Até o momento, sabemos que a grande maioria das crianças com diagnóstico da doença relacionada ao novo coronavírus (Covid-19) não apresenta sintomas ou, quando apresenta, em geral são quadros leves. Nas crianças com manifestações clínicas, os sintomas são muito semelhantes aos quadros de gripe, cursando com tosse, febre, dor de garganta, coriza, dor de cabeça, dores musculares e, algumas vezes, vômitos, diarreia, manifestações oculares, quadros inespecíficos de pele, entre outros sintomas.
Notícias de envolvimento renal nas crianças são raras ou inexistentes. Há relatos da presença de sangue ou proteína na urina, entretanto, sem gravidade nas crianças. Em adultos, pode ocorrer mau funcionamento dos rins (insuficiência renal) com necessidade de diálise (recurso artificial para substituição da função dos rins) nos casos graves, mas não observamos essa complicação, até o momento, em nossas crianças sem fatores de risco.
Nem todas as crianças portadoras de doenças renais estão no grupo de risco para as complicações da Covid-19, diferente do que é observado naquelas que apresentam cardiopatias, hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças pulmonares crônicas, obesidade e outras condições.
Devido à variabilidade muito grande das doenças renais, o grupo de risco e a preocupação das equipes médicas recaem nas crianças que apresentam comprometimento de sua imunidade ou que recebem medicações imunossupressoras. Esses pacientes são os portadores de síndrome nefrótica, renais crônicos em diálise, transplantados renais e aqueles que fazem uso de corticosteroides, ciclosporina, mofetil micofenolato ou outros medicamentos imunossupressores. Além disso, muitas crianças com comprometimento renal apresentam também outras comorbidades com maior risco, tais como doenças genéticas, vasculites (como o lúpus eritematoso disseminado sistêmico) e doenças metabólicas.
Orientações para portadoras de doenças renais
Neste momento, devem ser reforçadas as orientações de se evitar a utilização de medicações potencialmente nefrotóxicas (como os anti-inflamatórios não-hormonais) e a manutenção da aderência medicamentosa prescrita, incluindo os medicamentos anti-hipertensivos. É fundamental, também, manter a programação da terapia dialítica no hospital, evitando a perda de sessões de hemodiálise, por exemplo.
Toda a população e os pacientes devem seguir as orientações dos órgãos do sistema de saúde evitando aglomerações, praticando o distanciamento social e as medidas comportamentais e de higienização. Importante redobrar a atenção à lavagem das mãos com água e sabão e/ou álcool gel e a utilização de máscaras faciais, conforme as recomendações do serviço de saúde e das sociedades de Pediatria. Lembrar que é importante a correta utilização e manipulação dos revestimentos faciais de tecidos caseiros!
Os pais e cuidadores devem sempre entrar em contato com seu pediatra, nefrologista pediátrico ou equipe médica responsável pelo seu atendimento para esclarecer qualquer dúvida ou preocupação. É importante rediscutir individualmente, não só a condição de fator de risco do seu filho, como também as medidas preventivas de contágio, a programação das medicações, a disponibilização das receitas e medicações especiais, o reagendamento das consultas ambulatoriais eletivas, entre outras dúvidas.
Neste momento de grande uso das redes sociais, deve-se também ter o cuidado de avaliar a fonte das diversas informações compartilhadas. Siga sempre as recomendações da sua equipe de saúde e, juntos, vamos vencer esta pandemia!
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Relator:
Dr. Olberes Vitor Braga de Andrade
Departamento Científico de Nefrologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria de São Paulo