Os casos de depressão infanto-juvenil vêm aumentando gradativamente, em função das exigências, conflitos e impasses que crianças e adolescentes vivenciam na sociedade atual e para os quais se sentem muito despreparados ou inseguros, trazendo intenso sofrimento.
Quando pensamos em depressão logo imaginamos tristeza. Porém, é fundamental diferenciar entre o que é um sentimento de tristeza e o que é um quadro de depressão, porque os sintomas são muito parecidos e podem confundir e prejudicar o diagnóstico, atrasando a busca da ajuda tão necessária nessa situação. Um exemplo é quando perdemos alguém que amamos ou quando fracassamos em algo que é importante em nossa vida. É natural reagirmos com tristeza, certo isolamento e falta de ânimo para retomar as atividades habituais. Será preciso um processo de superação dessa perda para que saiamos disso mais fortalecidos em nossos recursos para lidar com outras perdas, frustrações ou impasses com que nos depararmos.
Contudo, devemos ficar alertas se esses sentimentos perduram por um tempo muito prolongado ou com muita intensidade, pois isso mostra uma dificuldade maior em conseguir superar a situação de sofrimento.
A maior dificuldade em perceber que um filho está em depressão reside no fato de que os sintomas são muito parecidos com comportamentos esperados para a idade e os sentimentos de tristeza, apatia, indisposição, irritabilidade e ansiedade, por exemplo, são muito comuns a todos nós de tempos em tempos. Em especial nos adolescentes, muito facilmente se tende a não valorizar suas queixas ou “esquisitices”, acreditando que isso faz parte da fase. Com isso, corre-se o risco de deixá-lo imerso em um sentimento de desamparo e desesperança.
Observe seu filho
Vemos a infância e adolescência como um tempo de exploração e descobertas, no qual as alegrias das conquistas se misturam com momentos de frustração e tristeza pelos insucessos ou dificuldades. Acreditamos que atitudes de medo, ansiedade, irritação, apatia, ansiedade e agitação são comuns no enfrentamento dos desafios do crescimento, parte de um processo que envolve tantas mudanças e adaptações.
No entanto, quando essas experiências muito humanas acontecem com uma intensidade, duração ou profundidade tão grande que elas passam a interferir e desorganizar toda a vida cotidiana de nossos filhos – a família, a escola, os amigos e o lazer – a ponto de se isolarem ou se recusarem a fazer as atividades de sempre, isso deve nos alertar para o fato de que essa criança ou esse jovem pode estar vivenciando uma depressão e de que não sairá desse quadro apenas com sua força da vontade.
Questões sobre dificuldades em lidar com frustrações, com a socialização, estar sendo alvo, praticando ou testemunhando o bullying, estar sofrendo pressão por um bom desempenho escolar ou escolha da carreira, na sexualidade, estão na base de muitos conflitos e podem funcionar como agravantes. Além disso, as redes sociais, muito utilizadas por crianças e jovens, podem passar a falsa impressão de que todos estão felizes, menos ele, contribuindo com o aumento da angústia e ansiedade entre os jovens ao se sentirem inferiores ou fora (FOMO – fear of missing out – medo de ficar de fora em inglês) do padrão.
Quanto antes percebermos os sintomas da depressão, mais rápido podem-se tomar as medidas necessárias para evitar que as manifestações se agravem e coloquem o adolescente em situações de risco, porque em casos mais graves a depressão pode levar ao suicídio. No caso das crianças, é comum o comportamento para-suicida, no qual ela não se protege nem evita lesões, sofrendo acidentes frequentes.
Suspeitou de algo? Busque ajuda para o diagnóstico
Se há suspeita de que seu filho pode ter depressão, o primeiro passo é obter um diagnóstico para que todos entendam com o que estão lidando. Procure seu pediatra e relate o que está acontecendo. Ele poderá encaminhá-los para uma avaliação e tratamento especializado, se necessário.
Ter o apoio de um adulto que a ama será fundamental para qualquer criança ou adolescente que está tentando encontrar seu caminho através da depressão. Por mais difícil que seja entender porque seu filho, que parece ter tudo na vida, está deprimido, é preciso lembrar o quanto ele está vulnerável. Considere que os pais são parte da solução. Há várias coisas que os pais podem fazer para ajudar o filho a se fortalecer e superar esse momento. O principal é abrir um espaço de conversa e mostrar a disponibilidade em abordar o assunto com ele, sem recuar e sem preconceitos, porque ouvi-lo significa fazê-lo se sentir cuidado e respeitado. É importante reconhecer que os sentimentos dele são válidos, não os comparando ou diminuindo sua importância. Não subestime e nem superestime sua capacidade em resolver a situação: mantenha uma expectativa real. E o ajude a encontrar maneiras de se conectar novamente com seu grupo e com as coisas que fazem parte de seu mundo.
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Relatora:
Vera Ferrari Rego Barros
Departamento Científico de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo.