Relatoras:
Dra. Zilda Najjar Prado de Oliveira
Professora colaboradora do Departamento de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Presidente do Departamento de Dermatologia Pediátrica da SPSP
Dra. Maria Cecilia Rivitti Machado
Médica responsável pelo ambulatório de Acne do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O que é atopia?
Atopia é tendência, geralmente familiar à hiperreatividade (alergias) que se manifestam principalmente no sistema respiratório (nariz: rinite, brônquios: bronquite asmática) e na pele (dermatite ou eczema atópico).
Como a atopia aparece?
A tendência de desenvolver atopia é geralmente herdada dos pais, mas também depende da interação do organismo com o ambiente.
Esta interação com o ambiente refere-se a aspectos físicos, isto é, com tudo o que a pessoa vai entrar em contato durante a vida: o ar, alimentos, infecções, clima, mas também aspectos psicológicos advindos do relacionamento entre pessoas.
Quando aparece a dermatite atópica?
Pode aparecer em qualquer idade, sendo mais comum nos bebês a partir dos três meses de idade.
A criança vai ter dermatite atópica para sempre?
Na maior parte das crianças, a dermatite atópica começa na primeira infância, e tende a desaparecer próximo da adolescência. Em cerca de 20% pode permanecer durante a idade adulta. Geralmente a dermatite atópica se manifesta em crises de piora. O tratamento apropriado não cura, mas garante controle do problema.
Como é o quadro clínico de dermatite atópica?
Prurido (coceira), vermelhidão, bolhinhas, ressecamento e espessamento da pele, sempre acompanhado de prurido intenso. Os locais acometidos variam com a idade. Nos bebês as lesões aparecem no rosto (bochechas), braços e pernas. Em crianças maiores, adolescentes e adultos nas dobras dos braços e das pernas. Também são comuns descamação e coceira nas palmas das mãos e plantas dos pés.
Em pessoas já geneticamente predispostas, quais são os fatores que favorecem seu aparecimento e podem desencadear crises de piora?
- Ambiente: poeira do ar, fumaça de cigarro e, possivelmente, outros.
- Clima: climas muito secos pioram a dermatite. A maior parte das pessoas com dermatite atópica melhora quando vai a lugares úmidos, como a praia, mas o calor intenso faz suar e o suor pode desencadear crises.
- Alimentos: alergia ao leite de vaca pode ser um fator importante no eczema que aparece nos primeiros meses de vida, daí em diante, o papel da alergia alimentar e duvidoso, de modo que, só se deve excluir um alimento da dieta da criança se houver confirmação muito nítida dessa intolerância, pois a exclusão de alimentos ricos em nutrientes essenciais poderia prejudicar a criança mais do que a própria dermatite.
- Infecções: a infecção bacteriana de pele é causa de exacerbação da dermatite atópica. É por esta razão que em muitas vezes se faz necessário administrar antibióticos no curso do tratamento.
- Ressecamento da pele: a oleosidade natural da pele é uma barreira de defesa contra substâncias do ambiente e contra infecções. No atópico a pele é mais seca, tendo menos resistência a algumas agressões. Climas muito secos e banhos prolongados com água muito quente e sabonetes de alto poder desengordurante removem a pouca oleosidade produzida pela pele do atópico, desencadeando, piorando ou mantendo uma crise de dermatite.
O que pode então desencadear uma crise de dermatite atópica?
Basicamente o ressecamento da pele, infecções cutâneas e o próprio ato de se coçar. Nos bebês, ambiente muito abafado e o suor provocam coceira e podem iniciar uma crise. Problemas emocionais, situações de stress podem também piorar a dermatite atópica, aumentando o prurido (coceira).
Como é o tratamento?
Ainda não existe tratamento que cura a dermatite atópica; porém, pode-se conseguir controle bastante satisfatório do eczema e a superação das crises. São quatro pontos principais:
- Combater o ressecamento da pele: banhos rápidos, mornos, sem buchas, com limpadores suaves (syndets) ou sabonetes suaves somente nas áreas das dobras, região genital e nádegas. Secar a pele sem esfregar. Aplicar hidratante imediatamente, sobre a pele ainda úmida.
- Controlar o prurido: o que pode ser obtido com a hidratação da pele e utilização de medicação por via oral (anti-histamínicos). Os anti-histamínicos são medicamentos seguros, com poucos efeitos colaterais. Seu principal efeito colateral é a sonolência, mas hoje há vários que não dão sono.
- Combater a infecção que pode ser latente: com antibióticos.
- Por ocasião das crises está indicado anti-inflalatório tópico; Os corticoides, que, quando bem indicados e efetivamente aplicados topicamente proporcionam rápido controle com mínimos efeitos colaterais, e os imunomoduladores tópicos, uma nova classe de medicamentos anti-inflamatórios também são muito eficazes e com menos efeitos colaterais.
Casos excepcionalmente graves podem necessitar de outros tratamentos como imunossupressores ou fototerapia (exposições a luzes especiais).
Porque tratar a dermatite atópica? Esses remédios parecem tão fortes, e a doença é “só na pele”?
Já está comprovado que deixar a dermatite evoluir sem tratamento ou com controle insuficiente prejudica tanto o desenvolvimento físico como psíquico. A pele lesada é alvo de infecções que abalam a saúde como um todo, podendo prejudicar o crescimento da criança. O prurido constante prejudica o sono, levando à perda do rendimento escolar, dificuldade de relacionamento e também diminuição do crescimento, pois o hormônio do crescimento é secretado durante o sono.
Se a criança for tratada, a doença pode se “recolher” e aparecer em outros órgãos?
Não; essa crença não tem nenhum fundamento, e tem prejudicado a vida de muitos portadores de atopia. O aparecimento de outras formas de alergias, principalmente a respiratória, está ligado a defeito em outro ramo do sistema de defesa e ao fato de viver em um ambiente favorável a essa doença.
Não deveriam ser feitos testes alérgicos para saber sobre outras alergias?
Normalmente não é necessário, porque não ajuda no diagnóstico e no tratamento. O diagnóstico é essencialmente feito pelo exame clínico, e o tratamento precoce das crises costuma ser suficiente.
Depois de uma crise, como prevenir o aparecimento de outras?
Tratar adequadamente, pelo tempo que for necessário, a crise atual e manter cuidados entre as crises.
Os banhos devem ser rápidos, como já citado anteriormente. Em crianças pequenas ou em locais muito abafados, podem ser dados vários banhos rápidos para refrescar, só com água. Ventiladores e ar condicionado podem ser úteis
Usar sempre hidratante logo após o banho, para repor a oleosidade perdida.
Atuar rapidamente nos primeiros sintomas de uma próxima crise, principalmente o prurido.
As roupas de algodão são as mais indicadas, e devem ser lavadas com sabão de coco sem amaciante e sem branqueador óptico ( sabão de coco em pó ou em barra).
Importante: O controle do eczema que é obtido quando são mantidos os cuidados entre as crises e quando as crises são medicadas no início dos primeiros sintomas diminui o sofrimento da criança e a ansiedade dos pais.
Texto divulgado em 14/02/2011.