Em nosso meio existem poucos estudos sobre o hábito de compartilhar a cama nas diversas faixas etárias da criança. Num estudo realizado na cidade de Pelotas (RS), observou-se uma prevalência de 45,8% com lactentes de 12 meses. Estudos internacionais mostram prevalências muito variáveis, de 11% em Portugal, até 73% na Ásia.
Nos diferentes estudos, relaciona-se a cama compartilhada à amamentação e ao choro noturno nos primeiros meses de vida do bebê. Já nas crianças mais velhas, relaciona-se à dificuldade no estabelecimento de regras e limites dos pais, serve como desculpa para não ter relações sexuais indesejadas, na separação do casal ou quando o bebê é criado por apenas uma pessoa e sensação de culpa por ficar pouco tempo durante o dia com a criança. No Brasil, o hábito pode ser referido como necessidade, por questões socioeconômicas, e ser cultural, como na população indígena.
Os defensores da cama compartilhada alegam que é um hábito ancestral, que proporciona melhor contato mãe-filho, é mais protetor, melhora a oxigenação, a estabilidade cardiorrespiratória e o controle da temperatura, diminui o choro noturno e aumenta a produção de leite materno.
Os defensores do dormir em camas separadas alertam para o risco de morte súbita nos bebês, demonstrados em estudos epidemiológicos, que ocorrem provavelmente por asfixia. Artigo científico recente faz referência a importantes achados relacionados à maturação, com aumento da produção de cortisol e da atividade do eixo hipotálamo-hipofisário.
A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda como estratégia de prevenção da morte súbita do lactente, que o bebê durma no quarto dos pais, mas em cama separada até o sexto mês de vida. Isso evita asfixia, estrangulamento e aprisionamento, que podem ocorrer quando a criança está dormindo na cama com um adulto. Essa recomendação deve ser reforçada ainda mais para pais que fumam, consomem álcool ou drogas ilícitas, para bebês prematuros e quando os pais estão muito cansados.
Ainda fazem parte das recomendações da AAP:
- não expor a gestante e o bebê ao cigarro;
- evitar o consumo de álcool durante a gestação;
- estimular o aleitamento materno;
- colocar o bebê para dormir no decúbito dorsal (barriguinha para cima) num colchão firme;
- não cobrir a cabeça do bebê;
- deixar os bracinhos de fora do cobertor e os pezinhos encostados na borda do berço, para que o mesmo não escorregue e sufoque;
- não deixar nada que possa dificultar a circulação de ar no berço, como protetores de grades, almofadas e outros.
Após o sexto mês de vida, o bebê pode dormir no seu próprio quarto e medidas que criem um ritual de dormir devem ser estimuladas. Por exemplo, oferecer a mamada após um banho morno, colocar uma luz de baixa intensidade (8 watts) e de cor azul escuro no quarto para deixar o ambiente calmo, usar essa mesma luz para atender ao bebê nos despertares do meio da noite para não atrapalhar a liberação do hormônio associado ao sono (melatonina), introduzir um “amiguinho de dormir” que estimule o interesse da criança em apertar e manipular, cantar ou utilizar músicas suaves.
Evite embalar ou balançar para não habituar o bebê a dormir com estes estímulos, pois, nos despertares do meio da noite, vão necessitar do mesmo estímulo para voltarem a dormir. Termine o ritual com um gostoso beijo de boa noite e palavras de estímulo, como “vamos nanar para passear amanhã”. Com o crescimento, acrescente um livro de imagens, uma história, uma leitura. O ritual prepara a criança para o sono e deve ter 20 a 30 minutos no máximo. Mantenha a rotina de dormir até que a criança mostre que já sabe e quer dormir sozinha e o beijo de boa noite será o bastante!
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Relatora:
Dra. Márcia Pradella-Hallinan
Membro do Departamento Científico de Medicina do Sono da SPSP.
Publicado em 6/12/2016.
photo credit: Pixabay.com
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