No dia 24 de março de 2020, iniciou-se a quarentena (o distanciamento social) nos 645 municípios do Estado de São Paulo, na tentativa de controlar a transmissão comunitária do Sars-CoV-2. Vários pais e mães se viram fechados em casa com os filhos, com o desafio de trabalhar, cuidar da casa, supervisionar e entreter crianças e adolescentes e não enlouquecer.
Algumas brincadeiras “viralizaram” nessa época e é sobre uma delas que gostaríamos de falar: a brincadeira da farinha.
Esta nova moda, com algumas variações, consiste em três pessoas brincando diretamente e uma fazendo perguntas: duas estão sentadas com um prato com farinha crua à frente, uma está em pé atrás delas. Conforme são feitas as perguntas, a pessoa em pé empurra uma ou outra cabeça para o prato com farinha.
Apesar de divertida (pelo menos para quem vê), a brincadeira é perigosa, pois, entre outras consequências, há chance de aspiração da farinha. Explicando: a farinha é um pó com partículas bem pequenas. A criança, ao ser empurrada para o prato com a farinha, pode fazer uma inspiração antes, durante ou depois. Em qualquer um destes momentos, com maior ou menor quantidade, o pó poderá entrar pela via aérea e se depositar nos pulmões, causando irritação. Para aquelas que são asmáticas, será crise na certa! E, claro, mesmo para as que não têm problemas respiratórios (pelo menos não tinham antes da brincadeira), esse corpo estranho causará alteração na função pulmonar, com tosse, falta de ar e provavelmente infecção.
Além disso, a farinha pode entrar nos olhos, ouvidos e narinas, causando irritação também.
Por fim, é bom lembrar que, na brincadeira original, as perguntas são do tipo “quem é mais…”, o que pode causar constrangimento, ciúme, chateação, entre outras coisas.
Um conselho: deixe essa brincadeira para comédias pastelões! Brinquem de coisas mais seguras, pois teremos ainda um bom tempo em casa…
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Relatora:
Dra. Tania Zamataro
Departamento Científico de Segurança da Sociedade de Pediatria de São Paulo