Dentro da resposta à essa pergunta existe outra questão: a alergia ao alimento está documentada, avaliada por um especialista? Muitas mães imaginam que os seus filhos apresentam alergia alimentar e, por conta própria, retiram o alimento suspeito da dieta deles sem indicação ou diagnóstico precisos. Por outro lado, deve-se considerar que as vacinas conferem proteção e controlam várias doenças infecciosas e a não aplicação destas pode expor a criança a riscos importantes.
Dor, vermelhidão e inchaço no local da aplicação, febre e mal-estar são reações adversas comuns que não devem ser confundidas com alergia. As reações alérgicas são raras, mas as mais comuns são as urticárias (vergões avermelhados na pele que coçam) e, em geral, autolimitadas. As mais graves e temidas são as reações anafiláticas (vermelhidão generalizada, coceira, inchaço, inclusive na língua, rouquidão, falta de ar, vômitos, diminuição da pressão arterial) que ocorrem raramente (um caso por milhão).
Quais os componentes das vacinas que podem causar reações alérgicas?
Na maioria das vezes são as substâncias utilizadas na sua produção, chamadas de excipientes. Um produto que está principalmente associado às reações alérgicas é a gelatina usada como estabilizante da vacina. Eventualmente, o látex encontrado na tampa dos frascos e seringas pode levar a reações nos pacientes sensibilizados a este. Outros produtos usados para a preservação das vacinas (timerosal e neomicina) podem causar reação sem gravidade.
A proteína do ovo pode estar contida em algumas vacinas preparadas em ovos embrionados, destacando-se a da febre amarela e a da influenza. Entretanto, as vacinas mais modernas apresentam concentrações insignificantes dessa proteína, com incidência muito baixa de eventos adversos. Em especial, a vacina da febre amarela, que inclui quantidades mais elevadas de ovo, também apresenta baixa incidência de reações graves (0,8 a 1,8 caso para cada 100.000 doses).
Uma dúvida frequente é se crianças alérgicas ao ovo podem receber a vacina da gripe (contra influenza). Toda criança com suspeita de alergia a ovo deve ser avaliada, mas isso não deve retardar a vacinação. Considera-se que, mesmo nas crianças com história de reação grave (anafilaxia), não há ocorrência de efeitos adversos importantes e que os riscos associados à doença são piores que os riscos da vacina. Nesse caso, a vacina de influenza deve ser administrada sem a necessidade de um teste prévio, em um local preparado, e os pacientes devem ser observados por 30 minutos. Caso a criança tenha história apenas de reação leve, como urticária, a vacina pode ser dada na unidade básica de saúde (UBS). Somente aos pacientes com história prévia e documentada de reação grave à própria vacina indicam-se os testes e, dependendo do resultado, a administração crescente e gradativa da mesma ou o seu cancelamento.
Vale lembrar que, no final de 2014, o Ministério da Saúde alertou que as crianças com alergia a proteína do leite de vaca não deveriam ser vacinadas com a tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba), fornecida pelo laboratório Serum Institutte of India Ltd, por observarem presença de lacto-albumina hidrolisada na composição da referida vacina.
É importante que a criança não fique rotulada como alérgica à vacina sem esclarecer a etiologia. Na suspeita de alergia alimentar, os pais devem procurar um especialista para determinar o diagnóstico. Na maioria das vezes, os pacientes com suspeita de alergia a ovo e leite não apresentam problemas em relação à vacinação.
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Relatores:
Dra. Vera Esteves Vagnozzi Rullo
Dr. Tim Muller
Departamento Científico de Alergia da SPSP.
Publicado em 17/07/2018.
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