Crianças se exercitam menos do que precisam

Matéria publicada no portal Terra Saúde destaca um estudo da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, que afirma que as crianças se exercitam bem menos do que precisam. A pesquisa levantou dados de 508 pequenos entre 8 e 10 anos e mostrou que as meninas colocam o corpo em ação 17 minutos por dia e, os meninos, 24. Além disso, o estudo concluiu que filhos de pais mais velhos tendem a ser menos ativos. De acordo com a matéria, um motivo possível seria que os homens passam mais tempo no trabalho e assim, brincam menos com os filhos. O artigo informa que as diretrizes do Departamento de Saúde do Reino Unido indicam que pessoas entre 5 e 18 anos devem ter, ao menos, uma hora de atividade moderada a vigorosa por dia, como dançar, andar de bicicleta e praticar esportes. Também devem investir em exercícios que fortaleçam os músculos e os ossos, como pular corda e ginástica, três vezes por semana.

 

FONTE: Terra Saúde
http://saude.terra.com.br/bem-estar/criancas-se-exercitam-menos-do-que-precisam-principalmente-meninas,12b6bc126cf08310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

 

Comentários:
Dr. Francesco Blumetti
Membro do
Departamento Científico de Ortopedia da SPSP

Observamos nas últimas décadas o aumento do sedentarismo infantil. Isto vem ocorrendo em parte devido a novas tecnologias como televisão, computadores, internet e videogames, os quais permitem o desenvolvimento de atividades lúdicas mas com níveis baixos ou ausentes de exercícios físicos. A tradicional cena da criança saindo para brincar na rua tem se tornado cada vez mais incomum, principalmente nas grandes cidades, onde muitas vezes o medo da criminalidade e de acidentes atua como fator limitante. No Brasil, números assustadores de 79-93% de sedentarismo foram relatados em crianças e adolescentes em idade escolar.

Do ponto de vista ortopédico, estudos demonstram que há uma relação direta entre o nível de atividades físicas e a massa óssea. Esta relação parece ser ainda mais evidente com atividades de alto impacto, como correr e pular. Além disso, o exercício físico em níveis seguros pode estimular as placas de crescimento dos ossos dos membros inferiores, incluindo fêmur e tíbia.

A prática regular de atividades físicas em crianças e adolescentes está associada com a diminuição da obesidade e melhora do desenvolvimento motor. Além disso, também pode ajudar a prevenir certas doenças na idade adulta, como diabetes e problemas cardíacos. Estes efeitos benéficos foram demonstrados inclusive para crianças abaixo dos 4 anos de idade, ressaltando a importância de iniciar precocemente hábitos saudáveis na vida dos pequenos.

Além dos benefícios para a saúde física,  o exercício físico em crianças pode influenciar de maneira positiva aspectos da saúde mental, incluindo autoestima, ansiedade, depressão e inteligência.

Embora os efeitos benéficos do exercício físico estejam bem estabelecidos, em alerta deve ser dado àquele grupo de crianças e adolescentes envolvidos com a prática de esportes competitivos de alto nível. O treinamento excessivo e a ausência de acompanhamento por profissionais capacitados podem resultar em sobrecarga do esqueleto em desenvolvimento, com possíveis ações maléficas sobre a os músculos, ossos e articulações.

Estes dados levaram organizações internacionais a desenvolver diretrizes voltadas ao nível de atividades físicas recomendáveis para crianças e adolescentes.

As diretrizes da sociedade canadense de fisiologia do exercício para crianças de 0-4 anos recomendam que, mesmo antes de começarem a andar, os bebês devem ser estimulados a serem fisicamente ativos diversas vezes ao dia. Isto pode ser feito, por exemplo, brincando com a criança em um tapete de atividades. De 1-4 anos, as crianças devem acumular ao menos 180 minutos de atividades físicas de qualquer nível ao longo do dia, incluindo atividades que estimulem o desenvolvimento motor.

Na faixa etária dos 5-18 anos, as diretrizes recomendam ao menos 60 minutos de atividades moderadas a vigorosas diárias. Isso deve incluir atividades intensas que fortaleçam os músculos e ossos ao menos 3 vezes por semana, como correr, pular ou praticar algum esporte.

A preocupação da comunidade internacional com o tema demonstra a importância em combater o sedentarismo e promover uma cultura de brincadeiras ao ar livre e atividades físicas em crianças e adolescentes. Cabe aos profissionais da saúde que lidam com a faixa etária pediátrica, dar especial atenção a este assunto, que muitas vezes é esquecido em uma consulta de rotina.

Texto divulgado em 05/09/2012