RELATO DE CASO: LESÃO AXONAL DIFUSA SECUNDÁRIA AO TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO – UM PROGNÓSTICO FAVORÁVEL

O trauma cranioencefálico (TCE) é a principal causa de morte em crianças maiores de 5 anos, sendo que na presença da lesão axonal difusa (LAD) o prognóstico e evolução são, frequentemente, desfavoráveis quando associadas a um Glasgow menor que 8. Nesse relato, apresenta-se um paciente masculino de nove anos trazido ao serviço de emergência após acidente automobilístico com ejeção que apresentou fraturas dos ossos frontal, temporal e parietal, além de áreas de contusão e hematoma subgaleal fronto-temporal à direita de 4mm de espessura. À entrada, estava com Glasgow 5 e necessitou de intervenção cirúrgica, permanecendo entubado por 8 dias. Apresentou melhora progressiva registrando Glasgow de 8 no décimo terceiro dia após o acidente com anisocoria/midríase pupilar direita e força muscular grau 3 em membro superior esquerdo e grau 4 nos demais grupos musculares. Estava em uso de sonda orogástrica para aporte nutricional, afônico e acamado. Após 41 dias, atingiu Glasgow 15 mantendo apenas uma amplitude dos movimentos levemente reduzida, atrofia muscular global e perda de força, hipertonia de membro superior direito. Recebeu alta após 1 mês de internação na enfermaria sem prejuízos cognitivos evidentes. A LAD é causada por forças de aceleração-desaceleração que causam cisalhamento axonal e micro hemorragias na junção entre a substância branca e cinzenta no córtex. A evolução do paciente em questão foi excepcional, pois a LAD é considerada um dos fatores mais importantes para determinação da morbi-mortalidade nas vítimas de TCE. Evidencia-se que as principais sequelas da LAD afetam o comprometimento motor, pois lesa estruturas inter-hemisféricas, e as funções cognitivas, podendo afetar o lobo frontal e áreas de transição subcorticais. Portanto, destacam-se a associação de múltiplos fatores que resultaram na evolução favorável do paciente como a intervenção cirúrgica rápida, a intervenção medicamentosa precisa, a ação da equipe interdisciplinar, o apoio familiar e neuroplasticidade do cérebro infantil.