Contos de fadas – uma dádiva de amor

Contos de fadas – uma dádiva de amor

Muitos contos de fadas começam com a famosa expressão “Era uma vez…”, acrescida de alguma outra qualificação: “num certo país distante…”, ou “numa época em que os animais falavam…”. “Esses começos sugerem que o que se segue não pertence ao aqui e agora que conhecemos (…) simboliza que estamos deixando o mundo concreto da realidade comum”. A lógica e a causalidade normais estão suspensas. É exatamente por essa peculiaridade que os contos de fadas nos levam, sem nos apercebermos, ao universo do nosso inconsciente, que é igualmente estranho, distante. O conto de fadas leva a criança “para dentro” da história e, através da identificação com algum dos personagens e/ou situações, ocorrem crescimento e amadurecimento.

“Quando todos os anseios da criança passam a ser corporificados numa fada boa; seus desejos destrutivos, numa bruxa má; seus medos, num lobo voraz; as exigências de sua consciência, num homem sábio encontrado numa aventura; sua raiva ciumenta, em algum animal que ataca seus rivais – então ela pode começar a organizar suas tendências contraditórias.” (pg. 95).

O fundador da Psicanálise – Freud, diz “que só o homem consegue extrair um sentido da sua existência”. Isso pressupõe que o mundo real seja reconhecido e identificado, com suas dores e alegrias. Isso vale para crianças, também; entretanto, uma crença prevalente entre os pais é que a criança deve ser poupada, sempre, de situações que lhe tragam desagrado ou dificuldades – é querer que uma criança viva numa bolha de proteção absoluta. É um engano.

“… a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de forma variada é que a luta contra dificuldades na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas que, se a pessoa não se intimida e se defronta com as provações, pode conseguir dominar os obstáculos e, ao fim, poderá emergir vitoriosa”. (pg.15)

Por essa razão, Lewis Carrol chamou os contos de fadas de uma “dádiva de amor”.

Ler ou ouvir um conto de fadas tem o poder de incentivar a imaginação da criança. Não é necessário nenhum livro supercolorido, com paisagens em 3D, ou desenhos e mais desenhos. Essa sofisticação pode até roubar aquilo que a própria história poderia suscitar na imaginação da criança.

Siga o gênio!!!

“Se você quer que crianças sejam inteligentes, leia contos de fadas para elas. Se você quer que elas sejam mais inteligentes, leia mais contos de fadas para elas”. Albert Einstein

 

Saiba mais:

As páginas assinaladas no corpo deste texto se referem ao livro, que recomendo fortemente a leitura: A psicanálise dos contos de fadas. Bruno Bettelheim; tradução Arlene Caetano. 44ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2023.

 

Relator:

Fernando MF Oliveira

Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP