcida e o Fonêmico (fonológica): afeta o modo pelo qual a informação sonora é armazenada no SNC e como é acessada, afetando a linguistica. Neste caso as crianças podem apresentar omissão de fonemas na palavra, inversão na ordem dos fonemas, substituição de fonemas na palavra.
Também podemos identificar o Distúrbio Específico da linguagem – (DEL). A linguagem humana é uma representação simbólica linguística, gramatical e padronizada, destinada a transmitir uma mensagem, um pensamento, ao mundo exterior. Segundo diversos autores, a linguagem oral receptiva e emissiva são bases para o desenvolvimento do pensamento e a compreensão da escrita, uma vez que a palavra é a forma mais usada para a transmissão de uma informação às crianças. O pensamento e a cognição dependem da maturação no sistema nervoso central e da oportunidade do homem experienciar o mundo, recebendo informações – via aferente e respondendo ao meio por via eferente de maneira ativa. Portanto, é a interação entre o biológico, neurológico e social que confere à criança um adequado desenvolvimento cognitivo. O DEL representa uma dificuldade em desenvolver linguagem na ausência de deficiência mental, física, sensorial, emocional, privação ambiental ou lesões. Como “específica da linguagem”,os outros aspectos do desenvolvimento normalmente estão íntegros inclusive a comunicação não verbal. Podemos encontrar uma fala com pouca memória para uma seqüência de sons onde a fala é basicamente de monossílabos; Dificuldade no planejamento motor da produção dos fonemas com frases desestruturadas e/ou construídas na ordem inversa; vocabulário reduzido;Trocas na fala; Dificuldades ou não na compreensão.