Neste início de ano fomos surpreendidos pela circulação antecipada do vírus influenza: apenas no município de São Paulo foram notificados, nas primeiras semanas do ano, 103 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O número de casos de influenza A- do tipo H1N1 já é três vezes maior quando comparado a igual período de 2015.
Os surtos de vírus influenza (que geralmente ocorrem entre os meses de maio e agosto) foram registrados mais cedo em 2016, podendo ser observados em diversas escolas públicas e privadas e nas estatísticas dos serviços sentinela. Os dados do Ministério da Saúde, até o dia 5 de março de 2016, também corroboram esta informação: foram notificados 1.189 casos de SRAG. Entre as amostras já processadas, 21,1% foram por influenza. Dentre os casos de influenza, a grande maioria – 83,2% – foi o A, tipo H1N1 pdm09.
Gripe
A gripe é uma doença aguda contagiosa e de início abrupto, que provoca febre alta, dores musculares, dores de cabeça, sintomas respiratórios como tosse e coriza, mal-estar geral e, em algumas pessoas, vômitos e diarreia. A gripe ocorre em surtos, principalmente nos meses do outono e inverno.
É sempre importante lembrar que a gripe é causada somente pelo vírus influenza e não deve ser confundida com os resfriados comuns e com outras infecções respiratórias virais. Apesar de ser, na maioria das vezes, doença benigna e autolimitada, pode evoluir com complicações, como a pneumonia, e levar a hospitalização, especialmente em determinados grupos mais vulneráveis, como crianças pequenas, idosos e pessoas portadoras de deficiência na imunidade.
A transmissão ocorre de pessoa para pessoa, por meio de partículas aéreas formadas pela tosse e/ou espirro, além da transmissão ao tocar objetos contaminados com os vírus e depois colocar a mão na boca, olhos ou nariz. Os vírus dos tipos A e B, os maiores responsáveis pelas epidemias sazonais, podem apresentar mutações frequentes e são facilmente transmitidos em casas, creches, escolas e em ambientes fechados ou semifechados.
Definições
• O período de incubação do vírus da gripe, ou seja, o tempo que decorre entre o momento em que uma pessoa é infectada e o aparecimento dos primeiros sintomas, pode variar de 1 a 7 dias.
• Período de transmissibilidade do vírus – inicia-se 24 horas antes do início dos sintomas, sendo a transmissão máxima nos três primeiros dias do sintomas. Em crianças, especialmente as pequenas, o período de transmissibilidade costuma ser mais prolongado.
• Síndrome gripal: febre alta (até 40ºC) de aparecimento súbito, com duração de 3 a 5 dias, cefaleia, dor muscular, dor de garganta, tosse. Cansaço é o sintoma mais comum, podendo durar, com a tosse, por até 3 semanas.
• SRAG: dificuldade para respirar e risco de morte (pneumonia é a complicação mais observada).
O Informe Técnico da Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza foi divulgado em 11 de março, no portal da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), e o Ministério da Saúde promoverá a campanha de 30 de abril a 20 de maio, com dia de mobilização nacional em 30 de abril.
Grupos de risco (prioridades nessa campanha) para vacinação
• Crianças de seis meses a cinco anos incompletos;
• Adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade, sob medidas socioeducativas;
• Gestantes (em qualquer fase da gestação) e puérperas (até 45 dias após o parto);
• Indivíduos com 60 anos ou mais de idade;
• Povos indígenas;
• Trabalhadores da área da saúde;
• População privada de liberdade e funcionários do sistema prisional;
• Portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais.
A vacina disponibilizada na campanha do Ministério da Saúde é produzida pelo Instituto Butantan e Instituto Butantan/Sanofi Pasteur-França. Ela será composta de três cepas:
• A/California/7/2009 (H1N1) pdm09
• A/Hong Kong/4891/2014 (H3N2)
• B/Brisbane/60/2008 (linhagem Victoria)
As clínicas privadas contarão com as vacinas trivalente (já disponíveis em algumas clínicas) e quadrivalente, que neste ano também apresenta mudanças:
• A/California/7/2009 (H1N1) pdm09
• A/Hong Kong/4891/2014 (H3N2)
• B/Brisbane/60/2008 (linhagem Victoria)
• B/Phuket/3073/2013 (Yamagata)
Esquema vacinal orientado pelo Ministério da Saúde
• 6 a 35 meses de idade: 2 doses de 0,25 ml (meia dose) com intervalo mínimo de 4 semanas (30 dias após a 1ª dose)
• 3 a 8 anos de idade: 2 doses 0,5 ml com intervalo mínimo de 4 semanas (30 dias após a 1ª dose)
• A partir de 9 anos de idade e adultos: 1 dose única – 0,5 ml.
Observações
• Criança que já recebeu uma ou duas doses em 2015, deve receber apenas 1 dose em 2016;
• Crianças de seis meses a nove anos incompletos que não receberam vacina em 2015 (serão vacinadas pela primeira vez), devem receber uma segunda dose (30 dias após a primeira dose);
• Aplicação é intramuscular.
Precauções e contraindicações
• Doenças agudas febris moderadas ou graves recomenda-se adiar a vacinação até a resolução do quadro.
• Quem tem história de alergia a ovo, que apresente apenas urticária após a exposição, pode receber a vacina da influenza, observando-se o indivíduo vacinado por, pelo menos, 30 minutos em ambiente com condições de atendimento de reações anafiláticas.
• A vacina é contraindicada para pessoas com história de reação anafilática prévia em doses anteriores, bem como a qualquer componente da vacina ou alergia grave relacionada a ovo de galinha e seus derivados.
• Reações anafiláticas graves a doses anteriores também contraindicam doses subsequentes.
Informe Técnico – Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza – 2016:
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/marco/11/informe-tecnico-campanha-vacinacao-influenza-2016.pdf
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Relatores:
Dr. Moises Chencinski
Departamento de Pediatria Ambulatorial da SPSP
Dr. Marco Aurélio Safadi
Comitê Permanente de Assessoria de Imunizações da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e do Ministério da Saúde do Brasil; Professor adjunto de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Publicado em 30/03/2016.
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