As tecnologias e o desenvolvimento das crianças

As tecnologias e o desenvolvimento das crianças

Uma das coisas mais fascinantes na Pediatria é acompanhar o desenvolvimento de uma criança. E quando se trata dos primeiros três anos de vida, o que chama mais atenção é a velocidade com que as mudanças ocorrem e o impacto que isso gera na própria criança e na família. Sorrir, segurar objetos, sentar, engatinhar, andar, falar, reconhecer animais e cores são apenas alguns exemplos de conquistas que representam que as coisas estão indo bem.

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Mas, de todas as habilidades que uma criança desenvolve, as que mais deixam marcas, as inesquecíveis, são aquelas que envolvem interação: ganhar um sorriso, trocar olhares, falar por “infinitos” minutos com um bebê, conseguir acalmá-lo, fazê-lo aceitar novos alimentos (sim, isso representa um grande passo do desenvolvimento), ganhar beijo, ouvir pela primeira vez “mama” ou “papa”, superar medos…

Entre estimulação e interação, via de regra, fique sempre com a segunda opção

Aí que entra a questão dos aparelhos tecnológicos. Na grande maioria das vezes, quando são oferecidos aos bebês, é para distraí-los para podermos fazer alguma coisa. Assim, liga-se alguma coisa para desligar alguém.

E, se tem algo que vai contra a natureza do desenvolvimento de bebês, é deixá-los quietinhos, parados, “imobilizados”. Enquanto uma criança está atenta a uma tela, por exemplo, sua atividade motora está em stand by. Nos primeiros dois anos de vida ocorre grande parte do desenvolvimento sensorial, responsável pela comunicação entre os sentidos: olfato, visão, tato, paladar e audição. Ativa-se, dessa forma, uma série de “redes” neuronais que serão usadas durante a vida da criança. Isso servirá de base para o desenvolvimento da linguagem e cognição que irão se expressar mais adiante. Quando não ocorre essa ativação, acredita-se gerar uma limitação para capacidades futuras.

Ensinando pelo exemplo

Outro ponto fundamental nessa discussão é o exemplo. Crianças aprendem muito por imitação. Se queremos que nossos filhos e filhas se interessem em se relacionar, em brincar, não podemos chegar em casa, após um dia inteiro de trabalho, e passar boa parte do tempo na frente de nossas telas, pois as crianças vão crescer com esse referencial. Em alguns momentos, quando estamos em casa, temos que nos “desligar” do mundo virtual, fazer refeições sem celulares (isso serve para adultos e crianças), permanecer em off quando colocamos nossos filhos e filhas para dormir; enfim, ensinar por meio do exemplo.

Sei que é difícil e que é um dos desafios dos novos (nossos) tempos. Mas, querer que crianças tenham um bom desenvolvimento, enquanto crescem na frente de celulares e tablets desde bebês, com familiares fazendo o mesmo e delegando a terceiros sua “estimulação”, uma coisa eu posso garantir: essa conta não fecha!

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Relator:
Dr. Fernando Lamano
Grupo de Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP

Publicado em 3/10/2019