Relatora: Dra. Milena de Paulis
Mestre em Pediatria pela FMUSP, Médica Assistente do Pronto-Socorro do HU-FMUSP e secretária do Depto. Científico de Emergências da SPSP.
Quando o tema é febre em crianças, sempre existe o fantasma da convulsão. É comum ouvirmos frases como: “febre alta dá convulsão”, “não deixo vir a febre para não dar convulsão”, “febre dá convulsão e é perigoso”. Na verdade, essas ideias são equivocadas. Vamos esclarecer algumas informações.
O que é convulsão febril?
A convulsão febril é a convulsão que ocorre nas primeiras 24 horas de uma febre em algumas crianças entre os 6 meses de vida e os 6 anos de idade.
Por que acontece a convulsão febril?
Nem toda criança, mesmo com febre alta, vai convulsionar!
Existem fatores genéticos que predispõem para a ocorrência da convulsão febril.
As infecções virais, como as gripes e os resfriados, bem como as infecções bacterianas, como infecção de ouvido, sinusite, pneumonia, também são doenças que podem levar à convulsão por apresentarem febre na sua evolução.
A convulsão febril também pode acontecer após a administração de algumas vacinas.
Como reconhecer uma convulsão febril?
Geralmente a criança apresenta por contrações fortes de todo o corpo (braços e pernas) e perda da consciência. Esse tipo de convulsão é chamada de tônico clônica generalizada e, na grande maioria das vezes, a duração é curta.
A convulsão febril é perigosa?
Apesar de ser assustadora, a convulsão febril na grande maioria das vezes é benigna, não traz riscos de vida, não afeta a inteligência e nem deixa sequelas neurológicas. Ocorre no primeiro dia da febre e não vai repetir obrigatoriamente nas febres seguintes.
O que fazer na convulsão febril que ocorre em casa?
1. Manter a calma.
2. Colocar a criança num local seguro.
3. Virar a cabeça ou o corpo da criança de lado para evitar a aspiração da saliva.
4. Não segurar a língua nem restringir os movimentos da criança enquanto estiver na convulsão.
5. Afrouxar as roupas que estiverem apertadas.
6. É preferível esperar que a criança pare de convulsionar para levá-la ao hospital. Em geral essas convulsões não duram mais que alguns minutos.
7. Assim que possível, levá-la ao pronto-socorro para avaliação médica.
A convulsão febril pode acontecer de novo?
Na maioria das crianças, não.
A chance da convulsão febril acontecer novamente é maior nas crianças que tiveram o seu primeiro episódio no primeiro ano de vida.
A criança com convulsão febril deve tomar remédio anticonvulsivante?
Não é necessária a introdução de medicação anticonvulsivante no primeiro episódio da convulsão febril.
Depois da crise, com qual médico acompanhar?
Não há necessidade da avaliação de um neurologista no primeiro episódio da convulsão febril. O próprio pediatra pode fazer o acompanhamento.
Existe prevenção para a convulsão febril?
Levando-se em consideração os riscos e os benefícios das medicações anticonvulsivantes, não se recomenda, de rotina, o uso contínuo ou intermitente dessas medicações. Os antitérmicos como dipirona, paracetamol ou ibuprofeno, podem ser úteis no alívio dos sintomas causados pela febre, mas não impedem a ocorrência da convulsão.
Quem tem convulsão febril vai ser uma criança convulsiva?
Não, ela tem o mesmo risco de qualquer outra criança, de ter outro tipo de convulsão.
Após esses esclarecimentos lembrem-se: apesar da convulsão febril ser assustadora, é uma condição, na grande maioria das vezes, benigna que não traz sequelas. Na sua ocorrência, tente manter a calma e procure o serviço de emergência assim que possível.
Texto publicado em 29/09/2011.