SUSPEIÇÃO DE INGESTÃO/ASPIRAÇÃO DE CORPO ESTRANHO DIANTE DE QUADRO RESPIRATÓRIO AGUDO NO PRONTO ATENDIMENTO

Introdução

A ingestão de corpos estranhos é prevalente na população pediátrica, entretanto subdiagnosticada. A maioria dos casos somente é suspeitada quando presenciada, muitos são assintomáticos ou apresentam sintomas inespecíficos, como febre, tosse, sialorreia e disfagia. Por isso, torna-se importante o alto nível de suspeição desta condição no contexto de urgência e emergência.

Descrição do caso

P.M.L.C., 17 anos, masculino, com paralisia cerebral devido a hidrocefalia congênita, gastrostomia com fundoplicatura aos 2 meses. Comparece ao Pronto Atendimento apresentando febre e tosse seca há 72 horas. Evidenciado ao exame físico redução da ausculta respiratória. Realizado rastreio infeccioso, RT-PCR para Covid-19 positivo e radiografia de torax, a qual evidenciou imagem nodular radiodensa em região retrocardíaca. Aventadas hipóteses de tuberculose, devido a passado de quimioprofilaxia, linfonodomegalia mediastinal, aspiração de corpo estranho, apesar de relato materno de alimentação exclusiva via gastrostomia. Realizada tomografia computadorizada de tórax para extensão de propedêutica, evidenciada presença de consolidação em lobo inferior esquerdo e lobo superior, além de acentuada dilatação do esôfago distal, de 2,6cmx1,3cm. Realizada endoscopia digestiva alta, com presença de corpo estranho de consistência endurecida, medindo 3cm no maior diâmetro, em terço distal do esôfago, compatível com pipoca industrializada. Paciente evoluiu com melhora do quadro clínico e orientado acompanhamento ambulatorial.

Discussão
Sintomas respiratórios são comuns em pronto atendimento pediátrico e demandam alta suspeição clínica para se pensar em diagnóticos diferenciais, como a ingestão ou aspiração de corpo estranho. Exames de imagem podem auxiliar na elucidação diagnóstica e devem ser analisados de maneira sistemática, reduzindo o risco de complicações como perfuração, obstrução e hemorragia.
Conclusão
Diante de queixas comuns em pronto atendimento, é fundamental o raciocínio clínico ampliado para que agravos de maior risco não evoluam para suas principais complicações.