A Campanha Outubro Verde – Combate à Sífilis Congênita, promovida pela Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), foi lançada em 2016 com o objetivo de trazer à discussão a situação da doença, que representa um enorme desafio aos médicos pediatras devido ao aumento progressivo das taxas de transmissão vertical. Desde então, a campanha visa chamar a atenção da população para a importância do diagnóstico e do tratamento da sífilis congênita na gestante, pois é a melhor forma de prevenir ou tratar a doença.
Para a neonatologista Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck, coordenadora do Grupo de Prevenção e Tratamento da Sífilis Congênita da SPSP e do Outubro Verde, a escolha desse tema para uma das campanhas da SPSP se deve ao fato de que a doença ainda é muito prevalente em nosso meio, apesar dos vários esforços conjuntos de obstetras, pediatras e equipe de enfermagem, que atuam na atenção primária, secundária e terciária. “É necessário ter um momento para rever as estatísticas, quais os pontos que não avançaram e propor novas estratégias”, avalia a médica.
Para Lilian, o maior desafio dos pediatras em relação à situação da sífilis congênita é detectar a doença ainda na gestante e tratá-la adequadamente. “Se for diagnosticada no pré-natal, conseguimos evitar a transmissão da sífilis para o feto. Por isso, também temos uma interface com a obstetrícia, por meio de uma parceria com a SOGESP (Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) e com a Coordenação Estadual de DST-Aids”, esclarece.
Números preocupantes
Devido à alta prevalência da doença, o Ministério da Saúde (MS) lançou, em 1993, um projeto de eliminação da sífilis congênita em consonância com a proposta formulada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial de Saúde (OMS), que definia como meta a redução na incidência da doença a valores menores ou iguais a um caso por mil nascidos vivos (NV). “Mas, a despeito dessa iniciativa, observou-se um recrudescimento da sífilis e, além de não se conseguir erradicar a doença, houve também um aumento no número de casos”, comenta Claudio Barsanti, coordenador das campanhas da SPSP.
“Esse aumento na incidência de uma doença que é facilmente prevenível e tratada, desde que seja feito o diagnóstico, é realmente preocupante, uma vez que a falta de tratamento pode levar desde sequelas irreversíveis até a morte do bebê, tanto intraútero quanto após o seu nascimento”, afirma o pediatra, salientando que a campanha visa alertar a população a respeito da doença. “Queremos fazer esse alerta, chamar a atenção para a importância do acompanhamento adequado do pré-natal pela gestante e, assim, realizar o diagnóstico e o tratamento da sífilis o mais cedo possível”, enfatiza.
Cenário em São Paulo e ações da campanha
Dados atuais (do Sinan-DVE/Covisa; SINASC/CEInfo/SMS-SP) apontam que, no município de São Paulo, a taxa de incidência da sífilis congênita aumentou de 2 em cada mil nascidos vivos em 2007 para 6,8 em 2017. No Estado de São Paulo também se observou esse aumento, porém o último dado é de 2015, com taxa de incidência de 5,4 em cada mil nascidos vivos. Em todas as regiões do Brasil a taxa de incidência também é elevada.
“Dessa maneira, ainda é um grande desafio tentar baixar essa curva ascendente de casos de sífilis congênita. Esperamos ansiosamente por dados de 2018 para verificar se todas as medidas que têm sido tomadas estão realmente surtindo efeito”, ressalta Lilian. Como parte da campanha, a SPSP promoverá uma atividade para a população por meio de gravação pelo Facebook”, conclui Lilian.
Publicado em 1/10/2019.