SÍNDROME DE RAPUNZEL: UMA INTERSECÇÃO ENTRE PSIQUIATRIA E CIRURGIA PEDIÁTRICA.

INTRODUÇÃO: Tricobezoares são corpos estranhos no trato digestivo, formados pela ingestão de cabelos ou pêlos, usualmente encontrados no estômago, mais comumente em mulheres. Quando sua extensão ultrapassa o piloro, é denominado de Síndrome de Rapunzel. DESCRIÇÃO DO CASO: Menina de 10 anos admitida em hospital com cólica intermitente de moderada intensidade, associada a melena e hematêmese há 30 dias. Encontrava-se hipocorada com abdome flácido, doloroso à palpação, sem sinais de peritonite e Blumberg negativo, com presença de massa palpável, móvel, ocupando a região epigástrica até a cicatriz umbilical. Negou ingesta de cabelos ou outro material, sem indícios de distúrbios psicológicos. USG de abdome total revelou lesão calcificada na parede gástrica anterior e TC contrastada de abdome evidenciou significativa distensão gástrica e presença de líquido livre na pelve. Mediante suspeita de bezoar gástrico, foi encaminhada à laparotomia exploratória, com realização de de gastrotomia anterior e remoção de um tricobezoar de 22cm, preenchendo todo o estômago e parte inicial do duodeno. Paciente apresentou boa evolução no pós-operatório, tendo sido orientado o acompanhamento psiquiátrico. DISCUSSÃO: A Síndrome de Rapunzel é fortemente associada à tricotomia e tricotilofagia, além de outras desordens psiquiátricas, nem sempre facilmente identificáveis no contato inicial com o paciente pediátrico. Essa associação implica na necessidade de acompanhamento psiquiátrico após a resolução do quadro agudo, a fim de tratar efetivamente a etiologia do mesmo, prevenindo a reinstalação do quadro. CONCLUSÃO: Demonstra-se a importância do diagnóstico e tratamento clínico da tricotilofagia pediátrica, não só devido ao quadro em si, como por gerar complicações que podem ser fatais ao infante. Considerando-se que os tricobezoares com evolução cirúrgica são epidemiologicamente relevantes já a partir da adolescência, é necessário tratar com maior seriedade indícios de transtornos psiquiátricos em crianças pelo pediatra, a nível ambulatorial, a fim de promover um tratamento adequado dos pacientes e evitar complicações graves.