O tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) de 2020, proposto pela WABA (World Alliance for Breastfeeding Action), não poderia ser mais oportuno. Se nós podemos tirar alguma lição dessa pandemia é o alerta para o cuidado do planeta e pela parte que cabe a cada um e a todos nós.
Somos profissionais de saúde, somos médicos, somos pediatras. O presente e o futuro do planeta podem passar por nossas mãos. O zelo pelo ser humano, desde até antes de sua concepção, é nosso compromisso. Somos protagonistas desse “cuidar”.
Todos conhecem a importância e os benefícios do leite materno e da amamentação. A recomendação não mudou: desde a sala de parto, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, complementado, a partir daí, com alimentação saudável até dois anos ou mais.
Em algumas situações, quando o aleitamento materno não for possível ou não for a escolha da mãe, o uso de substitutos do leite materno (SLM) deve seguir como uma prescrição do pediatra, com todas as orientações que deveriam constar da bula (rótulo): composição, indicações, efeitos colaterais, contraindicações para consumo seguro e eficaz. “A indústria responsável pelo medicamento tem obrigação legal de prestar todas as informações necessárias para o uso adequado e os possíveis problemas e cuidados relacionados ao produto” (ANVISA).
Além disso, e falando ainda sobre alimentação, o Ministério da Saúde publicou em novembro de 2019 o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos e recomenda, muito fortemente, o aleitamento materno e não oferecer alimentos ultraprocessados:
“Leite materno faz bem à saúde da criança e ao planeta
A amamentação contribui efetivamente para a sustentabilidade ambiental e segurança alimentar e nutricional. O leite materno é um alimento natural, não industrializado, produzido e fornecido sem poluição e sem prejuízos aos recursos naturais. Dispensa a produção leiteira animal, reduzindo seu impacto na natureza, evitando resíduos que contribuem para a emissão de gás metano, com resultado direto no efeito estufa. Reduz a produção industrial de fórmulas lácteas e toda uma cadeia de produtos geradores de detritos, como toneladas de latas, plásticos e rótulos.”
“Os alimentos ultraprocessados não devem ser oferecidos à criança e devem ser evitados pelos adultos. São produzidos pela indústria por meio de várias técnicas e etapas de processamento e levam muitos ingredientes, como sal, açúcar, óleos, gorduras e aditivos alimentares (corantes artificiais, conservantes, adoçantes, aromatizantes, realçadores de sabor, entre outros, não utilizados em casa).”
Parecem suco, cereal, carne, leite… mas não são. São refrigerantes, barras de cereais, iogurte com sabores e tipo petit suisse, compostos lácteos formulados pela indústria para serem gostosos, terem consumo frequente e até mesmo criar dependência.
Cuidamos do planeta quando cuidamos de todos que vivem nele. Cuidamos dos idosos quando cuidamos das crianças. E protegemos o meio ambiente quando temos consciência.
Nossa responsabilidade é passar essas informações cientificamente comprovadas a essa “geração que está se formando agora”. Pais de primeira (e qualquer) viagem, avós (tragam à consulta), profissionais de saúde, especialmente pediatras (experientes ou os que estão em formação profissional), mídia (desde jornais, TV até as redes sociais).
Mas, só o aleitamento materno não faz o planeta saudável. Temos que fazer mais. Certamente o leite humano contribui com o melhor começo da vida da nova mãe, da criança, do meio ambiente e do planeta.
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Relator:
Dr. Moises Chencinski
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Editor do blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo