Artrite idiopática juvenil

O que é?
A artrite idiopática juvenil (AIJ), anteriormente conhecida como artrite reumatóide juvenil, é um conjunto de doenças inflamatórias crônicas que acomete as articulações de crianças e adolescentes antes dos 16 anos de idade, de causa desconhecida. Ocorre uma inflamação da fina membrana que reveste internamente as articulações (sinóvia), que se espessa e secreta líquido dentro da cavidade articular. Como resultado vai ocorrer inchaço, dor e limitação da movimentação articular. Pode-se notar ainda dificuldade na movimentação ao acordar (rigidez matinal) ou após longos períodos em repouso. A dor articular às vezes é mínima. Para evitar a dor, os pacientes tendem a manter as articulações em posição semifletida, podendo evoluir para atrofias musculares e deformidades, se não forem diagnosticados e tratados adequadamente. Várias outras doenças, como por exemplo, as infecções devem ser pesquisadas e descartadas, uma vez que a artrite é uma manifestação comum em várias doenças não reumáticas.

Qual a causa da doença?
A AIJ é considerada doença auto-imune, isto é, o sistema imunológico responsável pela defesa do organismo, por um erro passa a atacar o próprio corpo, como por exemplo, os componentes das articulações. Os mecanismos precisos desse desarranjo são desconhecidos.

É doença hereditária?
Não é doença de transmissão hereditária, isto é, que passa dos pais para os filhos, embora algumas famílias tenham maior tendência a ter doenças auto-imunes.

É doença freqüente?
A incidência da AIJ no Brasil é desconhecida. Nos Estados Unidos e Europa cerca de 0,1 a 1 em cada 1000 crianças tem essa doença.

Quais os tipos mais comuns de AIJ?
Existem três tipos mais comuns de apresentação da doença, que podem ser diferenciadas entre si principalmente pelo número de articulações envolvidas e presença ou ausência de acometimento em outros órgãos, nos primeiros 6 meses da doença.

  • AIJ Sistêmica: além da artrite, tem como característica principal a presença de febre muito alta (acima de 39º C) que vai e volta por um tempo prolongado em 100% dos casos, e freqüentemente acompanhada de manchas róseas na pele, que tendem a aparecer com a febre e desaparecer quando a temperatura normaliza. Pode ocorrer aumento dos gânglios (ínguas), fígado e baço, além de dores musculares. Mais raramente, o saco que envolve o coração (pericárdio) e a pleura podem estar inflamados. Às vezes, no início do quadro, não aparece artrite, tendo que ser diferenciada de outras doenças febris, principalmente infecciosas. É responsável por 10 a 20% dos casos de AIJ.
  • AIJ Poliarticular: quando mais de cinco articulações são atingidas de maneira simétrica nos primeiros 6 meses da doença, como pés, tornozelos, joelhos, mãos, pescoço, etc. Pode ser subdividida de acordo com a presença de um exame conhecido como fator reumatóide. Aqueles com fator reumatóide (FR) positivo são os mais raros (5% dos casos) e apresentam quadro muito semelhante à artrite reumatóide do adulto, acometendo, em geral, meninas após 10 anos de idade. É de evolução mais grave necessitando de tratamento intenso e agressivo desde o início. Os pacientes com FR negativo constituem 15 a 20 % de todos os casos de AIJ, podendo ocorrer em qualquer idade e com evolução muito variável.
  • AIJ oligoarticular: é o tipo mais freqüente, correspondendo a cerca de metade dos casos de AIJ e caracterizada pela presença de artrite que atinge até 4 articulações, geralmente joelho e/ou tornozelo. As meninas entre o 1º e 4º ano de vida são as mais afetadas. Uma complicação importante desta forma é o acometimento ocular, chamada de uveíte anterior crônica, geralmente com pouco ou nenhum sintoma e que se não for tratada adequadamente pode levar até à cegueira. Por esse motivo, um oftalmologista deve ser consultado periodicamente (cada 3 a 4 meses nos primeiros anos) para examinar os olhos com um aparelho com lâmpada de fenda, mesmo sem queixa ocular, para verificar se a inflamação está ou não presente, instituindo tratamento precoce e evitando seqüelas futuras.

Qual o tratamento?
O objetivo do tratamento é prevenir as lesões nas articulações ou em outros órgãos e permitir que a criança volte a levar uma vida normal. Não existe medicação específica que cure a AIJ, porém poderá ocorrer uma remissão espontânea após um período de tempo variável e imprevisível. É baseado em medicamentos que diminuem a inflamação e medidas de reabilitação para impedir a deformidade articular. O início do tratamento deve ser precoce, pois nos casos de demora podem ocorrer deformidades e limitações irreversíveis. Cada tipo de AIJ tem um tratamento específico, variando de um paciente para outro, de acordo com as manifestações clínicas.

Diversas medicações podem ser utilizadas para diminuir dor e sintomas e controlar a doença, entre eles:

  • Antiinflamatórios não hormonais: estes medicamentos como a aspirina, naproxeno ou ibuprofeno, auxiliam na redução da dor e inflamação.
  • Medicamentos anti-reumáticos modificadores de doença: podem alterar o curso da doença, desacelerando sua progressão e influenciando ou corrigindo as alterações do sistema imune ligadas à doença. Exemplo: metrotexate, sulfassalazina, ciclosporina.
  • Biológicos: considerados uma nova forma de terapia direcionada para inibir fatores biológicos inflamatórios. Exemplo: inibidores do TNF.

 

Relatores:
Dra. Silvana B. Sacchetti – Presidente do Departamento de Reumatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo – gestão 2007-2009, Professora do Departamento de Pediatria e Puericultura da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, SP.

Dr. Roberto Marini – Vice-presidente do Departamento de Reumatologia da SPSP – gestão 2007-2009; Professor assistente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP.  

Dra. Maria Teresa Terreri – Secretária do Departamento de Reumatologia da SPSP – gestão 2007-2009; Professora Afiliada do Departamento de Pediatria da UNIFESP, São Paulo, SP.

 

Texto recebido em 3/6/2008.