Depressão, é possível prevenir?

Depressão, é possível prevenir?

Crianças e adolescentes também podem e necessitam vivenciar o luto, sendo essencial o acolhimento dos sentimentos decorrentes.

Falar sobre prevenção da depressão se configura uma tarefa desafiadora. A depressão nos impõe uma série de diferenciações e, além de não existir um único tipo, sua origem não é unívoca, passando por fatores de vulnerabilidade neurobiológica, situações familiares e existenciais. Manifesta-se de formas distintas, havendo a presença ou não de tristeza.
A tristeza é um afeto como outro qualquer. Ela é fundamental em muitos casos quando ocorre uma perda para aquele que sofre.

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O luto nada mais é do que o processo que possibilita ao sujeito dar conta da perda, exige um tempo e, ao seu término, o permite investir na retomada de sua vida. A tristeza surge, pois a aceitação do desaparecimento de algo ou alguém importante não é feita sem dor.
Não é privilégio dos adultos passarem por processos desse tipo, crianças e adolescentes também podem e necessitam vivenciar o luto, sendo essencial o acolhimento dos sentimentos decorrentes, tais como o fazemos com os de alegria ou qualquer outro. Aliás, a adolescência é por si só repleta de experiências desse tipo.
Há risco em não legitimar e evitar a todo custo o encontro da criança e do adolescente com frustrações, faltas e perdas, que são inerentes ao caminhar da vida.
Na verdade, entrar em contato com a tristeza pode ser um bom sinal de saúde mental e poderá refletir numa capacidade de não se deprimir frente à certas experiências penosas.
A depressão poderá advir quando esse processamento das perdas, das dores e dos impactos fica dificultado ou impedido, ou seja, na impossibilidade de fazer o luto. Ela é uma condição emocional prolongada, com manifestações distintas e que afeta o sujeito de maneira contundente, podendo atingir alguns aspectos da personalidade.
Já no início da vida, o bebê terá que lidar com o processamento de perdas e separações. Ele vai precisar se ligar à sua mãe para posteriormente se diferenciar, se separar dela ou de quem faz tal função. O primeiro luto ocorre aí e a partir da combinação entre “presenças”, traduzidas no cuidado afinado às suas necessidades, e depois “ausências” é que poderá se formar uma representação interna da mãe, como se sua mãe em suas funções continentes, cuidadoras e alertadoras pudesse estar de certa forma dentro dele. Essa capacidade se torna importante para que o bebê possa paulatinamente ser amparado de dentro para fora, tendo condições de aceitar
gradativamente que sua mãe é uma outra pessoa, fazendo com que possa investir ele mesmo em outros interesses, impactando positivamente em sua capacidade de lidar com a vida de maneira geral, mas principalmente na elaboração dos lutos recorrentes que a vida o desafiará.

Seria possível então a prevenção?

Parte da prevenção possível seria poder cuidar da quantidade e da qualidade de oferta de apoio emocional e social para os pais na vinda de um filho. Sabemos que uma rede de suporte nessa época mostra-se fundamental, porque, amparados, podem estar mais livres nessa função e cuidar de melhor forma do desafio que implica um filho que nasce. No entanto, talvez isso tudo não possa garantir a prevenção, uma vez que a depressão é multifacetada, mas certamente lançará um olhar mais cuidadoso para a importância dos primeiros tempos de vida de um bebê e de sua família, reverberando positivamente na construção do processo de subjetivação da criança, que tem ligação direta com a forma como lidará ao longo da vida com os desafios que as perdas cotidianas impõem a todos.

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Relatora
Dra. Cristiane da Silva Geraldo Folino
Núcleo de Estudos sobre Depressão em Crianças e Adolescentes – SPSP