Brasília fica na ilha da fantasia ou no país do faz de conta?

Genial a ideia de estender o curso de medicina para mais dois anos de atividade teórico-prática em áreas remotas e carentes. Creio que em breve também será estendido para outros cursos superiores da área da saúde e de outras áreas, particularmente, aquelas de quem pretende influenciar as políticas públicas deste país. Creio que deve ser obrigatório para qualquer um que queira candidatar-se a algum cargo eletivo governamental, tanto no executivo, como no legislativo e judiciário. É um “Projeto Rondon” ampliado e melhorado!

Sendo o último estágio da formação destes futuros médicos (ainda não o são) o cenário de estágio deverá contar com supervisão permanente e orientação de um corpo docente qualificado no local, com estrutura de área física, pessoal da saúde e de apoio logístico, material médico-hospitalar, medicamentos e equipamento mínimo, mas de nível acadêmico, sistemas de telemedicina que permitem comunicação fácil e ágil com centros médicos de referência que permanecerão de plantão 24 horas por dia para atendê-los, logística de transporte de material para exames subsidiários mais complexos e de pacientes que requeiram atendimento mais complexo e de emergência e, claro, segurança pessoal e patrimonial.

Sem este cenário, submeter a população já carente ao atendimento de formandos em medicina inexperientes e imaturos é irresponsável. É transformá-los (população e formandos) em cobaias. Isso não é aceitável sequer para veterinária, que merece igual respeito.

A existência deste cenário (que inclui o corpo docente constituído por médicos com formação para tal) torna-o elegível para estágio nos programas de residência médica já existentes (alguns até já o tem), sem ter de prolongar a formação de médicos (o mais longo de todos os cursos de nível superior) para exercer a medicina com autonomia, competência e dignidade.

Este estágio propicia uma vivência de cidadania que prepara os jovens futuros médicos para o atendimento humanizado das mais diversas demandas da população carente, incentivando a compaixão, a empatia, sensibilizando-os quanto aos reais problemas do país e, sejamos otimistas, com propostas concretas para soluções.

Está na hora do governo procurar ouvir quem tem propostas viáveis a apresentar. As entidades médicas* jamais deixaram de se disponibilizar para apresentá-las.

Basta de propostas eleitoreiras. Basta de “atirar para todos os lados” para ver se algum “tiro”, por casualidade, atinge algum “alvo” viável.

Definitivamente, Brasília fica na Ilha da Fantasia e no País do faz de conta!

Dr. Mário Roberto Hirschheimer
Presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

*Entre elas, a Comissão Nacional de Residência Médica, constituída por Representantes do Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, Conselho Federal de Medicina, Associação Brasileira de Educação Médica, Associação Médica Brasileira, Associação Nacional de Médicos Residentes, Federação Nacional de Médicos, Federação Brasileira de Academias de Medicina

 Texto divulgado em 10/07/2013.