Apraxia da fala na infância

Apraxia da fala na infância

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 13/05/2022


A principal manifestação da apraxia é a dificuldade em emitir os sons da fala – há uma alteração cerebral que impede ou dificulta o planejamento para a produção motora. Antes de movimentarmos efetivamente nossos músculos, deve ser feito um planejamento motor: quais músculos devem ser contraídos, quais relaxados, em que sequência e em que velocidade. Praxia é esse planejamento; contudo, na apraxia há uma falha nesse planejamento, podendo afetar qualquer movimento corporal, apenas os movimentos orais globalmente ou apenas aqueles envolvidos na produção da fala. Crianças com apraxia podem ter dificuldade apenas para produção da fala ou em todos os movimentos orais e até mesmo corporais.

Pode ser congênita, ou seja, uma alteração que já está presente desde o nascimento, porém sua manifestação irá ocorrer quando iniciar a fala. Também pode ser adquirida após uma doença infecciosa ou inflamatória, um trauma ou acidente vascular cerebral.

O diagnóstico da apraxia é clínico, no qual avalia-se a movimentação dos órgãos fonoarticulatórios durante a tentativa de emissão da fala. Não há um marcador biológico, isto é, não existe uma alteração em algum exame que seja específica desta condição. Os profissionais que têm formação em distúrbios da comunicação, como foniatras (área de atuação da Otorrinolaringologia), neurologistas e fonoaudiólogos, podem realizar este diagnóstico.

O tratamento é realizado com terapia fonoaudiológica, com ênfase no treinamento motor, aliado ao desenvolvimento da linguagem. O terapeuta ocupacional trata as apraxias corporais e o fonoaudiólogo a apraxia oral e, especificamente, a apraxia da fala. Em alguns casos, a melhora não é suficiente para que a fala possa ser utilizada como comunicação e técnicas de comunicação aumentativa (são vários métodos de comunicação que podem ajudar as pessoas que são incapazes de usar o discurso verbal para se comunicar) devem ser introduzidas. É muito importante que a criança tenha recursos para se comunicar e isto envolve mais do que a fala de forma exclusiva.

O envolvimento da família é fundamental no tratamento da criança com apraxia da fala. O primeiro passo é entender que não é uma simples falta de habilidade ou de vontade, há uma dificuldade real e desafiadora. Deve-se encarar com calma e naturalidade as tentativas de produção da fala da criança, manter um ambiente calmo e acolhedor, para que a criança perceba que o problema não é ela, que a alteração de fala não a torna menos inteligente ou com menor valor. Ainda, permitir que ela utilize outras formas de comunicação (gestual, pranchas de comunicação) enquanto a fala estiver difícil.

A ausência ou alteração da produção da fala pode dar a impressão de que essas crianças têm algum problema cognitivo, porém elas conseguem compreender muito mais do que conseguem expressar.

Relatora:
Sulene Pirana
Otorrinolaringologista e foniatra com área de atuação em Medicina do Sono.
Membro do Departamento de Desenvolvimento e Aprendizagem da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: igor vetushko.jpg | depositphotos.com