1 -Mães que amamentam não dormem menos
Um estudo realizado nos Estados Unidos, e publicado na revista Pediatrics, de dezembro de 2010, aponta: mães que praticam o aleitamento materno dormem um número igual de horas em relação às mães que oferecem mamadeira para seus bebês.
Participaram do estudo 80 mães. Elas foram instruídas a manter um diário com anotações, inclusive sobre o número de horas dormidas diariamente. O estudo durou dez semanas e começou duas semanas depois do parto.
Os pesquisadores mediram o total das horas dormidas, total das horas que as mães passaram acordadas à noite, a qualidade do sono, queixas de fadiga e quantidade de horas dormidas durante o dia.
Os resultados mostraram que não houve diferenças no total de horas dormidas ou na qualidade do sono entre as mães que praticavam aleitamento exclusivo, que usavam mamadeiras ou que faziam uma combinação das duas formas.
Pediatrics 2010; 126: e1562-e1568
COMENTÁRIO:
Departamento de Aleitamento Materno da SPSP
Ana Maria Calaça Prigenzi
A amamentação não rouba o tempo de sono das mães, ao contrário da idéia que por vezes se faz passar.
É comum o bebê amamentado acordar mais vezes, pois seu aparelho digestivo, durante os primeiros meses, não tem ainda maturidade para absorver alimento suficiente a fim de que ele se mantenha saciado por um período longo. Como o leite materno é de digestão mais fácil, os bebês amamentados tendem a acordar com mais frequência.
Não houve diferenças no total de horas dormidas ou na qualidade do sono entre mães que amamentam e aquelas que dão mamadeira aos seus bebês. Dentre as prováveis explicações temos o fato das mães que amamentam não despertarem da mesma forma que uma mãe que tem de preparar a mamadeira, pois podem manter-se no escuro e voltam ao sono profundo mais rapidamente. Além disso, o hormônio prolactina, presente no leite materno, pode ter um efeito indutor do sono no bebê.
A idéia de que as mães que optam pela mamadeira dormem mais durante a noite não passa de um mito. As mães que pensam em deixar de amamentar por acreditarem que irão passar a dormir melhor devem, portanto, desiludir-se. Não só isso não vai acontecer, como estarão a privar o bebê, bem como a si próprias, de todos os benefícios da amamentação exclusiva.
“A amamentação tem benefícios para a mãe e para o bebê e a qualidade do sono não pode ser argumento para desistir, pois não irá dormir melhor por ter deixado de dar de mamar”. Garante o pesquisador que liderou o estudo (Hawley Montgomery-Downs).
2 – A reposição de líquidos em quem pratica atividade física
Não há dúvidas sobre a importância da atividade física para crianças e adolescentes. No entanto, é preciso dar atenção à perda de líquidos que ocorre durante a prática de exercícios físicos. Trabalho publicado na Revista Paulista de Pediatria, da Sociedade de Pediatria de São Paulo, edição de setembro, considera que a melhor recomendação é criar um plano impositivo de hidratação, ou seja, fazer o máximo possível para que a criança ou adolescente ingira líquidos. Devem ser preferidas as bebidas com sabor, que contenha carboidratos (açúcares) e sódio.
Rev Paul Pediatr 2010;28(3):337-45.
COMENTÁRIO:
Departamento de Emergências da SPSP
Emílio Carlos Elias Baracat
O grande contingente de crianças em idade escolar pratica atividades físicas em aulas regulares inseridas na grade curricular das escolas. Essas atividades usualmente não são intensas, tem período definido e curto de tempo, e leva em conta as diferenças de condicionamento físico entre os alunos e alunas da turma. Deste modo, o gasto energético e o risco de hipertermia/ desidratação são baixos, impondo apenas que a hidratação antes, durante e após os exercícios seja estimulada com ingestão de água. Em condições de privação de água, sem perda significativa de eletrólitos, a melhor solução reidratante é a água, atestada por trabalhos que demonstraram um melhor esvaziamento gástrico com esta solução.
No grupo de crianças que pratica atividade física esportiva competitiva, o gasto energético é bem mais significativo e as perdas de água e eletrólitos podem ser críticas, dependendo do ambiente (fechado ou ao ar livre), condições climáticas de temperatura e umidade do ar. Nessas situações, é fundamental a oferta de soluções que contenham quantidades pequenas de sódio e carboidratos na forma de monossacarídeos (preferencialmente frutose ou glicose) que permitam um esvaziamernto gástrico mais rápido da solução e promova uma hidratação mais rápida. Volumes pequenos oferecidos com freqüência também promovem uma melhor hidratação. O acréscimo de sabor às soluções deve ser cuidadosa, em que pese a aceitação maior por parte da criança, pelo risco de interferir com a osmolaridade da solução e retardar a hidratação.
Assim, a melhor solução para reposição hídrica depende do tipo de atividade física, competitiva ou recreativa, sua duração, ambiente onde é realizada, condições climáticas, composição corporal e condicionamento físico da criança.
3–Pastoral na luta contra obesidade infantil
Projeto será desenvolvido em municípios do Paraná e, após resultados, poderá ser ampliado ao restante do País. A Pastoral da Criança lançou na tarde de ontem (16), em Maringá (PR), o projeto-piloto do Programa de Combate à Obesidade Infantil. O objetivo é chamar a atenção para o problema, que está aumentando no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que quase metade da população adulta brasileira (49%) está acima do peso. O levantamento, que faz parte do estudo Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no País, revela que o excesso de peso também atinge uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos. Para se ter uma ideia, os níveis de obesidade e ex cesso de peso do Brasil são semelhantes aos dos países desenvolvidos, onde 16% das populações podem ser consideradas obesas. O médico e coordenador da Pastoral da Criança Internacional, Nelson Arns, explica que o Índice de Massa Corporal (IMC) dos meninos e meninas será acompanhado com a ajuda de programas específicos de computador. Daqui um ano, segundo ele, os resultados serão avaliados para uma possível ampliação do programa em todo o País.
Folha de Londrina (PR) – 17/11/2010
COMENTÁRIO:
Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP
Rosa Resegue
Desde sua criação, em 1983, a Pastoral da Criança tem sido uma importante aliada na luta pela promoção da saúde das crianças brasileiras. Realizado por voluntários espalhados pelo país, o trabalho da Pastoral visa promover o desenvolvimento integral da criança desde a sua gestação até os seis anos de idade. Inicialmente focado na diminuição da mortalidade infantil, o primeiro desafio foi o enfrentamento dos altos índices de desnutrição e da mortalidade por situações que podiam ser prevenidas, como a desidratação secundária às diarréias. Mais recentemente, em conformidade com a mudança nos perfis de morbimortalidade das crianças brasileiras, o trabalho passou a focar de forma mais acentuada a captação para a realização do pré-natal e a qualificação desse acompanhamento, alem da ênfase à promoção do aleitamento materno e à promoção do desenvolvimento da criança.
Nos últimos anos, a obesidade foi certamente uma das doenças crônicas que tem merecido mais atenção em todas as regiões do mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 1963 e 2004, a prevalência de obesidade mais do que triplicou entre os adolescentes, mais do que quadruplicou nas crianças com idades entre 6 e 11 anos e mais que dobrou nas crianças com idades entre 2 e 5 anos. Estima-se que cerca de 22 milhões da população mundial de crianças menores de 5 anos e 10% das crianças e adolescentes com idades entre 5 e 17 anos apresentem-se com sobrepeso ou obesidade.
No Brasil, desde a década de 1980, observam-se mudanças no padrão de evolução nutricional, caracterizando o fenômeno conhecido como transição nutricional, em que há a passagem da desnutrição para a obesidade. A coexistência desses agravos, particularmente nas populações mais pobres, acarreta grande impacto no sistema de saúde e na estrutura socioeconômica das diversas regiões. A análise e comparação de estudos populacionais realizados desde a década de 1970, incluindo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), de 2006, permitem estabelecer algumas conclusões sobre o panorama da evolução nutricional das crianças brasileiras. No período entre 1974 e 1997, a prevalência de sobrepeso e de obesidade mais do que triplicou entre crianças e adolescentes (de 4,1% para 13,9%). Na PNDS de 2006, há evidências do controle de formas agudas de deficiência energética nas crianças menores de 5 anos, em todo o país. No entanto, a prevalência de excesso de peso-para-altura foi observada em 6,6% das crianças brasileiras nessa faixa etária, o que indica exposição dessa população ao risco de obesidade.
São inúmeros os estudos comprovando as estreitas ligações da obesidade infantil com doenças da vida adulta como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Muitas das complicações cardiovasculares e metabólicas da obesidade têm sua origem durante a infância do indivíduo. Por esses motivos, é cada vez mais importante sua prevenção e tratamento em idades mais precoces. Assim sendo, essa iniciativa da Pastoral é mais um passo importante na integração de esforços para a melhoria das condições de vida das crianças brasileiras.
4-Perda óssea em adolescentes após cirurgia bariátrica
Um estudo realizado nos Estados Unidos, e publicado na revista Pediatrics de março de 2011, concluiu que a cirurgia bariátrica está associada a uma perda óssea significativa em adolescentes. Participaram do estudo 61 adolescentes que passaram pela cirurgia de redução do estômago visando perda de peso. A densidade óssea foi medida antes do procedimento e depois a cada três meses, durante dois anos. O objetivo foi avaliar a perda óssea desses adolescentes e determinar o quanto dessa perda está relacionado com o emagrecimento após a cirurgia. Os resultados mostraram que, embora a densidade óssea estivesse apropriada para a idade dos adolescentes pesquisados após dois anos da cirurgia, é recomendado acompanhamento contínuo para determinar se a massa óssea estabiliza ou sofre alterações. Acredita-se que é na adolescência que se atinge a quantid ade máxima de cálcio dentro do organismo, ou seja, o valor máximo de massa óssea. E sabe-se que quanto maior o pico de massa óssea, maior será a reserva de cálcio para o envelhecimento, e menor será a suscetibilidade a fraturas e problemas sérios de saúde, como a osteoporose.
Pediatrics 2011; 127: e956-e961
COMENTÁRIO:
Departamento de Reumatologia Pediátrica da SPSP
Maria Teresa R. A. Terreri
Este artigo foi publicado em uma revista de pediatria importante no mês passado e se trata de um estudo americano sobre a influência da cirurgia bariátrica na massa óssea de 61 adolescentes que foram submetidos a este procedimento. A cirurgia bariátrica é realizada para redução de estômago em pacientes com obesidade extrema e a perda de peso é a conseqüência direta da cirurgia. Os autores acompanharam os pacientes e realizaram densitometria óssea periódica por dois anos (exame indicado para ver a perda de massa óssea) e observaram uma diminuição da massa óssea nos pacientes que foram operados quando comparada com a massa óssea pré cirúrgica e observaram que esta diminuição foi associada à perda de peso. Embora tivesse ocorrido perda de massa óssea esta ainda se encontrava em níveis adequados para a idade. Efeitos não desejáveis como a perda de massa óssea nos alertam para um futuro risco para a osteoporose. O adolescente está em uma fase de intenso acréscimo de massa óssea, até que o pico seja atingido no final da segunda década de vida. Prejuízos nesta aquisição podem levar a osteoporose e maior risco de fraturas na idade adulta.
Não podemos também esquecer que a cirurgia bariátrica pode levar à perda de massa óssea também por outro fator: a diminuição de alimentos e aqui incluídos os ricos em cálcio.
Um último comentário é sobre o número elevado de adolescentes que têm indicação de cirurgia bariátrica devido a erros alimentares graves e conseqüente obesidade extrema. A orientação do pediatra e os bons hábitos familiares evitam um grande número destas cirurgias e suas consequências, entre elas a perda de massa óssea.
Os autores concluem que estes pacientes têm de ser acompanhados para se observar se a diminuição de massa óssea estabiliza ou se piora na evolução.