A prevenção de doenças cardiovasculares, anemia e obesidade começa na vida intrauterina. Uma alimentação cuidadosa durante a gestação, amamentação e primeira infância possibilita o crescimento e desenvolvimento adequados do bebê e contribui para a formação de hábitos alimentares saudáveis para toda a vida.
Nos primeiros seis meses de vida, o leite materno é o alimento mais completo e indicado para os bebês. O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e mantido até os dois anos de idade ou mais, desde que tenha a função nutritiva e respeite a vontade da criança e da mãe. Após o sexto mês de vida, a alimentação complementar deve ser introduzida.
A alimentação é uma atividade que envolve muitas estruturas do corpo humano e a coordenação de todo o sistema neuromuscular. O aleitamento materno estimula a respiração nasal e correta sucção, favorecendo o crescimento harmônico da boca e da face, importante para a mastigação. Ele ainda expõe a criança a uma ampla experiência sensorial, facilitando a aceitação da alimentação complementar.
Ao completar seis meses, a criança apresenta maturidade para receber novos alimentos, em diferentes apresentações e texturas, na forma de alimentação complementar. Nessa idade, essa passa a preencher as necessidades nutricionais, até então supridas integralmente pelo aleitamento materno ou artificial, garantindo a manutenção do crescimento adequado e permitindo que a criança alcance o padrão alimentar da família a partir dos 12 meses.
A mastigação é uma função aprendida e o alimento oferecido em diferentes texturas é o responsável pelo seu desenvolvimento. Mesmo sem a presença dos dentes, a criança amassa e tritura os alimentos com a ajuda da gengiva, que já se encontra rígida pela proximidade da erupção dos dentes. No começo, ela apresenta movimentos irregulares em resposta a oferta de alimentos na forma de papas e pequenos pedaços, que evoluem para movimentos em ciclos com a oferta de alimentos mais consistentes, em pedaços maiores, crus, com casca ou bagaço (foto).
Os alimentos devem ser ofertados de maneira lenta e progressiva, respeitando os hábitos culturais e regionais. A criança pode apresentar resistência as novas texturas, odores, sabores e utensílios. É fundamental que a família tenha conhecimento das dificuldades e apresente um cardápio saudável, variado, saboroso, rico em alimentos “in natura”, com o mínimo de alimentos processados e conservantes (corantes, estabilizantes, adoçantes e outros ingredientes industriais) e com baixo teor de sal e gorduras. Vale lembrar que a criança não deve ser exposta ao açúcar até os dois anos de idade e que a água deve ser a fonte de hidratação. Sucos naturais não devem ser ofertados no primeiro ano de vida e a partir de então, consumidos com moderação. Sucos artificiais, refrescos e refrigerantes devem ser sempre evitados, pois além de atrapalharem o apetite, não são saudáveis.
A oferta dos alimentos nos dois primeiros anos de vida merece uma atenção especial e deve ser feita com cautela. A família desempenha o papel de “modelo alimentar” das crianças em relação ao que comer (qualidade, variedade e quantidade) e como comer (local, número e duração das refeições, ambiente tranquilo, companhia, etc.). Nessa fase, é essencial identificar e respeitar os sinais de fome e saciedade. A criança pode parar de comer quando está saciada, por estar distraída com o ambiente ou por querer descansar, voltando a comer em seguida. O importante é não forçá-la a comer, associar prêmios ao raspar o prato, ceder a chantagens ou trocar refeições por lanches ou guloseimas.
Hábitos estabelecidos na infância serão o alicerce da alimentação saudável ao longo da vida.
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Relatora:
Vera Regina Mello Dishchekenian
Grupo de Saúde Oral da Sociedade de Pediatria de São Paulo