Introdução
A intoxicação por organofosforados constitui relevante causa de atendimento em emergências pediátricas, com incidência considerável. De acordo com o último levantamento do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), em 2017, mais de 900 casos de intoxicação pediátrica por agrotóxicos foram notificados.
Descrição do Caso
R.F.B, 11 anos, previamente hígido, admitido em uma emergência pediátrica com quadro de fraqueza, dor e parestesia em membros inferiores, associado a vômitos e diarreia intermitentes há um mês e evoluindo com fraqueza em membros superiores uma semana antes da admissão. Na anamnese inicial, a mãe desconhecia contato com substâncias. Ao exame físico apresentava força grau 4 nos quatro membros. Iniciou-se investigação com exames laboratoriais, punção lombar e ultrassonografia abdominal. CKMB elevada foi a única alteração. Prosseguiu-se com eletroneuromiografia, que evidenciou polineuropatia motora axonal de evolução aguda. Devido a suspeita de etiologia tóxico-metabólica, a genitora foi novamente questionada sobre exposição a fármacos, quando referiu que a criança estava em uma fazenda antes do início dos sintomas, onde teve contato com pesticida (fenthione), um organofosforado.
Discussão
Os organofosforados inibem irreversivelmente as esterases, sobretudo a acetilcolinesterase (AChE), enzima responsável pela degradação da acetilcolina. O seu acúmulo nas fendas sinápticas pode gerar elevado grau de toxicidade. O quadro clínico é variável de acordo com a via, tempo e quantidade da substância envolvida na exposição. Estudos revelam que poucas horas após o contato, os pacientes podem apresentar fraqueza, paralisia muscular proximal dos membros, diminuição dos reflexos profundos e, em casos mais graves, comprometimento da musculatura respiratória. O desaparecimento do quadro pode levar de horas a semanas.
Conclusão
Diante do exposto, observa-se a necessidade de suspeição e reconhecimento dos indivíduos acometidos por essa condição, para que possam receber o suporte adequado. Ademais, é imprescindível a conscientização de que essas substâncias precisam ter uso restrito, não devendo estar ao alcance de crianças.