A Globo.com – em seu site Bem Estar – publicou estudo que revela que crianças diagnosticadas com transtornos mentais são em média três vezes mais propensas a praticar bullying contra os colegas. O estudo foi feito em2011, nos EUA, com estudantes entre 6 e 17 anos. Cerca de 20% dos alunos relataram ter sofrido bullying nos 12 meses anteriores. De acordo com a matéria, há cinco anos, 15,2% das crianças que intimidavam as outras foram identificadas pelos pais ou responsáveis. Quem tinha depressão apresentou três vezes mais chances de agredir os colegas, enquanto aqueles diagnosticados com transtorno desafiador opositivo (TDO) – distúrbio caracterizado por comportamento desafiador ou perturbador e desobediência – tinham até seis vezes mais probabilidade. Segundo a autora do estudo – que foi apresentado na Conferência Nacional da Academia Americana de Pediatria, em Nova Orleans (EUA) – os resultados destacam a importância de oferecer apoio psicológico não só às vítimas de bullying, mas também aos algozes.
FONTE: Bem Estar (Globo.com), 22 de outubro de 2012
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2012/10/criancas-com-problemas-mentais-praticam-mais-bullying-aponta-estudo.html
Comentário:
Dra. Renata D. Waksman
Coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência contra Crianças e Adolescentes da SPSP e Diretora de Relações Comunitárias da SPSP
Transtornos mentais, como ansiedade e depressão estão associados à prática de bullying.
Segundo estudo de 2010 no sul do Brasil*,crianças agressoras podem estar mais deprimidas que as não-agressoras. Sabe-se que jovens que sofrem bullying estão mais propensos a apresentarem problemas comportamentais e afetivos, estando o fenômeno associado a fatores de risco, tanto para as vítimas, quanto para os agressores.
Crianças ou jovens que praticam o bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos antissociais, psicopáticos e/ou violentos, tornando-se, inclusive, delinquentes ou criminosos.
E, segundo os autores, ao contrário de crenças distorcidas que reforçam a compaixão com relação às vítimas e a fragilidade das mesmas, os resultados mostram certa vulnerabilidade dos agressores, que pode ser reforçada pelo grupo a permanecerem neste papel de dominação, tendo em vista que, na maioria das vezes, são vistos pelos seus colegas como “valentões”, e usam de agressividade para se manterem nesta posição.
Entretanto, fica a dúvida se essas crianças autoras de bullying estão felizes e realizadas em assumir este papel, talvez não conseguindo sair dele e, com o reforço (negativo) de suas famílias e colegas acabam permanecendo agressoras.
Este fenômeno gera ansiedade para todos – alvos e autores – que muitas vezes não sabem qual papel irão assumir no próximo episódio de bullying e, o que é pior, isto pode gerar sentimentos de medo, de perigo e insegurança para o futuro.
O fato dos agressores apresentarem mais depressão do que os alvos levanta algumas reflexões: a agressividade nem sempre é um comportamento negativo que causa danos a outros, os sentimentos de pena para com os alvos e revolta para com os autores podem ser simples preconceitos que devem ser derrubados, para que os alvos parem de sentir-se vítimas e os autores encarados como carrascos que devem ser punidos.
E, como conclui o estudo, pode estar havendo certa negligência dos pais e profissionais que assistem estas crianças autoras de bullying, pois pré-estabelecem que estejam bem. Se por um lado, estudos científicos e conhecimentos leigos sobre bullying podem estar deixando os agressores mais vulneráveis, estes parecem estar auxiliando as vítimas, que não se mostram mais ansiosas nem mais deprimidas como antes foi constatado.
Portanto, no bullyng, todos merecem atenção da família, da escola e do pediatra.
*Binsfeld, A. R., Lisboa, C. S. M. (2010). Bullying: Um estudo sobre papéis sociais, ansiedade e depressão no contexto escolar do Sul do Brasil. Interpersona 4 (1), 74-105