O órgão sexual externo feminino, que compreende a vulva (externa) e a vagina (região em forma de canal), interna, desperta na adolescência, por parte das meninas um misto de medo/vergonha e dúvidas/curiosidades. Daí decorre a primeira orientação que os médicos de adolescentes fazem para as suas clientes: “Conheçam melhor essa região”. A técnica do “espelhinho” é bastante simples e permite que, pouco a pouco, a menina entenda e conheça seus genitais e seu corpo. Sentada ou agachada, com ajuda de um espelho, observe a região genital e os grandes lábios. Afastando-os, a adolescente encontra os pequenos lábios, o clitóris e a entrada da vagina. Como qualquer parte do corpo humano, existem diferenças entre as pessoas, de forma, tamanho, coloração, quantidade de pelos, etc. Os lábios vaginais, por exemplo, não costumam ser iguais e uma pequena assimetria é muito comum (assim como o peito pode ser diferente um do outro).
Por ser uma região que passa por transformações significativas na adolescência, cuidados particulares de higiene devem ser realizados para impedir doenças e desconforto. Uma das maiores preocupações das meninas é com o corrimento vaginal. O corrimento genital feminino (corrimento vaginal) indica geralmente um processo inflamatório que está ocorrendo na vagina (vaginite). Lembre-se que é normal a existência de umidade na vagina. Portanto, a secreção pode ser natural, quando é em pequena quantidade, clara, transparente, tipo “clara de ovo”, sem cheiro ruim, sem incômodo do tipo dor, coceira, ardência para urinar ou vermelhidão local. Qualquer outra característica dessa secreção pode ser uma doença, não necessariamente grave, mas que merece tratamento (e o tratamento é muito fácil da maioria das vezes).
Evite usar roupas que impeçam ou dificultem o arejamento da região vaginal. Roupas muito apertadas, de tecidos sintéticos (que não são feitas de algodão 100%), particularmente as calcinhas, devem ser evitadas. Os uniformes de escola, quando de tecido sintético, também merecem atenção. Esse tipo de roupa, quando extremamente necessário, pode ser alternado com períodos de roupas mais folgadas (saias, bermudas) que facilitem a ventilação da região genital. Sempre que possível, e o ambiente doméstico permitir, orienta-se que a adolescente durma com roupas folgadas e até sem calcinhas para facilitar a melhora de corrimentos genitais. Meninas que freqüentam piscinas, em suas casas de praia, aulas de natação ou, simplesmente, casas de amigos, não devem ficar por períodos prolongados com as roupas de banho úmidas (que geralmente são de lycra®). Cuidado também após as aulas em academias, onde a malhação causa aumento do suor local. Meia-calça também causa um aquecimento facilitador da alteração do ambiente vaginal; use-a somente quando há necessidade absoluta. Lave as calcinhas com sabão de coco ou sabonete neutro. Não use amaciante, nem água sanitária nas peças. Do contrário, é preciso se certificar de que não restaram resíduos dos produtos no tecido.
No comércio, atualmente, existem à disposição das meninas vários sabonetes, lenços umedecidos e protetores de calcinha. Alguns são muito bons e desenvolvidos especificamente para a higiene externa vaginal, respeitando-se as características da adolescente e das modificações específicas da puberdade. Outros sabonetes, talcos, “cheirinhos” e desodorantes podem causar problemas, irritações e piorar um quadro de corrimento. Peça ajuda de seu médico para essa decisão, pois a confusão é comum entre as jovens. De forma geral, a higiene com água e sabonetes neutros convencionais (neutro não é sem cheiro e sim com ph neutro) ajuda bastante para melhorar e evitar o aparecimento de corrimentos anormais. Sabonetes neutros não são sabonetes sem cheiro e sim sabonetes com pH neutro (isso vem escrito nas embalagens), embora também se prefira sabonetes sem perfumes exagerados. Uma orientação importante para a jovem adolescente é que não tenha medo nem receio de passar os dedos entre os grandes e pequenos lábios, nas “dobrinhas”, fazendo assim a remoção completa de impurezas e secreções durante o banho. Não há necessidade, inclusive contra-indica-se a realização de “duchas” (limpeza da vagina sob pressão com chuveirinhos). A cavidade interna vaginal tem seu mecanismo próprio de limpeza. Nas meninas que já iniciaram atividade sexual, eventualmente (algumas vezes) pode-se, também com os dedos, realizar uma limpeza durante o banho da vagina, removendo secreções. Isso é particularmente importante se ocorrer uma relação sexual sem preservativo (o que nunca recomendamos ocorrer!), para remoção dos resíduos de esperma do parceiro. Repetimos que duchas jamais devem ser realizadas, pois esse procedimento pode mudar a população de bactérias protetoras que normalmente habitam a vagina, predispondo à piora do corrimento vaginal.
O uso do papel higiênico após as evacuações e eliminações de urina também merecem atenção especial. Prefere-se papel higiênico sem pigmentos (brancos) e sem odor, pois hoje, existem no mercado, diversos produtos coloridos e perfumados (substâncias químicas que podem irritar). Enxugar a vulva após o xixi deve ser sempre num movimento único de frente para trás, com o objetivo de não trazer elementos do ânus e das proximidades para a frente. Após a evacuação, o procedimento também deve ser o mesmo: de frente para trás. Na correria do dia-a-dia, não é incomum encontrarmos adolescentes que se esquecem ou passam despercebidas sobre esses cuidados. O ideal é que limpássemos o ânus com água após as evacuações; portanto, banhos são bem vindos sempre que a menina sentir-se incomodada. No uso de banheiros fora de casa (escola, trabalho, passeios), atenção também deve ser redobrada. Quando disponível, use um protetor de assento sanitário (disponível em vários banheiros e à venda em farmácias). Carregue-o sempre na mochila e na bolsa. A menina se sentirá mais tranqüila e confortável numa emergência. Todas as vezes que houver manipulação da vagina (higiene, masturbação, toques) certifique-se que suas mãos estejam limpas.
Outra dúvida de muitas garotas é em relação à depilação. Apesar de o aspecto ser mais higiênico (uma impressão culturalmente errada), a ausência de pelos pubianos na região da vulva não é aconselhável. Os pelos podem ser apenas aparados, pois protegem a pele da área genital.
Durante a menstruação, as mulheres sofrem uma variação de pH da mucosa vaginal. É muito importante, portanto, redobrar os cuidados com a higiene íntima neste período. Recomenda-se que a limpeza da vulva seja, nesse período, mais de uma vez ao dia, sempre que o absorvente for trocado. Sangue menstrual não determina mal-cheiro e, portanto, isso não deve ser esperado para que ocorra limpeza local. As trocas de absorventes ficam a critério de cada garota, dependendo de seu fluxo e do incômodo que o dispositivo úmido causa em cada uma. Não se recomenda, entretanto, que a menina aguarde ele ficar muito cheio; troque-o frequentemente, pois isso trará uma sensação mais confortável. Especificamente para quem usa absorvente interno, um alerta: não se pode passar mais de três ou quatro horas com o mesmo; as trocas têm que ser mais frequentes.
No dia-a-dia, fora do período menstrual evite os protetores diários de calcinha, pois eles impedem o “respiro” da área genital tão importante para a manutenção de um ambiente vaginal saudável, sem umidade e abafamento. Se a menina utiliza esses protetores, pois percebe que está com uma secreção vaginal incomodando-a, ela deve procurar ajuda, pois a secreção “normal” não deve causar desconforto.
Se você notar algo de diferente na secreção ou no cheiro das suas partes íntimas, não tome ou passe remédios recomendados por amigas. Procure um médico. Quanto antes você começar o tratamento correto, mais fácil resolver o problema. Não tenha vergonha de conversar com seu médico de adolescentes ou ginecologista sobre suas dúvidas e queixas. Pode ter certeza que os seus “grilos” e dúvidas são compartilhados por outras adolescentes e o médico está pronto para te responder e te ajudar da forma mais natural.
Relator: Benito Lourenço – Membro do Departamento de Adolescência da SPSP – gestão 2007-2009; Médico colaborador da Unidade de Adolescentes do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo, SP.
Texto recebido em 4/05/2009 e divulgado em 15/05/2009.